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Cidades

Fugindo da guerra, família libanesa chega a MS e precisa até de documentos

Irmãs de Mohamad não querem dar entrevista, principalmente para que as crianças não sejam expostas

Por Lucia Morel | 12/11/2024 16:26
Mohamad à frente junto às 12 pessoas de sua família que chegaram fugindo da guerra no Líbano. (Foto: Arquivo pessoal)
Mohamad à frente junto às 12 pessoas de sua família que chegaram fugindo da guerra no Líbano. (Foto: Arquivo pessoal)

“Se você falasse bom dia, elas choravam, elas gritavam e era um inferno. Elas só diziam que iam morrer. Falavam só que não sabiam se iam viver ou morrer, porque perto deles já tinham bombardeado várias vezes”. Depois de viverem pouco mais de um mês sob ataques de bombas, as irmãs de Mohamad Moussa Deghaiche Filho, de 45 anos, estão a salvo no Brasil.

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Mohamad Moussa Deghaiche Filho compartilha a angustiante experiência de sua família, que fugiu da guerra no Líbano e chegou ao Brasil em busca de segurança. Após meses de bombardeios incessantes, suas irmãs e seus filhos, totalizando 12 pessoas, foram repatriados por meio da Operação Raízes do Cedro. A situação financeira é crítica, com todos sem emprego e vivendo na casa da mãe, que é brasileira. Mohamad, um marceneiro, é o único a sustentar a família, enfrentando dificuldades para prover alimentos e itens básicos. Apesar do medo e da fragilidade emocional, ele expressa gratidão ao Brasil pela acolhida e apoio durante esse período difícil.

O relato dele que abre esta matéria é sobre as ligações telefônicas que ele fazia às duas depois de 23 de setembro, quando Israel atacou algumas cidades do Líbano para supostamente encontrar e matar líderes do grupo terrorista Hezbollah (Partido de Deus). As investidas permanecem com bombardeios diários e sem data para serem encerrados.

As duas não querem dar entrevista, principalmente para que as crianças não sejam expostas. Mas Mohamad decidiu falar e pedir ajuda, já que a condição delas, com maridos e filhos, está precária. Ao todo, são 12 pessoas, sendo as duas irmãs de Mohamad, os dois cunhados e oito sobrinhos entre 6 e 18 anos de idade. Todos sem emprego, sem economias e vivendo na casa de madeira da mãe, que é brasileira, na Vila Bandeirantes.

As duas famílias chegaram ao Brasil em 29 de outubro, no 9º voo da Operação Raízes do Cedro, do governo federal com apoio da Força Aérea Brasileira. Conforme Mohamad, elas não tinham condições financeiras nem mesmo de pagar o transporte entre a vila onde moravam - Al-Rafid,  no distrito de Rashaya, na área sudeste da província de Beqaa, no Líbano -  e Beirute, capital do país, de onde saem os voos para o Brasil.

“O que já não era bom, ficou pior com a guerra. Não tem emprego, não tem trabalho, não estão deixando nada em pé, estão bombardeando tudo”, relata. Antes dos ataques, os maridos das irmãs de Mohamad trabalhavam em uma fábrica de chips e como construtor autônomo, respectivamente.

Mohamad conta que foi com as irmãs morar no Líbano aos 12 anos de idade, quando seus pais se separaram. Ele ficou lá até 2013, onde aprendeu a ser marceneiro, e então voltou para o Brasil. As irmãs, por sua vez, permaneceram no país, mas já há alguns anos queria que elas viessem para cá. A mãe deles também desejava o mesmo. Mas as condições precárias impediam e, assim, iam seguindo a vida. Com os bombardeios, Mohamad conta que a situação ficou insustentável e a vinda foi inevitável.

Mohamad chora ao falar da família: "meus tesouros". (Foto: Juliano Almeida)
Mohamad chora ao falar da família: "meus tesouros". (Foto: Juliano Almeida)

Em Campo Grande, os familiares chegaram no dia 30 de outubro, de ônibus. “Eu não estava nem um pouco preparado quando falaram que iam vir para o Brasil. Eu fiquei sem dormir de noite, porque eu estava só com R$ 300 no bolso”. Um grande amigo advogado foi quem o ajudou a pagar o traslado, e ainda mais, com itens para casa, como cama e alimentos.

Atualmente, apenas Mohamad com seu trabalho de marcenaria, a Deghplan, mantém o sustento de todos. A mãe deles é aposentada e agora, com 12 pessoas em casa, faltam colchões, geladeira, fogões e, claro, alimentos. Todos ainda precisam de documentos e as crianças, de escola.

Muçulmanos, eles ainda não procuraram líderes aqui em Campo Grande e apenas o consulado está sabendo das necessidades. Os familiares dizem não querer ajuda no momento, principalmente por medo e vergonha. Segundo Mohamad, estão todos muito fragilizados e amedrontados ainda.

Agradecimento - Apesar disso, Mohamad fez festa quando recebeu sua família no Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, em 29 de outubro. "Meus tesouros", postou nas redes sociais. Além do amigo advogado que o ajudou “como um anjo”, ele também agradeceu o governo brasileiro e os militares pela ação de repatriação dos libaneses.

Em vídeo com um militar da Força Aérea, ele afirma emocionado que agradece o Brasil pelo cuidado com os libaneses e pela acolhida. “Tenho orgulho de ser brasileiro e representar essa pátria amada”, diz no vídeo. À reportagem, ele reforça ao questionar “que outro país está fazendo um trabalho como esse?”. Em árabe, ele também agradece a reportagem: “Shukran”.

Marceneiro, Mohamad nasceu no Brasil e aprendeu o ofício quando se mudou para o Líbano, com o pai. (Foto: Juliano Almeida)
Marceneiro, Mohamad nasceu no Brasil e aprendeu o ofício quando se mudou para o Líbano, com o pai. (Foto: Juliano Almeida)

Serviço - Quem puder ajudar as duas famílias libanesas pode entrar em contato com Mohamad pelo (67) 99954-5444.

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