Sumiço de cocaína uniu delegado, advogada e presos do semiaberto
Investigação sobre o furto de cocaína não descarta prisão de outros policiais
Doze presos, a investigação continua e não descarta a prisão de outros policiais por furto de 101 quilos de cocaína, ocorrido dentro de delegacia em Aquidauana este mês. Entre os detidos, o delegado Eder Oliveira Moraes.
O caso foi tratado hoje, durante coletiva da Polícia Civil, mas, sem muitos detalhes. “Não podemos antecipar muito, dar munição ao inimigo”, justificou o delegado Adriano Garcia Geraldo, chefe da comunicação da Delegacia-Geral da Polícia Civil.
O delegado Carlos Delano Leandro de Souza, da Corregedoria da Polícia Civil, explicou que o furto foi realizado em duas etapas: metade dos 101 quilos sumiram no dia 6 para 7 de junho e, o restante, no dia 9. “O depósito estava fechado, poucos tinham acesso, passou-se quarta até segunda sem ninguém entrar”. O arrombamento da janela, segundo ele, não era perceptível do lado de fora, já que havia uma trava interna. Por isso, o furto demorou para ser notado.
Para identificar os suspeitos, a investigação se valeu das oitivas de testemunhas, apreensão de documentos e celulares, este último, com quebra de sigilo de dados.
Nesta apuração, os policiais localizaram o carro em que a droga foi transportada, um Toyota Corolla, que estava em poder do marido da advogada Mary Stella Martins de Oliveira, os dois presos na ação.
Também foram detidos o dono do veículo, e os pais dele. Na residência do casal, aliás, foram encontrados petrechos de pesagem e preparo da droga e até vídeos do homem manuseando os equipamentos para esse fim. O proprietário do veículo já tem antecedente por tráfico, em que foi preso por tráfico de 200 quilos de cocaína em São Paulo e, em 2012, com maconha no Indubrasil.
Segundo o delegado, também foram expedidas prisões temporárias para quatro pessoas que estavam detidas na delegacia de Aquidauana na época do furto e mais dois presos do regime semi-aberto. Com o delegado, são doze presos até agora na operação.
Segundo Delano, a investigação prossegue até para verificar se há indícios suficientes em relação aos presos no envolvimento desse furto. “Para alguns elementos, temos convicção forte, mas ainda não podemos concluir de maneira firme”. As evidências mais contundentes foram descobertas por meio dos celulares apreendidos com o delegado e o marido da advogada.
Exame – Segundo os delegados, é remota a chance de se recuperar os 101 quilos da cocaína, pois a droga não teve um único destino.
Os tabletes da droga encontrados no Toyota Corolla vão ser submetidos a exame comparativo como tablete que ficou para trás na delegacia. “Vamos verificar se a porção apreendida é compatível em termos de pureza do que estava no depósito”, disse Delano.
Os 101 quilos de cocaína que estavam no depósito da delegacia haviam sido apreendidos pela PRF (Polícia Rodoviária Federal) no dia 30 de maio de 2019, na região urbana de Aquidauana, dentro de tanque de óleo diesel, de carreta que seguia para São Paulo.
Adriano Garcia explicou que o procedimento regular é relatar o flagrante e encaminhar para incineração urgente ou armazenamento em lugar mais seguro. A demora em tomada de procedimento também pode ser vista como indício de envolvimento. “Tudo indica que o elevado volume e fato dessa droga ser bastante cara motivou tudo isso”, avaliou. A polícia não informou o “valor de mercado” da cocaína.
Prisão – O delegado Eder Moraes será levado ao 3ºDP (Distrito Policial) do bairro Carandá Bosque, onde já estão outros sete policiais presos. A prisão em flagrante dele, segundo a Polícia Civil, é decorrente de posse ilegal de arma de fogo.
Eder Moraes é policial há 19 anos e passou por delegacias em Rio Verde, Juti, Rio Negro e, há quatro anos, em Aquidauana. Ele já respondia por processo criminal e administrativo, mas que não exigia afastamento da função. Agora, a remoção dele para Selvíria, que havia sido publicada dias depois do furto da cocaína, se tornará sem efeito. Amanhã, no Diário Oficial será publicado o afastamento compulsório enquanto durar a investigação.
O delegado Jairo Carlos Mendes, titular interino da Corregedoria falou sobre os “desvios de conduta” na Polícia Civil e que, infelizmente, “temos que cortar na carne”. Mendes disse que a Corregedoria será implacável na apuração desses desvios, até para proteger os bons policiais. “Não podemos misturar”.