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Cidades

Pedido de socorro em códigos e até apelo de criança com fome desafiam PMs do 190

Atendentes precisaram de jogo de cintura e sensibilidade para ouvir pedidos de ajuda na semana passada

Anahi Zurutuza e Gabrielle Tavares | 15/09/2022 06:15
Central de atendimento da Polícia Militar em Campo Grande. (Foto: Kísie Ainoã)
Central de atendimento da Polícia Militar em Campo Grande. (Foto: Kísie Ainoã)

Dentre as inúmeras ligações feitas ao 190 para denunciar crimes, a cada plantão, policiais militares treinados para ouvir atentamente aos pedidos de socorro se deparam com situações desafiadoras, que demandam mais do técnica, mas jogo de cintura e sensibilidade.

Não são incomuns relatos de partos conduzidos com a ajuda dos atendentes do 193 (número do Corpo de Bombeiros) e crianças engasgadas que são salvas pelas orientações repassadas pelos profissionais ao telefone, antes da chegada de ambulância, mas na semana passada, foram os PMs da emergência que tiveram de lidar com dois casos excepcionais: o da mulher que ligou pedindo dipirona para disfarçar denúncia de violência doméstica e o de uma criança que passava fome.

A vítima que estava refém do marido, sofrendo agressões, foi salva depois que o atendente, um cabo da PM, entendeu que a ligação para a “farmácia” era um pedido de ajuda e a família da criança recebeu uma cesta básica após os policiais que souberam do caso fazerem “vaquinha”.

Coronel Emerson de Almeida Vicente, comandante do Copom, em entrevista. (Foto: Kísie Ainoã)
Coronel Emerson de Almeida Vicente, comandante do Copom, em entrevista. (Foto: Kísie Ainoã)

De acordo com o coronel Emerson de Almeida Vicente, comandante do Copom (Centro de Operações da Polícia Militar), os pedidos de socorro policial disfarçados até são frequentes, mas é preciso cautela na divulgação, para não banalizar as situações e alertar agressores. “Resolvemos divulgar esse caso porque tivemos um final feliz. O agressor foi preso e a vítima nos ligou para agradecer”.

Segundo o comandante, dias depois, a mulher fez outra chamada ao 190 para dizer que foi muito bem atendida. “Ela disse que o policial teve muita sensibilidade em entender o problema dela e que só queria agradecer”.

O PM que atendeu a vítima de violência se sentiu realizado, segundo o chefe. “Mesmo que ele não tenha atendido a ocorrência no local, o papel dele foi fundamental para o bom desfecho”.

Conforme divulgado pela corporação, na tarde desta quarta-feira (14), ao ouvir a voz do PM, a mulher disse que precisava dipirona para entrega. O policial disse que havia um engano, ela insistiu e ele logo entendeu do que se tratava.

Para entender o grau de agressividade do marido, o PM elaborou questões cujas respostas eram em miligramas ou, por exemplo, “muito forte”, como quando alguém fala sobre remédio para dor com o balconista de farmácia. “Fez perguntas que pudessem ser respondidas com sim ou não e para entender a gravidade da situação, como se o agressor estava por perto, se estava armado, até conseguir o que precisava, que era o endereço dela”, detalhou o coronel Almeida.

Fome – Já a criança de 7 anos ligou fazendo apelo para matar a fome. Ela disse que ela e os irmãos passavam fome, mas não soube responder algumas das perguntas do policial e passou o telefone para o irmão. O PM queria saber se era um caso de abandono de incapaz, mas o mais velho explicou que a mãe havia saído para trabalhar e tentaria voltar com comida, mas que naquele momento, realmente, não havia alimentos em casa.

Não era caso de polícia, mas sensibilizado em resolver a emergência, o PM convocou os colegas para comprar uma cesta-básica, que foi entregue à família.

A fome é realidade, em Mato Grosso do Sul, para pelo menos 266 mil pessoas, revelou ontem uma pesquisa do Penssan (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional). O estudo também revelou que, no País, a fome atinge 1 a cada 3 casas brasileiras com crianças de até dez anos.

A ligação feita ao 190 da Capital é bem parecida com a recebida por policial de Belo Horizonte que ganhou repercussão nacional. No início do mês de agosto, para a emergência, um menino de 11 anos dizia estar passando fome com a mãe e os irmãos. Uma viatura foi enviada ao endereço em Santa Luzia, na região metropolitana de BH, e policiais constataram, então, não se tratar de um caso de maus-tratos, mas de miséria mesmo.

A mãe, de 46 anos, cozinhava fubá para alimentar os 6 filhos, que tomavam água com açúcar. Ela explicou que apesar de ser beneficiária do auxílio emergencial e recebe R$ 250 do pai das crianças, de vez em quando, o dinheiro não é suficiente para manter a casa.

Escute a gravação feita em Belo Horizonte:


*Nem as gravações das ligações feitas ao 190 de Campo Grande e nem as transcrições dos áudios foram divulgadas pela PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul), segundo a corporação, para resguardar o sigilo das vítimas. Detalhes ditos nos diálogos podem identificar os interlocutores.

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