Em mais um dia de chuva, Rio Formoso fica turvo e situação preocupa biólogos
Além do volume de chuvas nos últimos dias, desmatamento também prejudica rio, famoso por ser cristalino
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Depois de mais um dia de chuva, as águas do Rio Formoso, em Bonito, a 257 quilômetros de Campo Grande voltaram a ficar turvas, comprometendo a atividade turística e preocupando biólogos, por conta da frequência do problema e as consequências para o ecossistema.
Entre os problemas listados, está o desmatamento na beira do rio, que tem contribuído para o turvamento. Vídeo enviado ao Campo Grande News mostra a elevação do nível das águas, ontem (10). Nas imagens, novamente as águas estão escuras, em decorrência da chuvas, que registraram 105 milímetros na região nos últimos dois dias.
A turbidez é causada por partículas sólidas em suspensão, como argila e matéria orgânica. Por dentro dos rios, a impressão que se está passando por “nuvens” de poeira. Esses sedimentos são levados até o rio pela chuva.
O fenômeno acaba comprometendo a estrutura turística da cidade, já que prejudica um dos principais atrativos: a transparência do rio, famoso pelas águas cristalinas.
Conforme a bióloga e representante do Conselho Regional de Biologia, Ana Cláudia de Almeida, a situação é bastante preocupante. “Com a chuva, desce o sedimento e pode alterar as comunidades biológicas do rio e das margens”.
Ana fala ainda sobre o turismo e as águas cristalinas que atraem os visitantes. “Os turistas vêm para ver as belezas cênicas e não tem água cristalina, acaba sendo decepcionante e rejeitando toda cadeia do turismo. Se isso fica frequente, acaba afetando toda a população que depende do turismo”.
A paisagem muda e preocupa. A reportagem recebeu vídeo que mostra espuma no Rio Formoso. Em consulta a biólogos, a explicação é que, quando os rios aumentam muito em volume depois de um grande período de seca, que é o que ocorreu nos últimos três anos, material sai das margens para dentro do rio junto com sedimento. A chuva "lava" a superfície da bacia que está fora do rio. Se é resíduo de produto químico ou muita matéria orgânica, somente análise das águas poderá identificar.
Socorro - Yolanda Prantl Mangieri é turismóloga e microempresária, mora em Bonito e diz não saber mais a quem recorrer. Ela faz parte do coletivo Unidos Serra da Bodoquena e acompanha de perto, pelo menos nos últimos cinco anos, o que vem acontecendo com os rios. Diz que vê com preocupação a liberação de licenças ambientais para plantações de soja e milho na região.
Yolanda considera que o vilão da situação não é apenas o agronegócio. “A culpa é do desmatamento, sem curva de nível, empobrecimento do solo. O agro veio com tudo pra cá nos últimos cinco anos, mas o desmatamento também é demais, até no entorno do Parque Nacional tem desmatamento".
Segundo a bióloga, uma fazenda na beira do rio foi vendida e pelo menos 350 chácaras foram formadas no local. Mas, alguns proprietários não têm cumprido com a lei Paulo Corrêa, que determina 150 metros de distância do rio para o desmatamento.
Os drenos, canais usados para secar regiões alagadas e que transformam brejões em áreas de plantio, são usados pelos produtores rurais e também são alvo de crítica. O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) já protocolou pelo menos duas ações questionando a construção desses canais. Os procedimentos ainda estão em andamento.
Conforme a bióloga, 80% da população bonitense vive do ecoturismo. “O caminho que eu vejo é os vereadores se movimentarem com atrativos turísticos, prefeitura. É só reunião e nenhuma atitude. O que não pode ter mais é omissão e varrer para baixo do tapete".
Em entrevista anterior ao Campo Grande News, o prefeito Josmail Rodrigues (PSDB), disse que o município vai investir na elaboração de um “Plano Master de Drenagem”, para garantir a qualidade das águas fluviais do município.
A previsão é que o projeto técnico seja licitado no próximo mês, em parceria com o governo do Estado. Os recursos serão de fontes de financiamento internacional, voltados para conservação ambiental em territórios que possuem certificação em Carbono Neutro. O plano deve ter duração de 30 anos.