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Capital

Na cidade horizontal, medo é acordar com prédio ao lado de casa

Moradores puxam a campanha “Não aos espigões dentro do Carandá!”

Por Aline dos Santos | 27/06/2024 14:25
Terreno onde deve ser erguido prédio no Bairro Carandá Bosque. (Foto: Marcos Maluf)
Terreno onde deve ser erguido prédio no Bairro Carandá Bosque. (Foto: Marcos Maluf)

Cidade essencialmente horizontal, Campo Grande vive a maior onda de verticalização em seus 125 anos. Mas o progresso chega com efeitos colaterais: como o medo de ver surgir um “espigão” ao lado de casa. Afinal, edifícios envolvem ruídos durante a obra, aumentam o fluxo de veículos, interferem na privacidade e o paredão rouba até o sol, numa cidade onde somos habituados a avistar um largo horizonte, de “céu aberto”.

O temor coletivo já é realidade para Tânia Maria Rocha da Silva, 69 anos, que mora há mais de duas décadas no Bairro Carandá Bosque. Questionada sobre o que acha de ter um edifício em frente de casa, com acréscimo populacional calculado em 334 pessoas, a resposta vem direta. “Vai ser terrível”, diz a moradora.

Ela prossegue explicando a preocupação com o projeto. “Ele vai tapar o vento, o tráfego aqui vai ficar horrível para a gente sair da garagem. Não tem sentido. Todas as casas aqui no bairro ou é baixa ou é sobrado”, afirma Tânia.

“Vai ser terrível”, prevê Tânia sobre ter um prédio em frente de casa. (Foto: Marcos Maluf)
“Vai ser terrível”, prevê Tânia sobre ter um prédio em frente de casa. (Foto: Marcos Maluf)

Localizado na região urbana do Prosa, a que tem o metro quadrado mais caro de Campo Grande, o Carandá Bosque tem clima de cidade interiorana. Vizinhos param para se cumprimentar na rua e a atividade comercial fica concentrada na Rua Vitório Zeolla.

O impacto do edifício para a vizinhança, na confluência das ruas Peixe Vivo, Pedro Martins e Cigana, será debatido em audiência pública nesta quinta-feira, (dia 27), a partir das 18h, na Planurb (Agência Municipal de Meio Ambiente e Planejamento Urbano). O procedimento é uma exigência da administração municipal, diante dos impactos dessa modalidade de construção.

Com 2.582 m² (metros quadrados), o terreno, atualmente, está tomado pelo mato, enquanto a cerca serve para colocar faixas de divulgação de serviços.

 O empreendimento terá 102 unidades habitacionais, com área total de 11.375 m². Ao todo, serão 175 vagas para veículos, distribuídas pelo térreo e os dois pavimentos no subsolo.

Romilda Aparecida Pereira, 80 anos, já morou pertinho de prédio quando chegou a Campo Grande, na rua Arthur Jorge, Centro da Capital, mas há duas décadas foi para o Carandá Bosque em busca de um endereço com mais privacidade. Agora, se preocupa.

“Moro aqui há 22 anos, é uma tranquilidade. Quer dizer, até agora. É o progresso que está chegando. Mas esse prédio vai fazer sombra aqui tudinho, porque são 17 andares. Eu já ia colocar placa de energia solar, mas não vou mais por causa da sombra. Daqui, olho o final da tarde, olho a lua. E isso vai acabar”, diz Romilda, enquanto limpava a calçada de casa, cercada por flores. O cálculo dos moradores é que a torre tenha 60 metros de altura.

Primeiro estudo de impacto trouxe figura retangular para mostrar sombreamento de prédio. (Foto: Reprodução)
Primeiro estudo de impacto trouxe figura retangular para mostrar sombreamento de prédio. (Foto: Reprodução)

 Moradora de 48 anos, que pediu para não ter o nome divulgado, questiona o sombreamento que foi projetado para o prédio no EIV (Estudo de Impacto de Vizinhança). De fato, no primeiro estudo, constava somente um desenho como um pequeno caixote, definido pela moradora como “caixinha de sapato deitada”.

Num documento anexado depois, a reprodução já usa a figura de um edifício. Também foi consertada a parte que menciona a pavimentação, pois em vez de Carandá citava Tiradentes.

Nas contribuições para a audiência pública, enviadas à Planurb, os moradores apontam que a infraestrutura de drenagem já é insuficiente nas ruas próximas ao terreno, perda financeira porque as placas fotovoltaicas compradas não receberão sol, que a largura da Rua Peixe Vivo é de apenas 12 metros de largura (não comportando o novo fluxo de veículos) e o pedido é um só: “Não aos espigões dentro do Carandá!”.

Novo documento trouxe figura de prédio (em destaque feito pela reportagem) para simular sombreamento em dia de Outono. (Foto: Reprodução
Novo documento trouxe figura de prédio (em destaque feito pela reportagem) para simular sombreamento em dia de Outono. (Foto: Reprodução
Terreno no Bairro Carandá Bosque onde será erguido edifício. (Foto: Reprodução)
Terreno no Bairro Carandá Bosque onde será erguido edifício. (Foto: Reprodução)

No estudo, a empresa informa que na fase de ocupação do prédio haverá aumento de tráfego na região, principalmente no acesso principal que é a Rua Cigana.

Mas, a “implantação do empreendimento trará condições de crescimentos e incrementos sociais, além de contribuir para a expansão urbana, para o melhoramento da área de comércio e para a prestação de serviços, que irá proporcionar uma diferença qualitativa em resultados econômicos para o Município de Campo Grande e para a população no seu entorno”.

A reportagem não conseguiu contato com a Propexa Incorporadora Ltda nesta quinta-feira (dia 27).

Vertical - A chamada verticalização é permitida em todos os bairros de Campo Grande. Ou seja, a legislação permite prédios no Centro, nas Moreninhas, no Nova Lima. A lei permite, mas traz as exigências.

Quanto mais longe do Centro, maior o tamanho do terreno que vai receber a edificação. A determinação é por conta do espaçamento. No Centro, os edifícios podem ficar “grudados”. Contudo, quanto mais periférico, maior deve ser a distância do prédio de suas laterais. E quanto mais alto for o edifício, maior o recuo.

Folder de divulgação da audiência pública nesta 5ªfeira. (Foto: Reprodução)
Folder de divulgação da audiência pública nesta 5ªfeira. (Foto: Reprodução)

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