"Qualquer um ficaria chocado", diz mulher que socorreu menino torturado
Primeiro de fevereiro de 2013. Era para ser mais uma simples tarde na vida de uma mulher de 43 anos. Mas, a reação dela diante do que viu enquanto comia chipa no portão da casa da mãe, no bairro Nova Lima, em Campo Grande, mudou a vida de uma família, e, principalmente, a deu de volta a um menino de, na época, seis anos. Ela é uma das testemunhas a serem ouvidas pela Justiça sobre o caso do menino que era torturado pelos tios.
“Qualquer um ia ficar chocado”, resume a mulher, que teve sensibilidade para ver que a criança que passava na rua com toca na cabeça, sacola nas mãos e olhava para o salgado, queria bem mais que o alimento.
A mulher chamou o menino e perguntou se ele queria chipa e ele respondeu que sim. Durante o rápido diálogo, ela observou machucados nele e o chamou para dentro de casa.
Enquanto o pequeno se alimentava, ela viu que ele tinha cicatrizes antigas e marcas recentes, que a toca escondia hematomas na cabeça, cortes nas orelhas e que os pulsos estavam inchados e as unhas picotadas.
A primeira justificativa dele para a situação é de que ele havia caído de árvore. “Aí eu disse que se fosse isso não ia ficar daquele jeito, e ele então contou que dormia com o cachorro, que não deixavam ele comer e que estava com pulsos inchados porque foram amarrados”, lembra a testemunha que não pode ser identificada.
Ao perguntar para onde ele estava indo, ele disse inicialmente que ia para a casa da avó, mas depois começou a chorar e a contar sobre a difícil situação dele. “O meu tio é o mais ou menos bonzinho. Mas ele sabe que ela [tia] bate”, disse o pequeno à desconhecida, que resume. “Era muito difícil ninguém ter visto aquilo tudo”.
A mulher então chamou a Depca (Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário), que prendeu o casal. Enquanto os tios foram para a cadeia, a criança foi para um abrigo e ficou sob cuidados médicos. Dias depois, a mãe chegou à Capital, o pequeno se recuperou rapidamente e eles voltaram para o Mato Grosso. O garoto estava com os tios fazia oito meses, segundo a mãe.
Defesa – Advogado da tia e madrinha do menino, Marcos Ivan da Silva, disse que a cliente dele confessa as agressões, nega que ele ficasse no canil e fala que o sobrinho era “uma criança de índole muito má”.
Marcos Ivan lembra que a audiência da tarde desta segunda-feira é a primeira sobre o caso e que irá tentar esclarecer “o que aconteceu e a dosagem de culpa de cada um, para que não fique todo mundo com uma conduta só”.
O advogado do tio do menino, Selmen Dalloul, declarou que a estratégia dele “é a verdade” e que pediu a revogação da prisão preventiva do cliente.
“O padrinho da criança não tem culpa”, afirma Selmen, justificando que o acusado trabalhava das 6h às 19 horas e que quando chegava em casa e via o afilhado machucado, a esposava falava que era resultado de brincadeiras na rua.
Um rapaz que morava nos fundos da residência do casal também será ouvido pela Justiça e falou que o vizinho era amoroso e dizia que sonhava em ter filhos.