Candidatos apresentam propostas para solucionar problemas na saúde em MS
Para amenizar o sofrimento e o tempo de espera de quem precisa de atendimento médico no Estado, os candidatos a governador de Mato Grosso do Sul prometem ações como estatizar a saúde pública e colocá-la sob controle dos trabalhadores, como quer professor Monje (PSTU); a ativação do setor de ortopedia do Hospital Regional da Capital e criação de centros regionais de atenção especializada, como propõe Delcídio do Amaral (PT); o aumento de hospitais e médicos na rede pública, bem como implantação de um programa permanente de reforma e modernização de unidades de saúde, proposta por Nelsinho Trad (PMDB), e o fim da “ambulâncioterapia” com a regionalização da saúde e humanização do atendimento, como quer Reinaldo Azambuja. A decisão sobre quem vai implantar sua ideia é do eleitor sul-mato-grossense.
Desde o começo do mês de agosto, o portal Campo Grande News realizou uma série de reportagens sobre a saúde pública em Mato Grosso do Sul. Relatos de pacientes que precisam viajar centenas de quilômetros para conseguir atendimento médico, e de pais com o filho pequeno no colo que precisam percorrer diversos postos e hospitais para encontrar um pediatra que atenda pelo SUS, são mais comuns do que se possa imaginar.
Ouvimos a história da aposentada Maria Franco Souto, que aos 81 anos precisa encarar a estrada três vezes por semana para fazer tratamento de hemodiálise na Capital. “Não é nada fácil, a gente precisa acordar de madrugada, embarcar na van e vir para Campo Grande. Tem dias que a gente não quer sair da cama, não quer passar por isso, mas é o único jeito que a gente tem de sobreviver”, diz a aposentada.
O sul-mato-grossense Álvaro Campos, 63 anos, praticamente adotou uma pensão em Campo Grande como sua segunda casa, pois é onde ele fica quando precisa sair de Guia Lopes da Laguna, distante 227 km da Capital, para conseguir atendimento médico especializado. Apesar de ter o deslocamento pago pela Prefeitura de sua cidade, o paciente sofre na pele os efeitos da falta de médico perto de casa. “Seria melhor se investissem esse dinheiro na saúde da nossa cidade, mas não tem como e eles encontram essa saída pra que a gente não morra sem atendimento”, disse.
A crise financeira atinge boa parte dos hospitais do Estado, e dívidas milionárias colocam em risco o futuro de unidades que hoje são responsáveis pela esperança de um socorro digno da população do Estado. Cidades como Dourados, o maior município do interior, não contam com profissionais e nem com habilitação do Ministério da Saúde para atender alguns casos de alta complexidade. O destino acaba sendo a Capital, e o resultado é a superlotação dos hospitais.
Sem leitos de internação, vagas nas UTI (Unidades de Terapia Intensiva) ou tampouco incubadoras para receber bebês recém-nascidos, a espera por exames e cirurgias podem levar anos. Como no caso do pequeno Guilherme Barbosa, um dos personagens de uma de nossas reportagens especiais, que aos três anos de idade espera há um ano e três por uma cirurgia para corrigir uma má formação congênita responsável pelos dedos da mão direita grudados e o pé esquerdo com seis dedos.
Cansada de esperar pelo SUS, a família organizou uma campanha e arrecadou os R$ 500 para fazer o exames necessários para a cirurgia. Agora, com os resultados nas mãos, a família vive mais o drama da espera pela marcação da operação, e torce para que o exames valham até lá.
Municípios que deveriam, por lei, aplicar 15% de sua receita em saúde, acabam dobrando esse percentual para poder atender à principal demanda da população de todo o país. Prefeitos e gestores públicos municipais esbarram, além da falta de verba, em inúmeros problemas como a burocracia estatal para viabilizar recursos que poderiam salvar vidas e a falta de recursos humanos disponíveis, em diversas áreas.
Números divulgado pelo Ministério da Saúde apontam que o governo do Estado superou, de 2007 a 2013, em pelo menos R$ 530 milhões o mínimo constitucional de 12% para o setor. Todavia, mesmo com o esforço o dinheiro ainda não é suficiente para mudar a triste realidade, tampouco para trazer de volta os pequenos Kevin e Carlos, os bebês que nasceram prematuros em 23 de abril de 2013, em Maracaju, e que faleceram a caminho de uma UTI Neonatal na Capital, depois que tiveram o primeiro pedido de transferência negado por falta de vagas.
Essas e muitas outras histórias ficaram registradas nas reportagens especiais do Campo Grande News publicadas na seção “Saúde na UTI”. De olho no voto do eleitor, confira as principais propostas dos candidatos ao governo do Estado para minimizar o sofrimento do sul-mato-grossense, e garantir dignidade ao tratamento médico oferecido pelo SUS.
O Campo Grande News elaborou duas perguntas aos candidatos, que foram respondidas abaixo:
Marco Antônio Monje, candidato do PSTU:
Como melhorar a gestão dos recursos para a saúde pública?
Reforçamos que o PSTU defende a imediata aplicação dos 10% do PIB do Brasil na saúde pública e estatal. Compreendemos que a saúde é um direito universal e para tanto dever ser gerenciada e administrada pelo Poder Executivo. Defendemos que toda a saúde deva ser estatizada e ao alcance de todos. Não aceitamos que a saúde seja utilizada como acumulação de capital.
O que o sul-mato-grossense pode esperar de saúde em seu potencial governo?
Uma saúde 100% estatal, pública e de qualidade para todos sob o controle dos trabalhadores. Não podemos mais aceitar que tenhamos um atendimento à saúde de qualidade e imediato para o rico e uma saúde com péssimo atendimento e uma demora que dependendo do caso pode levar mais de ano para o trabalhador.
Delcídio do Amaral, candidato do PT:
Como melhorar a gestão dos recursos para a saúde pública?
Quando se pensa em gestão, temos de ter em mente que apenas com um bom e moderno sistema de gerenciamento de informação poderemos gerir o estado de forma eficiente, democrática e transparente. O sistema de gerenciamento de dados que implantaremos em Mato Grosso do Sul não vai servir somente para a área da saúde, mas para todos os setores, porque as decisões em meu governo serão tomadas de forma planejada , com uma equipe técnica competente, para atender as reais demandas da nossa população. No caso específico da saúde, vamos trabalhar de forma articulada com os prefeitos para racionalizar os investimentos e evitar a superposição de ações. Temos que evitar o desperdício e aplicar corretamente cada centavo que tivermos, seja em recursos próprios ou os recebidos através do SUS, respeitando os impostos pagos pelos contribuintes.
O que o sul-mato-grossense pode esperar de saúde em seu potencial governo?
Todos nós sabemos que os problemas de saúde não são exclusivos de nosso estado. Mas eu e minha equipe discutimos com diversos especialistas da saúde e buscamos modelos de alta resolutividade. Vamos atuar de forma imediata para colocar em pleno funcionamento os hospitais regionais e municipais, bem como os equipamentos disponibilizados nessas unidades.
Ao mesmo tempo, fortaleceremos a Rede de Atenção Básica de Saúde, o PSF – Programa da Saúde da Família, que cuida preventivamente da saúde da nossa população, reduzindo o custo das internações hospitalares. Também é urgente que ativemos, o mais cedo possível, o setor de Ortopedia do Hospital Rosa Pedrossian, em Campo Grande, que possui profissionais e equipamentos para cumprir esse objetivo.
Vamos implantar uma rede ambulatorial, com a criação de centros regionais de atenção especializada em Campo Grande, Dourados, Três Lagoas, Corumbá, Ponta Porã, Naviraí, Nova Andradina, Coxim, Paranaíba, Aquidauana e Jardim. Isso inclui atendimento de especialidades médicas, diagnóstico especializado, atenção à saúde da mulher, atendimento odontológico e a reabilitação de saúde do trabalhador.
Os municípios de menor porte não ficarão desassistidos, pois vamos implantar as Unidades Móveis Ambulatoriais nos mesmos moldes do que o Hospital de Barretos está fazendo em Campo Grande, para fazer o diagnóstico precoce de várias doenças. Com essas medidas diminuiremos a pressão sobre os hospitais da Capital e Dourados e diminuiremos os custos com a vinda de pacientes para serem tratados aqui. É mais conforto e segurança para toda a população.
Reinaldo Azambuja, Candidato do PSDB:
Como melhorar a gestão dos recursos para a saúde pública?
Durante 1 ano e dois meses, nós ouvimos 220 mil pessoas em todo o Estado por meio do Pensando MS. A principal reclamação da população, em todas as regiões, é a saúde. A situação é caótica. Faltam hospitais, leitos, centros especializados e acesso a exames mais complexos e cirurgias, além de serviços básicos de qualidade. A saúde precisa de mais recursos. Isso acontece porque hoje as prioridades são dos governantes e não da população. Os governos estão preocupados em fazer obras em vez de garantir o funcionamento pleno dos prédios já existentes. O descaso com a saúde é um problema grave em Mato Grosso do Sul e em todo o País.
Nos últimos quatro anos, a rede de hospitais que atende pelo SUS fechou 13 mil leitos no Brasil. A tabela do SUS não sofre reajuste linear desde 1996 e mesmo os procedimentos que tiveram algum aumento ainda estão muito defasados. O SUS paga R$ 7 por um Raio-X, enquanto os planos de saúde repassam aos hospitais R$ 21. Em Mato Grosso do Sul, 1.400 leitos deixaram de atender o Sistema Único de Saúde desde 2005.
Foi o Estado que mais fechou leitos no País, segundo o Conselho Federal de Medicina. Mato Grosso do Sul está entre os cinco estados que menos investem em saúde per capita. Então, é preciso investir mais em saúde e garantir que os hospitais e as unidades de saúde funcionem de verdade. Vamos regionalizar a saúde, proporcionando diagnóstico e atendimento de qualidade no interior de Mato Grosso do Sul para que não venha a Campo Grande toda essa demanda inchando o sistema.
Em Campo Grande também é preciso investir no setor. Em junho, no último Pensando MS, o candidato Aécio Neves (PSDB) já se comprometeu, caso vença a eleição, em nomear o ministro da Saúde e, no dia seguinte, mandá-lo a Campo Grande para providenciar a conclusão do Hospital do Trauma.
O que o sul-mato-grossense pode esperar de saúde em seu potencial governo?
Saúde é a principal preocupação da população e vai ser a maior prioridade no meu governo, sem sombra de dúvida. Vamos garantir o funcionamento dos hospitais e das unidades de saúde existentes e a qualidade do atendimento. Os hospitais terão medicamentos e médicos.
Vamos aumentar os investimentos em saúde e vamos fazer isso com austeridade e transparência na aplicação dos recursos públicos, garantindo também a participação da população na definição das ações e prioridades nas políticas de saúde. É preciso humanizar o atendimento prestado às pessoas. Iremos investir na regionalização da saúde, para acabar com a ‘ambulancioterapia’.
Vamos valorizar os profissionais e premiar os melhores, aqueles que mais se dedicam ao trabalho. Enfim, a população pode esperar um governo preocupado com o bem estar das pessoas.
Nelsinho Trad, candidato do PMDB:
Como melhorar a gestão dos recursos para a saúde pública?
Assim que assumirmos vamos fazer uma reunião com os 79 prefeitos para elencar as prioridades e definir metas para a saúde em todos os municípios de Mato Grosso do Sul. Vou destinar uma verba carimbada para ser aplicada na saúde e definir com os prefeitos os convênios que serão realizados, e, como eu disse, eles terão metas a cumprir. Aqueles que melhor aplicarem os recursos e cumprirem as metas, terão aumento de repasses. Assim, vamos otimizar a aplicação dos recursos.
O que o sul-mato-grossense pode esperar de saúde em seu potencial governo?
As pessoas podem esperar uma saúde regionalizada, em que não tenham que se deslocar até a capital para receberem tratamento médico. Vamos construir e equipar Hospitais Regionais em Três Lagoas, Dourados e Corumbá, criando grandes centros de referência de atenção especializada no interior, além de centros de exames, vamos ampliar os hospitais de municípios polo, como Aquidauana, Campo Grande, Corumbá, Coxim, Dourados, Jardim, Naviraí, Nova Andradina, Paranaíba, Ponta Porã e Três Lagoas, com leitos de UTI e assistência especializada, e instituir um programa permanente de reformas e modernização em unidades de saúde no interior do Estado.
Além de melhorar a estrutura, vamos investir na contratação de mais médicos, fazendo convênios com as prefeituras e também ampliando a oferta de cursos de medicina nas universidades de Mato Grosso do Sul.
Os demais candidatos ao governo estadual, Evander Vendramini (PP) e Sidney Melo (PSOL), não respoderam aos questionamentos até o fechamento da matéria.