"Achávamos que íamos morrer", dizem reféns de bandidos em momentos de terror
Bandido chegou a chorar e pediu perdão após atirar contra mulher durante tentativa de assalto
Em choque, as mulheres que foram feitas reféns por dois bandidos na tarde desta segunda-feira (18), ainda relembram dos momentos de terror na casa do Bairro Coopharádio, em Campo Grande. "Achávamos que íamos morrer", afirma a manicure Marluce Aparecida Ribas, de 51 anos, que ainda ouviu um pedido de perdão, minutos antes dos bandidos se entregarem. "Você me perdoa?", teria falado um deles.
As palavras das vítimas são acompanhadas por lágrimas de medo, mas também de alívio. "Eu respondi, não sou eu que precisa te perdoar, é Deus". Marluce, neste momento, estava dentro do banheiro, de onde saiu ilesa de um disparo. "Passou por cima da minha cabeça", conta, mostrando as marcas que ficaram na casa.
A manicure é amiga da dona da residência, Yolanda Aidde Pranti Mangiere, de 79 anos. Ela conta que, como de costume, foi até a casa da idosa pela manhã. "Eu estava aqui de manhã, almocei com ela e fui embora para casa, porque ela dorme depois do almoço", revela.
Marluce também aproveitou para descansar, mas poucas horas depois, recebeu a ligação de Yolanda. "Estava deitada e tocou meu telefone, era ela, umas 16h, pedindo socorro. Falou 'me ajuda, tem ladrão aqui em casa, liga pra polícia, socorro, socorro'. Nisso, eu escutei um barulho e não consegui mais falar com ela no celular", lembra.
A manicure então ligou para a polícia e foi até a residência da amiga. "Peguei minha moto e vim. Abri o portão, entrei, vi que as coisas estavam caídas na varanda e a porta da cozinha aberta. Tinha barulho deles dentro revirando a casa e ela falando 'pelo amor de Deus, não me mata, não faz nada comigo'. Aí eu escutava eles mandarem ela calar a boca e ficar quieta".
Os bandidos pularam o muro e invadiram a casa, armados com um simulacro e uma faca. Eles reviraram a residência e na gaveta do quarto, encontraram a arma que era do marido da idosa, já falecido.
Sem saber o que fazer, antes mesmo de entrar na casa, a manicure escutou um tiro. "Fiquei desesperada, voltei para a rua e parei um motoqueiro para pedir ajuda. Falei que estava sendo assaltada, mas ele também ficou paralisado", lamenta. Como recurso, Marluce ligou para o filho. "Liguei para meu filho que mora comigo, falei corre aqui na Dona Yolanda", conta.
Como a polícia não havia chegado, a mulher resolveu entrar na casa. "Ela tem problema de pressão, tinha que entrar, porque pensei que iam matar ela. Então voltei, entrei na cozinha e peguei uma faca na gaveta. A hora que virei no corredor, eles estavam vindo, aí colocou o revólver na minha cabeça e tomou a faca da minha mão". Ela complementa: "me pegou pelo braço e me levou para o quarto. Na hora que entrei no quarto, ela [idosa] estava deitada, de barriga para cima e amarrada", lembra.
Marluce também foi amarrada. "Mandaram eu ficar de bruços, eu fiquei. Então, ele pôs meus braços para trás e amarrou, mandando eu ficar quieta. Depois colocou o revólver na minha cabeça de novo, foi quando escutei barulho da polícia", diz. "Elas chamaram a polícia, essas vadias, vamos meter um tiro na cabeça delas", ameaçou.
Nesse momento, Marluce diz que o celular tocou. "Coloquei meu celular no short, aí tocou, era meu filho desesperado. Ele [bandido] pegou meu celular e falou já perdeu, já perdeu".
Negociação - Tio e sobrinho, Paulo Cesar da Luz Lazaretti, de 38 anos, e John Willian Silva da Luz, 31, começaram a negociar com a polícia da janela do quarto. "Eles quebraram as portas do guarda-roupas e colocaram na janela por causa de tiro. Então, dispararam e pegou no teto", conta.
Para se entregar, mandaram que as vítimas ligassem para a imprensa. "Falou 'liga aí dona, para a gente poder sair'. Aí me deu o telefone dela [Yolanda], procurei um número, liguei, a pessoa não entendia nada que eu falava", lembra.
A todo momento, pediam joias, dinheiro e perguntavam do cofre. "Nós achávamos que íamos morrer", fala a amiga. A idosa então começou a passar mal e Marluce pediu para que os bandidos a liberassem. "Pedi para soltar ela que ela tem problema no coração e estava passando mal. Eles estavam drogados, bêbados, senti cheiro de bebidas".
Enquanto Paulo pedia a arma para matar as vítimas, o sobrinho pedia perdão. "Ele estava mais agitado, pedia a arma para matar logo", lembra. Em determinado momento, Jhon pediu perdão. "Você me perdoa?". Marluce aproveitou que ele estava mais suscetível, então, pediu que convencesse o tio para soltar Yolanda. "Conseguiu convencer ele, umas duas horas depois", revela.
A idosa então foi liberada. "Pegaram ela e tentei correr, mas ele me pegou pelo cabelo, me puxou, eu escorreguei e caí. Então, levantei, saí correndo e me tranquei dentro do banheiro. Ele começou a chutar e deu outro tiro, passou por cima, pegou na parede".
Nesse momento, Marluce pegou o celular da idosa, que ficou com ela, e começou a iluminar na janela, para que a polícia visse. "Nisso, escutei ele chorando e falando pode entrar, vou me entregar". Depois, foi resgatada. "Não conseguia abrir a porta do banheiro de tão nervosa", revela.
Dona Yolanda também conversou com o Campo Grande News. Chorando muito, disse que está ainda com dor de cabeça e assustada. "Foi horrível o que fizeram com a gente. Eles estavam com faca, cortaram meu braço, apertaram minha boca e falavam que iam cortar meu pescoço para eu falar onde estava o cofre. Ele gritava que queria ouro, mas eu dizia que não tinha cofre", relembra.
Os bandidos pegaram as joias da vítima e Paulo, que estava mais violento, ameaçava as vítimas com a arma. "Ele queria minha aliança, mas não saía do meu dedo e ele ficou torcendo de um lado para o outro. Depois, colocou revólver na minha boca e falou 'você quer que eu te mate?'. Eu falava com Deus para não deixar a gente morrer", conta a idosa.
Ela foi agredida pelo autor. "Ele me deu soco na barriga e me riscou com a faca na barriga. Quando pediu para chamar a mídia e Direitos Humanos, apertava meu pescoço, gritava. Uma hora colocou meu travesseiro no rosto, eu não conseguia respirar, eu falava 'você não tem mãe?'", lembra.
Yolanda mora há 38 anos na região, diz que está com medo e pretende ir embora. "Estou até agora surda com o barulho do tiro. Eu tinha muito medo deles, estavam enlouquecidos. Se não acreditássemos em Deus, hoje não estaríamos vivas", finaliza Yolanda.