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Cidades

“Gosto de matar”, disse serial killer em ataque dias após assassinar jovem de MS

Homens que sobreviveram a tentativas de asfixia narram como José Tiago Correia Soroka age

Anahi Zurutuza | 24/05/2021 10:49
Tiago Soroka em foto de arquivo do Tribunal de Justiça do Paraná (Foto: Ric Mais/Divulgação)
Tiago Soroka em foto de arquivo do Tribunal de Justiça do Paraná (Foto: Ric Mais/Divulgação)

Desde que foi divulgada a identificação e imagens do suspeito de matar três homossexuais no Sul do Brasil, surgem depoimentos de pessoas sobre o comportamento de José Tiago Correia Soroka, de 33 anos, apontado como o assassino do estudante sul-mato-grossense, Marcos Vinício Bozzana da Fonseca, de 25 anos. Aos poucos, a investigação ganha mais elementos para traçar o perfil do foragido, tratado pelas polícias como Paraná e de Santa Catarina como um serial killer.

Dois homens relatam ter sobrevivido a ataques de Tiago. Um deles foi à polícia e fez o reconhecimento oficial de seu agressor. O outro, deu entrevista para emissora de TV de Curitiba (PR). A mulher, com quem o suspeito morou até o início de 2021, também é uma das vítimas de tentativa de homicídio.

Muito articulado, sedutor, cortês, José Tiago usou Grindr, aplicativo de encontros voltados ao público LGBT+, para “pescar” suas últimas vítimas. Com nomes falsos, ele puxava papo com os homens até convencê-los de se conhecerem pessoalmente.

Conforme apurou reportagem da revista Piauí, um dos sobreviventes é arquiteto, morador do Bigorrilho, bairro de classe média em Curitiba. O “encontro” foi marcado para uma tarde de terça-feira. Eram 15h20 do dia 11 de maio quando a vítima abriu a porta de seu apartamento para “Ricardo”, o rapaz que havia conhecido através do aplicativo de encontros.

O visitante se apresentou educadamente, mas não usou meias palavras: perguntou o que o arquiteto gostava de fazer durante a relação sexual, pediu que ele tirasse a roupa e virasse de costas. Foi quando Tiago surpreendeu a vítima com o golpe do tipo mata-leão.

Conforme contou à Piauí, o sobrevivente chegou a pensar que se tratava de uma brincadeira advertiu que não gostava de sexo violento. Mas, o agressor continuou tentando asfixiá-lo e disse: “Eu sou o Coringa! Eu sou louco, gosto de matar”.

Só então, o arquiteto conseguiu se desvencilhar. Tiago fez menção de estar armado e obrigou que a vítima lhe entregasse celular e notebook. “Antes de fugir, cortou os fios do interfone e do telefone fixo do apartamento. O arquiteto correu para o apartamento de um vizinho e interfonou ao porteiro, pedindo que barrasse a saída do visitante. Era tarde: ‘Ricardo’ tinha acabado de deixar o prédio”, continua o relato publicado pela revista.

Polícias do Paraná e Santa Catarina procuram este homem (Foto: Polícia Civil do Paraná/Divulgação)
Polícias do Paraná e Santa Catarina procuram este homem (Foto: Polícia Civil do Paraná/Divulgação)

Segundo depoimento – Para a o Portal Ric Mais, outro jovem gay, hoje com 29 anos, relatou ter conhecido José Tiago há quatro anos. Os dois começaram a conversar em frente a um supermercado, também no Bairro Bigorilho, em Curitiba.

No mesmo dia, a vítima levou o rapaz para o seu apartamento. “Chegamos lá, começamos a ‘trocar uns pegas’ [sic]. Logo em seguida, ele subiu em cima de mim, tentou me imobilizar com as pernas. Colocou a mão no meu pescoço e apertou. Foi ‘onde’ eu falei que não curtia brutalidade. Ele disse que era só te***. Tentou me enforcar com as mãos”, relatou ao jornal paranaense.

O rapaz afirma que conseguiu se livrar da situação. “Meu último suspiro foi criar forças para tirar ele de cima do meu corpo. Consegui jogar ele de cima de mim. Esse maldito já tentou fazer algo comigo”.

Terceira vítima – A ex-mulher de Tiago foi ouvida pela DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa) de Curitiba. À Piauí, o delegado responsável pelas investigações no Paraná, Thiago Nóbrega, disse que ela morre de medo do ex-companheiro.

Os dois viveram juntos até o início deste ano, quando ele tentou matá-la pela segunda vez, com um mata-leão. Ela terminou o relacionamento, deu queixa e conseguiu medida protetiva. “Ele é descrito como de comportamento bastante instável. Amoroso, mas explosivo. De uma hora para outra, se transforma em outra pessoa. A ex-mulher morre de medo dele. Tem pavor”, disse o delegado.

Mais do perfil - Para a polícia, está cada vez mais claro que as intenções do suspeito não era roubar, mas matar. “Em todos os casos, as vítimas tinham carteira com dinheiro, joias, relógios, mas só foram levados o celular e o notebook, o que dá a entender que ele [o assassino] queria evitar qualquer forma de rastreamento. Ele tinha conhecimento em informática para isso. A gente tentou rastrear remotamente os aparelhos, mas o suspeito já havia entrado no equipamento e trocado as senhas”, comentou o delegado Marcelo Fernando Tescke para a reportagem da Piaiuí.

Pelo menos 30 pessoas já haviam sido ouvidas até a semana passada e outro detalhe que chamou a atenção da investigação foi extraído do depoimento da irmã. Ela se lembra vagamente que Soroka foi vítima de abuso sexual.

José Tiago nasceu em Palmas, município de 51 mil habitantes no Centro-Sul do Paraná, na divisa com Santa Catarina e passou a infância com os pais e a irmã. “Ela disse que tinha vagas lembranças de abusos, mas acredita que ele tenha ficado traumatizado, porque já passou por tratamentos psiquiátricos. Não se sabe se os crimes têm relação com esse trauma ou se ele sentia alguma aversão a homossexuais e por isso escolhia vítimas gays”, afirma o delegado Tiago Nóbrega.

Marcos Vinício em frente à PUC-PR, onde cursava Medicina até ser assasinado (Foto: Reprodução das redes sociais)
Marcos Vinício em frente à PUC-PR, onde cursava Medicina até ser assasinado (Foto: Reprodução das redes sociais)

Assassinatos em série – O sul-mato-grossense Marcos Vinício Bozzana da Fonseca, de 25 anos, estudava Medicina em Curitiba desde 2017. Ele foi morto no dia 4 de maio.

Para a polícia, o mesmo homem matou, também na capital paranaense, o enfermeiro David Levisio em 27 de abril, e em Abelardo da Luz (SC), em 16 de abril, o professor de geografia Robson Olivino Paim, de 36 anos.

A polícia investiga se um advogado, de 35 anos, encontrado morto na capital paranaense no dia 30 de abril foi vítima pelo mesmo criminoso.

“Pelo que a investigação nos aponta, o criminoso aparenta ser um psicopata. Pelos casos, pela mudança brusca de comportamento, a gente consegue enquadrá-lo como um serial killer. Tudo leva a crer que sejam crimes de ódio”, completou Nóbrega na entrevista à revista.

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