Ofensiva contra ex-major Carvalho seguiu rastro de aviões que “caíram” em MS
Aeronave levava 466 kg de cocaína, enquanto 2º avião foi abandonado em Chapadão do Sul
A ofensiva da PF (Polícia Federal) contra organização criminosa liderada pelo ex-major Sergio Roberto de Carvalho, com base no Mato Grosso, seguiu o rastro de dois aviões que “caíram” em Mato Grosso do Sul.
Em agosto de 2021, aeronave Seneca, prefixo PR-IAA, foi abandonada em Chapadão do Sul após acidente na aterrissagem. No mês de março deste ano, outro Seneca, de prefixo PT-EET, foi apreendido em Campo Grande com 466 quilos de cocaína. O flagrante foi após a aeronave ser interceptada pela PF.
Na operação Catrapo, deflagrada na última quarta-feira (dia 6), chegou a ser pedida nova prisão de Rogério Blumenthal de Moraes, 59 anos, o narcopiloto preso com quase meia tonelada de cocaína em março, mas a Justiça decidiu que não era preciso decretar a prisão temporária.
De acordo com o juiz Jeferson Scneider, da 5ª Vara Federal Criminal de Mato Grosso, o pedido de prisão temporária não foi acolhido, mas ainda será analisada a solicitação de preventiva.
Preso em Campo Grande, Blumenthal afirmou, durante audiência de custódia, não saber que transportava droga e que acreditava ser um carregamento de peças de maquinário agrícola.
Mas ele já estava no radar da Polícia Federal, que obteve informação sobre o tráfico de drogas com a aeronave. O avião partiu de Minas Gerais, com previsão de voo para fazenda na região do Pantanal mato-grossense, próximo a Bolívia, tradicional fornecedor de cocaína. Então, em parceria com a FAB (Força Aérea Brasileira), o voo de retorno passou a ser monitorado.
“Por volta das 00:30h do dia 20/03/2022, a FAB interceptou o avião PTEET, iniciou-se a entrevista com o piloto, e, poucos minutos depois, foi ordenada a mudança de rota com pouso obrigatório no aeroporto de CAMPO GRANDE/MS”.
Para surpresa da investigação, Blumenthal ligou para o irmão 15 minutos antes do pouso. A chamada foi para combinar que versão seria dada aos policiais federais. O irmão do piloto foi servidor da Receita Federal até 2019.
Já a aeronave abandonada em Chapadão do Sul após problemas no pouso não levava cocaína, mas tinha alterações que revelavam sua atividade-fim: transportar drogas.
O laudo pericial apontou a presença de adaptações irregulares, como fiações improvisadas e aparente troca recente da plaqueta de identificação do motor, havendo relatos, ainda, de que o avião estava equipado com um mecanismo conhecido como “TIP TANK”, definido como uma técnica clandestina, irregular e insegura, amplamente utilizada no tráfico de drogas, que possibilita a ampliação da autonomia de voo por meio de tanque extra.
“A partir das investigações realizadas pelo Departamento de Polícia Federal, chegou-se à conclusão de que a aeronave SENECA, prefixo PR-IAA, também está vinculada ao grupo criminoso aqui apurado, supostamente liderado pelo investigado WAGNER GARCIA DE ABREU JÚNIOR e voltado à prática do tráfico ilícito de entorpecentes”, informa documento sobre a operação.
A aereonave foi apreendida pelo Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), que abriu investigação em MS.
Dono de empresa de manejo florestal no Amazonas, Wagner é apontado como responsável por financiar o tráfico, adquirir as aeronaves e contratar os narcopilotos.
De acordo com a PF, a atuação da organização criminosa incluía a compra da cocaína em países limítrofes (como a Bolívia), aquisição de aviões, clonagem dos prefixos das aeronaves, armazenagem da droga no Mato Grosso e exportação, principalmente para a Europa.
A Operação Catrapo cumpriu 28 mandados de busca e apreensão e 13 mandados de prisão temporária em Mato Grosso, São Paulo, Pará, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Amazonas, Paraná, Rondônia e Tocantins.
Narcopiloto – No processo por tráfico de drogas contra Rogério Blumenthal de Moraes, a aeronave foi avaliada em R$ 600 mil. A 5ª Vara Criminal de Campo Grande marcou audiência para 9 de agosto. O piloto está na Penitenciária Estadual Masculina de Regime Fechado da Gameleira II.
A defesa pede que ele responda ao processo em liberdade. As justificativas são que o preso é primário, tem 60 anos, convive com a companheira há 14 anos, fixou residência em Campo Grande, tem emprego fixo, além de trabalhar na cantina do presídio, com excelente comportamento.
Ex-major – Flagrado na a Hungria com documentos falsos, o ex-major Carvalho registra prisões desde 1997 por tráfico de cocaína e jogos de azar.
A expulsão da PM (Polícia Militar) só veio em 7 de março de 2018, mas ele ainda trava uma briga judicial com o governo de Mato Grosso do Sul para receber R$ 1,3 milhão de aposentadorias. Atualmente, o ex-oficial é conhecido como “Escobar brasileiro”.