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Cidades

Polícia de MS se revolta com desfile: "apresenta policiais como demônios"

Ala usou chifres que remetiam a um demônio com capacetes e escudos como os de policiais

Por Dayene Paz | 14/02/2024 13:15
Ala "sobrevivendo ao inferno", da Vai-Vai (Foto: Nelson Almeida/AFP)
Ala "sobrevivendo ao inferno", da Vai-Vai (Foto: Nelson Almeida/AFP)

A Aspras (Associação de Praças da Polícia Militar e Bombeiros Militares do Mato Grosso do Sul) publicou nota de repúdio, nesta terça-feira (13), contra a escola de samba Vai-Vai. Segundo a nota, o enredo apresentado na noite de sábado (10), no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo, teve "bloco repugnante onde apresenta os policiais como demônios assassinos da periferia".

O enredo tem sido alvo de muitas críticas pelos órgãos de segurança. Isso porque a ala “Sobrevivendo no Inferno” traz uso de chifres que remetiam à figura de um demônio que usam capacetes e escudos como agentes de Choque da Polícia Militar.

Segundo a nota da Aspras, a ala trata os agentes da segurança como "demônio" e "enaltece criminosos como vítimas e heróis". Ainda enfatiza: "As polícias são a última barreira entre o bem e o mal, atacar quem defende a sociedade e defender criminosos só mostra de que lado está essa escola de samba".

O delegado André Matsushita, de Mato Grosso do Sul, usou a rede social Instagram para expressar revolta. "Sabe por que não me levaram os óculos ainda ou meu telefone? Porque tem polícia aqui para impedir. Sabe por que você foi hoje lá no mercado e voltou? Porque tem polícia para permitir e garantir sua segurança", diz.

"Aí você acorda hoje de manhã e vê que uma escola de samba fez um desfile colocando a polícia como demônio, diabo, e o bandido como santinho e anjinho, e um monte de gente nas arquibancadas aplaudindo isso. O que está acontecendo com a sociedade?", questiona o delegado.

Em nota, a Vai-Vai disse que o enredo do Carnaval deste ano “tratou-se de um manifesto, uma crítica ao que se entende por cultura na cidade de São Paulo, que exclui manifestações culturais como o hip hop e seus quatro elementos – breaking, graffiti, MCs e DJs”.

Segundo a escola, “nesse contexto, foram feitos, ao longo do desfile, uma série de recortes históricos, como a semana de arte de 1922 e o lançamento do álbum Sobrevivendo no Inferno, dos Racionais MCs, em 1997”. A nota ainda aponta que, de acordo com a revista Rolling Stone Brasil, "que ranqueou o álbum na 14ª posição da lista dos 100 melhores discos da música brasileira, ‘Sobrevivendo no Inferno colocou o rap no topo das paradas, vendendo mais de meio milhão de cópias. Racismo, miséria e desigualdade social, temas nos discos anteriores, são aqui expostos como uma grande ferida aberta, vide Diário de um Detento, inspirada na grande chacina do Carandiru'”.

“Ou seja, a ala retratada no desfile de sábado, da escola de samba Vai-Vai, à luz da liberdade e ludicidade que o Carnaval permite, fez uma justa homenagem ao álbum e ao próprio Racionais MCs, sem a intenção de promover qualquer tipo de ataque individualizado ou provocação, mas sim uma ala, como as outras 19 apresentadas pela escola, que homenageiam um movimento”, completa a escola.

“Vale ressaltar que, nesse recorte histórico da década de 1990, a segurança pública no estado de São Paulo era uma questão importante e latente, com índices altíssimos de mortalidade da população preta e periférica. Além disso, é de conhecimento público que os precursores do movimento hip hop no Brasil eram marginalizados e tratados como vagabundo, sofrendo repressão e, sendo presos, muitas vezes, apenas por dançarem e adotarem um estilo de vestimenta considerado inadequado pra época. Ou seja, o que a escola fez, na avenida, foi inserir o álbum e os acontecimentos históricos no contexto que eles ocorreram, no enredo do desfile”, finaliza a Vai-Vai.

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