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Cidades

Após 16 anos e oito delegados, morte de Escaramuça segue impune

Família tem esperança de que assassinato não foi "crime perfeito" e será desvendado antes de prescrever, daqui 14 anos

Graziela Rezende | 14/10/2013 08:00
Família aguarda há 16 anos desfecho do homicídio. Foto: Marcos Ermínio
Família aguarda há 16 anos desfecho do homicídio. Foto: Marcos Ermínio

São 16 anos de impunidade, sem qualquer prisão de suspeitos ou esclarecimento sobre o assassinato do radialista e apresentador de TV, Edgar Lopes de Faria, o “Escaramuça”. A execução ocorreu no dia 29 de outubro de 1997. Para a prescrição do delito, que de acordo com o Código Penal ocorre após 29 anos, 29 dias, 23 horas e 50 minutos, ainda faltam cerca de 14 anos. E é neste período que a família ainda se apega, querendo desvendar de qualquer maneira algo que eles não consideram o “crime perfeito”.

“Acredito que não há interesse por parte da Polícia em desvendar este crime e outros de pistolagem que vem ocorrendo no Estado. Para mim, não tem outra linha de investigação que não seja as denúncias que ele fazia, tanto na televisão quanto na rádio. E com o tempo tudo isso vem sendo esquecido, mas para a família não, que até hoje permanece intrigada com o crime”, afirma o filho da vítima, o radialista Marcos Antônio Lopes de Faria, 46 anos.

Na época, com 30 anos, Marcos diz que o caso foi investigado pela DEH (Delegacia Especializada em Repressão a Homicídios). De lá para cá, oito delegados assumiram o inquérito policial. “O primeiro a assumir as investigações foi o delegado Paulo Magalhães, executado de maneira semelhante no dia 25 de junho deste ano, em Campo Grande. A única informação que fiquei sabendo é que poderiam ser os mesmos homens que tentaram matar um delegado em Cuiabá (MT)”, relembra o radialista.

A suspeita veio seguida da notícia da morte dos homens pelo delegado ameaçado. “Eles falaram que poderiam ser estes homens porque eles estavam com um impresso do Correio do Estado no carro, um dia depois da morte do meu pai. Mas isso pode não ter fundamento e até o jornalista Sérgio Cruz, na época, disse que alguém que estivesse com uma bíblia então seria suspeito de matar Jesus Cristo. Sem eles falarem, não passou de uma suspeita”, comenta o radialista.

Marcos Faria conta detalhes do crime e das suspeitas ao longo de quase duas décadas (Foto: Marcos Ermínio)
Marcos Faria conta detalhes do crime e das suspeitas ao longo de quase duas décadas (Foto: Marcos Ermínio)

Intrigado com a morte do pai, Marcos Antônio iniciou uma investigação por conta própria. “Eu ficava sabendo de denúncias e repassava tudo ao delegado, além de chamar um amigo meu policial para fazer buscas. Na época, ainda recebi ameaças, uma ligação até dizia que eu teria o mesmo destino dele, mas não tive medo, apenas redobrei o cuidado”, fala o radialista.

De 1997 a 2013, foram dezenas de mortes de jornalistas, radialistas e vereadores em Mato Grosso do Sul, todos crimes de pistolagem cuja suspeita é o envolvimento com graves denúncias, “esquemas” e reportagens investigativas. “Recentemente até a OAB/MS (Ordem dos Advogados do Brasil) fez um manifesto, mas logo depois ninguém falou mais em nada e nós queremos uma solução”, lamenta o radialista.

Dia do crime – Contente com a audiência do programa, Marcos diz que, um dia antes, havia combinado com o pai de conversar com usuários do transporte coletivo, na rua Rui Barbosa, sobre o aumento da passagem. Por volta das 6h, ele então acordou e, 20 minutos depois, saiu de casa.

“Às 6h25, o Juscelino Juju que operava o som me ligou, falando que meu pai ainda não tinha chegado. Ele jamais se atrasava para as gravações e então achei que algo havia acontecido. Pensei que o pneu do carro dele poderia ter furado e então refiz o seu trajeto, passando pelo mesmo local que diariamente ele tomava um café e lia os jornais”, diz o radialista.

Ao chegar à padaria Pão de Mel, na rua Amazonas, bairro São Francisco, o crime já havia acontecido. “Fazia cinco minutos somente que meu pai tinha sido alvejado pelos cinco tiros. Ele estava chegando ao carro quando três homens chegaram em um veículo Corsa. Eles atingiram ele com uma pistola calibre 12 e também o pneu do carro, foi tudo muito rápido”, relembra o radialista.

Após 16 anos e oito delegados, morte de Escaramuça segue impune

De todas as testemunhas, conforme ele disse ao Campo Grande News, apenas um senhor conversou com a Polícia. “Eu demorei oito anos para ir ao comércio deste homem e falar com ele, ouvindo que tudo o que ele sabia foi repassado à Polícia e que não queria falar mais nada. É uma tristeza muito grande, já que estávamos sempre juntos, no trabalho e em família”, diz emocionado.

Após o crime, o radialista diz que ainda permaneceu no comando do programa por mais quatro meses. “O Rui Pimentel depois assumiu o programa e eu faço o Tribuna Livre com o Sérgio Cruz, diariamente das 6h45 às 8h. Não parei, penso até que é uma homenagem a ele”, finaliza o filho.

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