Alunos de escola passam por revista após aviso de massacre
A equipe policial esteve nesta manhã na Escola Estadual Blanche Dos Santos Pereira, no Bairro Tijuca
Após aviso de massacre pichado no banheiro masculino, alunos da Escola Estadual Blanche Dos Santos Pereira, no Bairro Tijuca, em Campo Grande, tiveram as mochilas e os pertences revistados pela equipe da Ronda Escolar da Polícia Militar nesta quarta-feira (4). Quatro policiais participaram da ação. Nada de irregular foi encontrado. O autor da ameaça ainda não foi identificado.
Conforme adolescente de 16 anos, situação semelhante, de ameaça, aconteceu no ano passado, também no banheiro dos meninos. “Picharam a parede ameaçando o massacre. Mas no ano passado não teve revista da polícia. Lembro que faltou bastante gente, porque o pessoal ficou medo”, contou. A aluna relatou ainda que na ocasião, o diretor chamou os estudantes e alertou que tal situação não era brincadeira e que se o autor fosse identificado seria afastado da escola.
O autônomo Júlio César Vieira, de 36 anos, foi levar a filha de 16 anos e ficou assustado ao se deparar com a movimentação dos policiais na porta da instituição. Ele disse que não sabia do aviso de massacre, só ficou sabendo nesta manhã. “No fim do ano passado, teve a mesma coisa. Não trouxe a minha filha e bastante gente faltou. Agora, fico na dúvida se a deixo aqui. A mãe dela fica preocupada, porque esse tipo de ‘brincadeirinha' preocupa”, lamentou.
Em razão da revista, por volta das 7h20, a filha de 14 anos de Clarice Moreira, de 49 anos, ainda não havia entrado. A aula começa às 7h. Ela acredita que a revista deveria acontecer depois que os alunos já estivessem em sala de aula. “Se o aluno tiver armado e se deparar com um fuzuê desse, ele não vai entrar. Acho que deveriam fazer as revistas depois, porque aí não tem como fugir”, disse.
Segundo Clarice, no ano passado, houve três alertas de massacre com datas marcadas. “Eles [os adolescentes] acham bonito aparecer, só insisti para a minha filha ficar hoje porque tem prova de Geografia e trabalho para entregar. Essa situação me preocupa muito. As escolas não são como antigamente. Antes a gente deixava o filho e ficava tranquilo”, contou.
Clarice acredita que a instituição deveria ser mais rígida para evitar situações como esta. “Deveriam chamar os familiares, psicólogos. Para o adolescente isso é brincadeira. Pelo o que fiquei sabendo, os pais do último aluno que fez isso sequer foi chamado na escola. Não tem punição. Às vezes não há advertência nem na casa”, reclamou.
Clarice citou como exemplo o caso ocorrido dentro de escola em São Paulo, onde um aluno de 13 anos matou a professora e feriu outras cinco pessoas. Ela acredita que os alunos deveriam ser orientados a avisar à direção sobre qualquer situação suspeita. “Tiro pela minha filha. Embora a oriente bastante em casa, eles [os adolescentes] estão sempre distraídos e não percebem muita coisa ao redor. A escola deveria fazer palestras e orientar mais os alunos”.
A dona de casa de 43 anos, que pediu para não ter o nome divulgado, aguardava para falar com a direção. Ela tem dois filhos na instituição, no 1ª e 2º ano do Ensino Médio. “Estou enjoada disso. Todo ano é a mesma coisa. Eles [a coordenação] falam que estão tomando providências. Quero saber que tipo de providência é essa? Ano passado, meus filhos ficaram três dias sem vir à escola, porque causa disso. Tenho medo de acontecer algo aqui e eles não souberem como agir”, desabafou.
Conforme o policial Amarildo Santa Cruz, coordenador operacional da Ronda Escolar no Estado, somente nesta semana, as equipes atenderam quatro denúncias de massacre e chacina em escolas, tanto estaduais quanto municipais. Os relatos são os mesmos. Os avisos são pichados nos banheiros. “Cada escola tem o seu perfil de abordagem em situações como essa. É necessária a ronda escolar justamente para tranquilizar os pais, que ficam apavorados e sem saber como agir”, disse.
A ronda escolar atende 122 escolas na Capital. “Constantemente, os diretores estão pedindo ajuda para a polícia. Embora a violência tenha caído nas escolas, ainda temos muitos alunos com problemas, com dificuldade de relacionamento. Os pais não têm mais tempo de dialogar com os filhos”, completou.
Nas últimas semanas, ameaças de massacre ocorreram ao menos em duas instituições de ensino. Na Escola Municipal José Mauro Messias da Silva, nas Moreninhas, e na Escola Estadual Nova Itamarati, em Ponta Porã.
Respostas - Por meio de nota, a Semed (Secretaria Municipal de Educação) informou que possui parceria com a Guarda Municipal e com os policiais do Programa Escola Segura Família Forte, que monitoram escolas e também desenvolvem palestras e conversas preventivas com os alunos.
No caso da Escola Municipal José Mauro Messias, o ocorrido foi registrado em ata, "os policiais estão realizando trabalho de conscientização com os alunos. O caso também está sendo monitorado para que se identifiquem os autores".
Ainda segundo a Semed, a equipe da Secoe (Setor de Acompanhamento de Conflitos Relacionados à Evasão e Violência Escolar) estará na unidade nos próximos dias para orientação dos alunos e monitoramento do caso.
Segundo a assessoria de imprensa da SED (Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul), para prevenir supostas ameaças no ambiente escolar, a secretaria disponibiliza por meio da Coordenadoria de Psicologia Educacional conjunto de orientações, manuais e ações pontuais sobre procedimentos e encaminhamentos.
Ataques - Os pais têm ficado apreensivos com casos de violência que vem ocorrendo em instituições pelo Brasil. Nesta manhã, uma creche foi alvo de ataque em Blumenau, no Vale do Itajaí, em Santa Catarina. Quatro crianças foram mortas e cinco ficaram feridas.
Segundo a polícia, um homem de 25 anos pulou o muro da creche e iniciou o ataque contra as crianças com uma machadinha. As vítimas foram atingidas na região da cabeça. Após a ação, ele se entregou no Batalhão da PM. O suspeito tem passagens por porte de drogas, lesão e dano, segundo a Polícia Civil.
No fim do mês passado, adolescente de 13 anos matou a facadas uma professora de 71 anos, na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. Elisabeth Tenreiro era professora de ciências e foi golpeada pelas costas.