"Sem casa", José Inácio enfrenta frio e chuva dormindo no carro
Aposentado diz que foi obrigado a deixar o terreno onde alugava um quarto; com o pequeno salário, o idoso ajuda a neta a criar três crianças
Em um dia chuvoso e de temperaturas baixas, quem não gosta de ficar em casa e aproveitar o aconchego do lar? Mas, nesta quarta-feira (22) chuvosa e fria, em que a maioria quer mesmo é uma chance de ficar debaixo das cobertas, a cena inusitada chama atenção em uma rua da Vila Margarida. Desalojado do quarto onde vivia, o aposentado José Inácio Sobrinho, de 68 anos, faz de um veículo Logus, ano 96, o seu abrigo.
Estacionado no cruzamento das ruas Venceslau Bráz e Carneiro de Campos, o automóvel de pneus carecas tem sido a casa de José há pelo menos três semanas. Sem conseguir trabalho, ele diz que dormir no carro foi a única alternativa.
"Eu não sei direito o porque, o dono apenas me disse que construiria futuramente no local e um dia chegou me 'tocando' de lá. Disse que era para eu sumir e, como eu não gosto de brigar, saí", afirmou.
Sem ter para onde levar todas as suas coisas, José revelou que deixou três veículos para trás, assim como objetos pessoais e ferramentas de trabalho. "Eu cheguei a fazer alguns serviços como mecânico e comprei os carros para poder vender as peças. Eu tinha deixado eles para fora do terreno, todos na calçada, mas quando voltei para pegar eles já não estavam mais lá", conta.
As poucas coisas que restaram dividem espaço com o idoso dentro do carro. José revela receber um salário mínimo por mês, grana que acaba não sendo suficiente para todas as necessidades. "Ainda ajudo minha neta e três bisnetos. Se eu for alugar uma casa e ter que pagar R$ 400 de aluguel, vai sobrar o que para eu comer? Ainda teria que pagar água, luz e outras contas", enumera.
Ainda segundo o aposentado, na residência onde a neta mora, vivem outras seis pessoas. "Ela mora com o marido, três filhas e os sogros. Além disso, está desempregada, precisando de ajuda, então seu sempre me esforço em ajudar eles. Já estou contando os dias para o pagamento, só para poder fazer uma boa compra e levar para eles".
Companheiros - Mesmo sem condições, o ex-motorista ainda cuida de dois cachorros, que vivem andando pelo bairro, mas sempre voltam para o novo endereço. "Eu gosto dos animais e eu sei que preciso sair daqui logo, arranjar nosso cantinho, mas está difícil", afirmou.
Paraibano, José Inácio chegou a tentar entrar com o pedido para conseguir uma casa, mas foi informado que teria de apresentar a certidão de nascimento, documento que ele perdeu há muito tempo. "Eu só consigo fazer outro se estiver na minha cidade e não tenho como sair daqui. Também não sei o porque dessa exigência, sendo que eu tenho todos os outros documentos, tirei tudo!".
Sem saber o que fazer, o idoso agora aguarda receber o dinheiro de um trabalho feito recentemente, mas que não tem previsão para sair. "Estou esperando meu ex-patrão sinalizar, mas eu sei que ainda vai demorar", finalizou.