Há 15 anos sindicato reclama de falta de profissionais e materiais na Santa Casa
Técnicos de enfermagem dizem que atendem até 12 pacientes por plantão, o dobro do preconizado
A Santa Casa de Campo Grande nunca deixa de ser alvo de denúncias por parte de pacientes e funcionários. Há 15 anos, por exemplo, são formalizadas denúncias de falta de profissionais de enfermagem para atender a demanda do hospital.
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A Santa Casa de Campo Grande enfrenta denúncias de superlotação e condições precárias de trabalho. Funcionários relatam sobrecarga, com técnicos de enfermagem cuidando de mais pacientes do que o permitido por normas do Cofen. A falta de materiais básicos e condições inadequadas para descanso dos profissionais agravam a situação. O sindicato da categoria já notificou autoridades, mas a resposta do hospital é a falta de recursos. A situação persiste há anos, afetando tanto pacientes quanto trabalhadores.
Um técnico de enfermagem, que pediu para não ser identificado, relatou que o problema da superlotação, além de afetar os pacientes, também impacta os profissionais da unidade, que precisam atender mais pessoas do que o previsto pelo Coren (Conselho Regional de Enfermagem).
Segundo o técnico da Santa Casa, resolução nº 527/2016 do Conselho Federal da categoria, que estabelece parâmetros mínimos para dimensionamento da equipe não está sendo cumprida. Ele afirma que, frequentemente, técnicos e auxiliares cuidam de mais de 12 pacientes por plantão, enquanto o preconizado e de, no máximo, 6. No pronto-socorro da pediatria, por exemplo, apenas dois técnicos são responsáveis por atender de oito a dez crianças ao mesmo tempo.
Na ala adulta, o profissional relata já ter atendido mais de 10 pacientes em um único plantão.
Além disso, ele garante que a estrutura também compromete o desempenho. O repouso durante o período noturno é quase impossível, diz. Ele afirma que os técnicos e enfermeiros têm de descansar no chão, já que os quartos de descanso são destinados aos médicos.
“Eles não se importam com a falta de funcionários. Sabem que precisam contratar para não sobrecarregar a equipe, mas não fazem isso”, relata. Ele também denuncia que os banheiros dos funcionários são insalubres, apenas três elevadores funcionam, o que dificulta o transporte de pacientes, e que os acompanhantes de crianças não têm onde se acomodar devido à falta de leitos. “Estão deixando as crianças na sala de atendimento médico por causa da superlotação”, afirma.
Situação antiga - As denúncias não são recentes. De acordo com Lázaro Santana, presidente do Siems (Sindicato dos Trabalhadores nas Áreas de Enfermagem de Mato Grosso do Sul), a disputa por revisão do contrato da Santa Casa com o poder público já dura mais de 15 anos. Segundo ele, as reclamações por sobrecarga de trabalho aumentaram nos últimos três anos, especialmente por conta da superlotação.
Lázaro afirma que, além da falta de profissionais, o sindicato recebe denúncias sobre carência de materiais básicos, como cadeiras de rodas, cadeiras de banho, suportes para soro e lençóis para os leitos.
Em agosto de 2024, o sindicato encaminhou uma denúncia ao Coren, ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) e ao MPT (Ministério Público do Trabalho), alertando sobre a situação crítica no pronto-socorro da Santa Casa. O ofício relatava que tanto usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) quanto profissionais de saúde vinham se queixando das condições do hospital.
“As queixas de esgotamento físico e mental dos profissionais da instituição, exacerbadas pela superlotação, violam as normas constitucionais e trabalhistas que garantem as dignas condições de trabalho e saúde ocupacional. Em decorrência, tal esgotamento compromete a capacidade de prestação de assistência com qualidade, considerando o excesso de carga de trabalho e a pressão constante tornamo-nos mais suscetíveis a falhas, em contrariedade ao dever de proporcionar serviços de saúde seguros e eficazes”, diz o documento enviado ao MPT.
Na ocasião, o Coren realizou uma fiscalização e constatou que, no dia 5 de agosto, dois enfermeiros e oito técnicos eram responsáveis por 21 pacientes no período da tarde na UDC Crítica, enquanto na UDC Não Crítica Internação, 58 pacientes estavam sob os cuidados de dois enfermeiros e oito técnicos no mesmo turno. A situação se repetiu nos dias seguintes, em todos os períodos do dia.
Em resposta, a Santa Casa admitiu que houve superlotação entre os dias 5 e 9 de agosto, quando a fiscalização ocorreu. Informou ainda que o posto da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), que funcionava no pronto-socorro, havia sido desativado em junho do ano anterior e prestava apoio ao setor.
“É uma discussão que não é de agora. Falta de condições de trabalho, falta de material, o local é inapropriado para descanso, toda essa demanda nós já colocamos, não só notificando a Santa Casa, já notificamos o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Federal, referente às condições que o trabalhador tem que enfrentar para poder atender paciente, às vezes em macas, no chão, em cadeiras”, afirma o presidente do sindicato.
Segundo Lázaro, a resposta do hospital é sempre a mesma: não há recursos financeiros para as mudanças necessárias. “Tudo isso, esses levantamentos que a gente já fez, nós já passamos adiante para as autoridades, o que depende é que eles tomem a iniciativa e determinem que a empresa, o município, que uma vez contratualizados, toma as providências para poder atender a demanda do paciente e as necessidades do trabalhador”, finaliza.
A Santa Casa de Campo Grande foi procurada pela reportagem, mas não respondeu até a publicação desta matéria.
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