“Um tombo não foi”, diz Giovanna, que ganha carinho e orações nas ruas
“Um tombo não foi, não tem como ser. Tenho certeza que foi uma agressão”, a frase, dita em voz abafada pelo impedimento de movimentar a mandíbula, é de Giovanna Nantes Tresse de Oliveira, de 18 anos.
No Réveillon, ela foi encontrada inconsciente em um apartamento, na Vila Gomes, em Campo Grande. No imóvel, só estavam ela e o então namorado Matheus George Tannous, de 19 anos. Com lapso de memória, a jovem não se lembra do que aconteceu. Já Matheus negou a agressão e diz que Giovanna teria caído e batido o rosto no chão.
Dez quilos mais magra, que reforça a imagem de fragilidade passada pela baixa estatura, a jovem viu a vida mudar. Depois de as fotos chocantes, do rosto partido e com hematomas, serem divulgadas, ela é reconhecida nas ruas e move uma corrente de solidariedade. “Me reconhecem no mercado, falam que oram por mim”, diz Giovanna, sobre o carinho que recebe de desconhecidos.
Nesta segunda-feira, em companhia da mãe, a jovem foi à Santa Casa para prosseguir o tratamento. Janaína Nantes aguarda autorização médica para levar a filha a Londrina, no Paraná, onde mora. Ela explica que Giovanna só vai prestar depoimento à Polícia Civil depois de receber autorização da psicóloga. “Quero continuar estudando”, relata a universitária, que não esconde a preferência por ficar em Campo Grande.
Sobre Matheus, Giovanna até ensaia uma reposta sobre o que diria para o ex-namorado, mas a frase vem da mãe. “Não tem nada a dizer”. Sem permitir novas fotos da filha, Janaína disse que se chocou com as fotos divulgadas pela família, mas entende o efeito “pedagógico” das imagens.
“E nem eram as piores, quando cheguei e vi minha filha na maca, achei que estava morta”, relata. O rapaz teve a prisão decretada, mas está foragido.
O trabalho dos profissionais que fizeram a cirurgia vai poupar que Giovanna carregue no rosto as marcas do Réveillon de 2014. Com as unhas pintadas, ela mostra os pontos. Do lado esquerdo, próximo à orelha. Do lado direito, eles foram feitos por dentro da boca. A recuperação exige somente dieta líquida e papinha, o que justifica a perda de peso.
De acordo com o cirurgião-dentista Arnóbio Luiz de Lima Nunes, responsável pela cirurgia no rosto da jovem, ela não terá sequelas físicas, nem perda de capacidade mastigatória ou dificuldade de movimentar o globo ocular. A cirurgia demorou três horas e foram colocados três placas e 12 parafusos.