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Cidades

Pesquisa mostra que setor imobiliário da Capital não atende demanda de consumo

Verticalização é inevitável e mercado quer fortalecer o adensamento demográfico na área central

Por Kamila Alcântara | 13/09/2024 18:54
Foto mostra um trecho da Avenida Afonso Pena e o Centro de Campo Grande (Foto: Osmar Veiga)
Foto mostra um trecho da Avenida Afonso Pena e o Centro de Campo Grande (Foto: Osmar Veiga)

Inédito em Mato Grosso do Sul, o primeiro Censo Imobiliário da construção, com dados do último trimestre de Campo Grande, foi apresentado pelo Sinduscon/MS (Sindicato Intermunicipal da Indústria da Construção de MS). Na primeira avaliação, exposta nesta sexta-feira (13), já é possível dizer que o setor está aquecido e a oferta de produtos não está sendo suficiente para atender a demanda de consumo.

Desenvolvida pela Brain Inteligência Estratégica, o estudo levou em consideração os empreendimentos lançados mais recentemente, como foram as vendas e perspectiva de compra de acordo com o crescimento populacional e questões econômicas desses potenciais compradores.

Com a projeção de aumento de moradores de 1% ao ano, a projeção é que até 2030 Campo Grande tenha mais de 57 mil novas pessoas. Domicílio, também na mesma projeção de crescimento, podem alcançar 43 mil novas habitações.

Quando voltamos para a situação registrada nos meses de abril, maio e junho, é possível dizer que os domicílios ocupados são 232,6 mil próprios; 72,4 mil alugados e quase 28 mil cedidos. Ou seja, o mercado está atento à necessidade de quase 30% dos habitantes da Capital que podem querer sair da condição de inquilinos. Outro ponto em destaque é que as famílias estão se “dividindo” com mais facilidade, pois 50,7% das casas são ocupadas por dois ou três moradores.

“Esses números mostram o grande desafios das incorporadoras na cidade. Se hoje tivesse mais dinheiro para construir casas do tipo Minha Casa Minha Vida, vendia tudo. Temos uma necessidade habitacional muito grande. São 72 mil famílias que vivem de aluguel, mesmo que a locação seja uma opção, com certeza grande parte dessas famílias desejam ter um imóvel próprio”, avalia Marcos Kahtalian, responsável pela elaboração da pesquisa.

Pesquisador Marcos Kahtalian, da Brain Inteligência Estratégica (Foto: Osmar Veiga)
Pesquisador Marcos Kahtalian, da Brain Inteligência Estratégica (Foto: Osmar Veiga)

Para exemplificar melhor essa necessidade, é importante olhar a situação da atual oferta recém-lançada em Campo Grande. São 79 empreendimentos imobiliários, sendo 55 deles verticais (prédios com apartamentos), um comercial e 23 horizontais (residências). Juntos, somam 13.592 unidades habitacionais, mas, desse total, menos de 2 mil estão disponíveis para uma oferta de compra final, o restante está comprado.

“O que podemos concluir, portanto, é que tem uma disponibilidade muito baixa para uma cidade que está compradora. A gente está mostrando com esse dado que, de fato, os consumidores da cidade estão comprando mais rápido que a velocidade de reposição de lançamento”, destaca Marcos.

Avaliação de quem é do setor - Para o presidente do Sinduscon/MS, Kleber Luiz Recalde, isso deixa claro a necessidade da verticalização da cidade, que vai impulsionar o adensamento demográfico na região do Centro. Porém, isso depende muito da estratégia de urbanização a ser aplicada pela gestão municipal.

Presidente do Sinduscon/MS, Kleber Luiz Recalde (Foto: Osmar Veiga)
Presidente do Sinduscon/MS, Kleber Luiz Recalde (Foto: Osmar Veiga)

“Nós somos um efeito das regras que regem o nosso município. Se eu pensar em lançar alguma coisa num determinado terreno, vou levar muitos anos para poder conseguir chegar nesse ponto de lançamento. Então, toda a influência da política pública, da economia, da insegurança jurídica, o plano diretor vai induzir para que rumos nós vamos seguir a cidade. São escolhas feitas pela sociedade que definiram o plano diretor. Eu vejo muita gente lutando contra a verticalização, mas isso é inexorável, nós estamos atingindo um milhão de habitantes, nós temos que repensar a cidade”, defende Kleber.

O representante do setor em Mato Grosso do Sul reforça a ideia de que trazer as pessoas para o Centro vai ajudar a solucionar muitos problemas estruturais, como o alto investimento para levar equipamentos públicos para as áreas periféricas.

“Temos que tornar cada o centro cada vez mais acessível, inclusive durante a noite. Acho que a gente tem que trazer pessoas para morarem no centro, de não só saírem dos bairros mais distantes para trabalharem aqui. Eu acho que há uma necessidade de fazer com que as pessoas morem no centro também”, opina.

Quem engrossou a mesma defesa foi o economista Celso Petrucci, que também é e presidente do Secovi/SP (Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação ou Administração de Imóveis Residenciais ou Comerciais do Estado de São Paulo). Ele representa o maior sindicato patronal do setor imobiliário da América Latina, com 93 mil empresas cadastradas.

Economista e presidente do Secovi/SP, Celso Petrucci (Foto: Osmar Veiga)
Economista e presidente do Secovi/SP, Celso Petrucci (Foto: Osmar Veiga)

“Lutar contra a verticalização mostra uma ignorância sem tamanho. Nós não somos a favor da verticalização, mas nós precisamos adensar a cidade onde existe infraestrutura de serviço. O que aconteceu em São Paulo é que todo mundo era contrário a fazer prédio, aí as pessoas foram se distanciando para as ‘franjas da cidade’. Só agora o Poder Público pensou que deveria concentrar o adensamento, onde você tem transporte, saúde, educação e cultura. Fomos expulsando todo mundo, isso chama-se gentrificação, nós fomos expulsando todo mundo de onde tinha as coisas boas”, expõe.

Mercado imobiliário no Brasil - Ao falar sobre o setor a nível nacional, Celso foi categórico ao dizer que “nós estamos no melhor ano do mercado imobiliário no país, vamos ter o segundo melhor ano de financiamento imobiliário no país, vamos chegar a 300 bilhões de reais de financiamento entre caderneta de poupança e fundo de garantia”.

Ele defende que as construções habitacionais são responsáveis pela maior parte dos empregos formais e movimenta mais de 100 setores, diretos e indiretos. A avaliação dele tem como base a mesma pesquisa feita em Campo Grande, mas em outras 221 cidades.

Região da Capital que mostra, em primeiro plano, imóveis do tipo horizontal e prédios ao fundo (Foto: Osmar Veiga)
Região da Capital que mostra, em primeiro plano, imóveis do tipo horizontal e prédios ao fundo (Foto: Osmar Veiga)

“Nosso mercado  influencia muito no crescimento do país. Ao falar do PIB (Produto Interno Bruto), dois terços do que é investimento acaba sendo na indústria da construção, é a aquisição de bens de capital e tudo o que é necessário para a indústria da construção. Só nas 221 cidades que nós consolidamos a nossa pesquisa, nós temos aí um movimento 149 mil lançadas. Nós construtoras não estamos conseguindo nem repor o estoque que é necessário”, termina.

Para consolidar o perfil do mercado imobiliário, o Sinduscon/MS vai realizar esse levantamento a cada três meses.

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