Ao sair da prisão, idoso retorna para casa e volta a colocar lixo no quintal
Ele foi liberado nesta terça-feira após audiência de custódia, mas também não quer tratamento
Idoso de 68 anos, preso após guardar toneladas de lixo voltou para casa no início da tarde desta terça-feira (1º). Apesar de ter passado a noite na prisão, ele aparenta não ter noção da gravidade do que está acontecendo e, inclusive, nega ajuda psicológica. Ao retornar, a primeira coisa que fez foi pegar o lixo que restou na frente do imóvel, que iria ser levado pela empresa contratada, e colocar novamente para dentro do quintal, por cima do muro.
A reportagem tentou falar com ele e entender a situação na qual vive. Apesar de falar muito, ele parece se perder entre os pensamentos. Boa parte do lixo já foi retirada do quintal, em 4 viagens de caminhão. Mas, ainda assim, uma montanha de entulho está entre o portão e a casa dificultando a entrada.
O idoso contou que é eletricista e que a maioria dos materiais recicláveis que tem espalhado por todo o quintal foram adquiridos com os poucos clientes que ele tem. “Mexo com a parte elétrica, com pequenas instalações, sempre sobra uma coisa e outra desses serviços e eu acabo trazendo para casa”, explica, mesmo no local tendo mais do que fios.
Assim que ele chegou em casa, depois que saiu da delegacia, havia alguns palets e restos de madeiras empilhados na calçada e também caixas de papelão, que foram retirados de dentro da casa e seriam levados pela empresa que está fazendo a limpeza, sua primeira atitude foi colocar novamente esses materiais para dentro do quintal, por cima do muro.
“Eu vendo essas coisas, isso dá dinheiro, levo tudo para um depósito de reciclagem e vendo”, conta. Ele explica que coloca tudo dentro de um carrinho para materiais recicláveis e vende. Mas ao ser questionado sobre o lixo que estava no local, como tampinhas de garrafas, e embalagens ele muda de assunto e volta a falar sobre as vendas de recicláveis e diz que não teve tempo de limpar o terreno pois estava viajando para Terenos onde fez um serviço para um amigo, mas também não soube dizer datas e nem explicar sobre a viagem.
Apesar dele não autorizar a entrada na casa, é possível perceber que vive em total abandono, com o mínimo possível para sobreviver, ele quis contar qual sua renda mensal, não fala como consegue entrar na casa e nem como dorme ou se alimenta. “Se eu contar todas as minhas ex-mulheres vão querer a parte delas (sobre a renda mensal). Isso eu não posso falar”, diz.
Quando o assunto é família, ele só diz que já foi casado, depois volta atrás e fala que ainda é casado, mas moram em casas separadas. Questionado sobre os filhos, ele diz que tem três ou quatro, mas que eles “precisam viver a vida deles, eles já são grandes, tem que aprender a se virar”. Ao ser perguntado se morava sozinho, ele responde: “Moro eu e Deus” e diz que dormirá na casa esta noite.
Em nenhum momento ele diz precisar de ajuda médica e nem psicológica, mesmo sendo uma das condições impostas para sua liberdade, determinada em audiência de custódia. Uma das regras era de procurar o Cras (Centro de Referência de Assistência Social) mais próximo da sua casa para atendimento, avaliação psicossocial e possível encaminhamento para tratamento psicológico. “Eu não estou doente, quando estou, eu vou ao médico”, garante e inclusive ele nega que tenha recebido essa recomendação.
Conforme informações da assessoria de imprensa da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), em casos como do idoso ele é assistido pela unidade de saúde próxima, recebe acompanhamento da assistência social e, se for o caso, é encaminhado pra tratamento psiquiátrico. Mas, na maioria dos casos, há recusa de tratamento.