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Cidades

Líder de esquema para “apagar” restrições no Detran é procurado

David Cloky Hoffaman Chita é apontado como líder de grupo que lucrava com baixas indevidas no sistema do órgão

Por Jhefferson Gamarra | 01/07/2024 14:58
David Cloky Hoffaman Chita, apontado com o líder do esquema e que está foragido (Foto: Reprodução)
David Cloky Hoffaman Chita, apontado com o líder do esquema e que está foragido (Foto: Reprodução)

David Cloky Hoffaman Chita, despachante com vasto histórico criminal, está foragido após ser identificado como o líder de um esquema de fraudes no Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul). A operação chefiada pelo Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), envolvia servidores e despachantes que liberavam indevidamente restrições administrativas de veículos em troca de propinas.

O esquema foi descoberto após uma denúncia de um servidor do órgão que notou irregularidades em 29 liberações administrativas no sistema de informações do Detran. As liberações ocorreram em duas datas: 2 em 9 de fevereiro de 2024 e 27 em 15 de fevereiro de 2024. Todas foram associadas ao uso de seu login e senha, sendo que o servidor não estava no órgão ou realizou as ações nesses dias. Além disso, as liberações divergiam do padrão adotado pelo servidor, limitando-se a frases genéricas como "OK VISTORIA".

Com as suspeitas, foi instaurada uma investigação preliminar, que apontaram que as 27 liberações indevidas de 15 de fevereiro foram realizadas em um computador usado pela servidora comissionada Yasmin Osório Cabral. Ela havia pedido ajuda ao servidor para realizar uma consulta no sistema e acabou utilizando seu login e senha, que ficaram logados no computador.

Foi identificado que um dia antes da fraude (14 de fevereiro), os documentos dos veículos foram baixados por despachantes: 25 veículos por David Cloky Hoffaman Chita, 1 por Hudson Romero Sanches e Edilson Cunha, que pertenciam ao mesmo escritório despachante. No dia seguinte, David e Hudson tentaram acessar novamente os documentos veiculares, sugerindo uma conexão entre os despachantes e as baixas indevidas.

Conforme relatório da investigação policial, David, apontado com líder do esquema, mantinha um relacionamento amoroso extraconjugal e pagava Yasmin pelos serviços prestados. Ela recebeu um iPhone 15 Pro Max entregue em uma cesta dentro do Detran-MS, joias, eletrônicos como ar-condicionado e televisão, além de valores em dinheiro via Pix.

O esquema de fraude funcionava da seguinte maneira: os despachantes recebiam informações da servidora lotada no Detran-MS sobre caminhões com restrições administrativas, principalmente de caminhões com o 4º eixo pendente de legalização.

Eles então abordavam os proprietários dos veículos e cobravam R$ 10 mil pelo serviço de liberação da documentação. Yasmin acessava o sistema do Detran-MS usando o login de outro servidor para liberar as restrições dos veículos de forma ilegal. Além de David, os despachantes Hudson Romero Sanches e Edilson Cunha também acessavam os documentos dos veículos liberados irregularmente.

David Cloky coordenava as operações, apontava quais veículos deveriam ter as restrições removidas, captava clientes e distribuía os valores obtidos ilicitamente. Yasmin Osório Cabral, servidora que acessava clandestinamente o sistema, liberava as restrições e identificava veículos alvo. Hudson Romero Sanches era responsável por baixar os documentos já liberados e ajudar na seleção dos veículos alvo. Edilson Cunha Nogueira auxiliava David na tentativa de download de documentos, compartilhando escritório com ele.

Diante dos robustos indícios de organização criminosa voltada a exclusão indevida de dados e corrupção passiva foi determinada a preventiva de David Cloky Hoffaman Chita, líder do esquema criminoso e a suspensão do exercício de função pública para Yasmin Osório Cabral, David Cloky Hoffaman Chita, Hudson Romero Sanches e Edilson Cunha Nogueira. Além disso foram realizadas buscas nos endereços dos suspeitos e vistoria de equipamentos eletrônicos e quebra de sigilo de dados.

Conforme a investigação, o grupo teria conseguido liberar a documentação de pelo menos 29 veículos com restrições, lucrando cerca de R$ 290 mil. No entanto, a polícia identificou que a fraude envolveu mais de 200 veículos, principalmente caminhões com quatro eixos, antes da regulamentação sobre esses veículos.

Durante o cumprimento do mandado de prisão e busca e apreensão de documentos na casa do líder da quadrilha, os policiais não encontraram David e foram informados pelo enteado que ele teria viajado há cerca de dois meses com a esposa para o estado de São Paulo. Assim, o mandado de prisão não foi cumprido e ele está foragido.

Escritório despachante de David, durante cumprimento de busca e apreensão (Imagem: Reprodução)
Escritório despachante de David, durante cumprimento de busca e apreensão (Imagem: Reprodução)

David já responde por outras ações penais por fraudes no Detran-MS também com a participação de servidores. No entanto, a polícia conclui que as fraudes "são a própria essência das atuações de David. Muito mais do que apenas reiterar na conduta delitiva, mesmo respondendo a ações penais e sofrendo medidas cautelares, o investigado continua a se aperfeiçoar e a lucrar em cima de esquemas ilícitos".

Atendendo a determinação judicial, a servidora comissionada Yasmin Osórcio Cabral, servidora comissionada do Detran-MS, foi suspensa das funções pelo período de seis meses a contar a partir de 12 de junho de 2024. Além disso, os demais despachantes citados no esquema tiveram os credenciamentos com o Detran suspensos.

A reportagem não conseguiu o contato da defesa dos envolvidos na investigação. O espaço segue aberto para manifestações.

Envolvimento na Vostok - Em 2018, David Hoffamam foi investigado no âmbito da Operação Vostok, deflagrada pela Polícia Federal para apurar suposto pagamento de propina por parte da JBS em troca de incentivos fiscais em Mato Grosso do Sul.

Na planilha entregue na delação premiada à Operação Lava Jato, os irmãos Wesley e Joesley Batista, donos da JBS, relataram que o pagamento de propina teria ocorrido durante três governos diferentes. O esquema envolvia emissão de notas “frias”.

David Hoffamam é um dos sete réus no processo em andamento na 4ª Vara Criminal de Campo Grande, sobre suposto roubo de R$ 300 mil, em 27 de novembro de 2017.

Segundo denúncia do Ministério Público, o dinheiro seria usado para comprar o silêncio do corretor de gado José Ricargo Guitti Guímaro, o “Polaco”, que na época ameaçava fazer delação premiada para entregar o esquema envolvendo políticos e empresários.

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