“Era ele ou eu”, diz réu que matou pai e filho durante briga em terreno
Crime aconteceu no dia 10 de fevereiro, no Portal Caiobá, durante briga por conta de limpeza de um terreno
“Se não fosse eles seria eu”, foi assim que Ângelo Demisque Siqueira, de 61 anos, definiu o assassinato de Carlos Mendes Figueiredo, de 42 anos e do filho dele, Bruno Pierri Figueiredo, de 22 anos, ao juiz da 2ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande. O crime aconteceu no dia 10 de fevereiro, no Portal Caiobá, durante briga por conta de limpeza de um terreno.
Ângelo foi ouvido pela primeira vez pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos na tarde desta segunda-feira (19), na segunda audiência sobre o caso. Diante dos advogados e do MPMS (Ministério Publico de Mato Groso do Sul), confessou os assassinatos, mas alegou agir em legitima defesa.
O réu contou em depoimento que a briga não era dele. Lembrou que Bruno se desentendeu com outro vizinho depois de atear fogo em entulhos juntados na limpeza do terreno em que ele e a namorada construíam uma casa. Ângelo alegou que se aproximou da confusão junto com o irmão, Nestor Demisque Siqueira, para ajudar a apagar as chamas, mas encontrou a vítima “alterada”.
“Ele falava que não ia apagar que quem mandava era ele, que a gente não sabia quem ele era”, afirma. A discussão se intensificou no momento em que Carlos, pai de Bruno, chegou ao local de carro. Para o juiz, Ângelo afirmou que só percebeu que Carlos desceu com algo na mão e por causa do escuro não conseguiu ver o que era. “Sacou uma arma e veio na nossa direção, ai eu atirei”. Testemunhas confirmaram que a vítima estava com um faca.
“Não mirei nem nada, dei uns tiros, quando vi o corpo caindo eu assustei”. Depois de ferir pai e filho Ângelo alega que pegou o carro e fugiu para escapar do flagrante, no caminho para Sidrolândia, onde permaneceu escondido até sua prisão, jogou a arma do crime as margens da rodovia.
Depoimentos – A versão de Ângelo foi contata também pelo vizinho de Bruno. Ele narrou em depoimento que estava na casa dos irmãos quando viu o rapaz atear fogo nos entulhos e resolveu pedir para ele apagar as chamas, já que a fumaça ia direto para a casa dele.
Os dois discutiram e os irmãos se aproximaram para ajudá-lo, mas a briga se intensificou e ele chegou a tirar os dois de perto de Bruno. O vizinho ainda detalhou que Ângelo havia confessado a ele estava bêbado e lembrou sobre a presença de outro vizinho, que chegou ao local no final da confusão.
Essa testemunha também foi ouvida e contou que o assassino atirou nas vítimas quando elas já estavam no chão e que precisou segurar a mão dele para que não atirasse na filha mais nova de Carlos, de 10 anos. Ângelo negou as duas situações e afirmou que nem percebeu a presença da criança."Se eu visse a família pediria desculpa", disse chorando ao revelar que está arrependido do crime.
Ameaças – Ângelo ainda contou em depoimento que chegou a procurar um advogado em Sidrolândia para se apresentar a polícia e assumir o crime, mas que foi instruído por ele a permanecer escondido “até o melhor momento”. Depois de preso, afirma ter sido vítima do PCC (Primeiro Comando da Capital).
“Quando cheguei aqui em Campo Grande falaram que eu tinha matado um irmão e que vida se paga com vida. Me levaram para uma cela lá no fundo e me deixaram preso o dia todo, enquanto isso tomavam bebidas alcoólicas. Escolheram oito para me executar. Me deixaram lá de joelho e eu fiquei orando a deus, quando um abriu para ver se estava tudo liberado eu corri, desviei dele e consegui fugir”.
Depois disso, o preso foi transferido para o IPCG (Instituto Penal de Campo Grande), onde fica isolado em uma cela. Ao Campo Grande News a defesa de Ângelo afirmou que a mulher e a filha dele também foram ameaças pela facção e por isso precisaram mudar de cidade. “Tentaram sequestrar elas”, detalhou o advogado José Ramos.
Por conta das ameaças e também da idade do réu, a defesa tenta a revogação de prisão preventiva que o mantém preso. “Ele nunca teve passagens pela polícia, é um homem de idade, tem problemas de saúde, hipertensão, pinos no braço e na perna, não há motivo para ficar preso” defendeu o advogado.
Na quinta-feira (15) um dos pedidos de revogação da prisão foi negado pelo juiz, mas Ramos já adiantou que deve entrar com habeas corpus para liberar o cliente.
Já Nestor, o irmão de Ângelo que estava com ele no momento do assassinato, foi indiciado apenas por ter alterado a cena do crime. Segundo testemunhas ele deixou uma faca próxima ao corpo da vítima antes de fugir. Por conta disso teve o julgamento suspenso e terá que cumprir medidas cautelares por dois anos – se apresentar mensalmente em juízo e não se ausentar de Campo Grande por mais de oito dias sem autorização judicial.
Agora o juiz espera a entrega dos laudos da perícia sobre a reprodução do crime, feita no dia 11 de julho pela 6ª Delegacia de Polícia Civil, para decidir se Ângelo vai, ou não, para júri popular pelo duplo homicídio.