Onde prédios se multiplicam, casas viram escritórios e bairros se transformam
Perda de privacidade e congestionamento no trânsito espantam moradores, enquanto alguns tentam reparação
Novos condomínios de casas ou apartamentos intensificam o trânsito de veículos, tanto na região central de Campo Grande quanto nos bairros mais afastados. Além disso, as casas acabam perdendo a privacidade nos quintais. É por isso que placas de vende-se são cada vez mais comuns em bairros como Carandá Bosque, Chácara Cachoeira e Vivendas do Bosque.
O imóvel residencial fica desvalorizado na hora da venda, o que faz com que o bairro acabe se transformando em área comercial, já que escritórios e outros pontos comerciais não se importam com as torres ao redor e pagam os melhores preços.
Transformação - O cenário vai mudando aos poucos e a transição tem sido mais comum nos bairros da região central, em especial no entorno do Shopping Campo Grande, conforme o corretor de imóveis Thiago Miranda.
“Não chega a ser um impeditivo, mas quando a residência está próxima dos prédios dificulta as vendas. Se for para uso comercial, não faz diferença, mas para moradia desvaloriza. Próximo ao shopping está um shopping comercial. A maioria das casas está se tornando escritórios e clínicas. A região vai se transformando”, explica Thiago.
O corretor conta que além dos prédios, as avenidas com grande fluxo também vão transformando o cenário e cita a região da Avenida Hiroshima, situada no Carandá Bosque.
Resistência - Moradora do condomínio Residencial Nelson Mandela, no Bairro Rita Vieira, há 17 anos, a jornalista Eliene Smith se prepara para abrir ação na Justiça pedindo reparação de danos à construtora que levanta cinco torres com oito andares ao lado, na Rua Martine de Moraes.
Vamos perder completamente a privacidade e estamos preocupados com a drenagem, porque já tivemos alagamentos. A água estava retornando para dentro. Não teve mudanças na drenagem, então, provavelmente, vai cair dentro da mesma rede esse novo volume dos prédios. O prejuízo precisa ser reparado, porque chegamos antes aqui e como é um residencial não tem como vender para virar uma área comercial”, explica Eliene.
Morador do Bairro Chácara Cachoeira, o advogado Marcelo Bluma conta que a vizinhança sofre com as transformações trazidas pelos prédios e se mobilizou para buscar um debate com órgãos da prefeitura e construtoras sobre o impacto das obras na cidade.
Ele conta que construiu a casa há 20 anos no loteamento, que é de 1986 e foi projetado para ter uma parte residencial e outras para comércios de tamanho intermediário.
No Chácara Cachoeira, moradores viram o fluxo de veículos aumentar muito após a construção de três condomínios de casas próxima à BR-163, a 3 quilômetros do bairro.
Os moradores dos condomínios saem pela Rua Marquês de Pombal e têm duas opções para acessar a região central. As ruas Jeribá e Coronel Cacildo Arantes são consideradas estreitas para o tráfego que têm hoje.
“Fomos surpreendidos com o lançamento de prédios. Construíram condomínios, mas não fizeram acessos alternativos. A cidade precisa ter um instrumento de planejamento urbano que pacifique essa questão. O instrumento existe, mas está descalibrado, porque senão essas situações não estariam acontecendo”, comenta Bluma, que já foi vereador por Campo Grande.
Audiência pública - O tema será discutido em audiência pública na Câmara Municipal na próxima sexta-feira (16), a partir das 8h, porque o presidente da Comissão Permanente de Mobilidade Urbana, vereador André Luís Soares, o “Prof. André”, foi procurado por moradores do Chácara Cachoeira.
“Hoje, a lei de solo permite a construção de qualquer prédio em qualquer lugar. Também há outros locais, como, por exemplo, os bairros Jardim Autonomista e Giocondo Orsi, em que a verticalização está tirando a privacidade e aumenta o fluxo de carros. Quando um prédio vai ser construído, tem que ser feita análise para saber se vai aumentar o fluxo e impactar negativamente”, diz o vereador Prof. André.
O vereador lembra que, no ano que vem, haverá revisão da lei de ocupação de solo, portanto a ideia é debater o tema e fazer encaminhamentos à prefeitura para ver o que pode ser feito para evitar prejuízos aos moradores e à cidade.
A questão da impermeabilização do solo também é preocupante, segundo o parlamentar. “No Bairro Itanhangá, está começando a inundar. Deveria ter espaço para escoamento ali. Isso vai impactar daqui um tempo e gera mais custo à prefeitura futuramente, como ocorre hoje no cruzamento das avenidas Rachid Neder e Ernesto Geisel”.