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Capital

Atrás do 2º emprego, pessoas com deficiência vão a mutirão na Capital

Empresas de segurança se uniram em ação para contornar dificuldade de contratar esses trabalhadores

Cassia Modena | 28/04/2023 11:38
Processo seletivo com 65 vagas segue até as 14h desta sexta (28) na Funsat (Foto: Henrique Kawaminami)
Processo seletivo com 65 vagas segue até as 14h desta sexta (28) na Funsat (Foto: Henrique Kawaminami)

No último dia útil desta semana, Paulo Rodrigues da Silva saiu de casa na intenção de substituir um dos dois empregos atuais. Ele foi até a Funsat (Fundação Social do Trabalho de Mato Grosso do Sul) nesta sexta-feira (28) e participou do processo seletivo que oferece 65 vagas para pessoas com deficiência, o caso dele, para trabalhar em empresas de vigilância que custeiam formação exigida na área.

Coveiro no Cemitério Santo Antônio, vigilante patrimonial em uma empresa e também beneficiário do Auxílio-Acidente do INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), que paga meio salário mínimo, ele precisa se desdobrar para manter a casa.

"Se eu ficasse só com o benefício, não ia sobreviver com R$ 500. Preciso ter dois empregos, mas quero sair de um deles e conseguir outro melhor, que me dê qualificação. Por isso estou aqui", justifica Paulo.

Acidente sofrido no ano 2000 deixou Paulo com deficiência visual (Foto: Henrique Kawaminami)
Acidente sofrido no ano 2000 deixou Paulo com deficiência visual (Foto: Henrique Kawaminami)

O que também chamou a atenção foi a capacitação gratuita. Esse é ponto fraco no currículo dele há 20 anos, desde que sofreu um acidente de trabalho. Funcionário de uma empresa de construção civil na época, ele perdeu a visão do olho direito após um arame arrebentar e atingir em cheio o globo ocular.

Aos 54 anos, acrescenta que a idade é outro fator que o desafia, além da deficiência visual. "A gente fica esquecido. Você pode até ter boa qualificação, mas a idade avançou. As empresas que estão contratando hoje, eu agradeço muito por nos darem essa oportunidade", fala.

Salário baixo - Bruno Andrade, 33, também se interessou pelo mutirão e foi até a Funsat.

O salário baixo na atual função de auxiliar de cozinha o levou a decidir trabalhar na área de vigilância no turno em que está livre. Sua remuneração mensal atual é de R$ 1,5 mil mensais, aproximadamente. "Quero conciliar outro emprego com esse porque não está dando para pagar as contas", afirma.

Bruno é auxiliar de cozinha e precisa de outro emprego para complementar renda (Foto: Henrique Kawaminami)
Bruno é auxiliar de cozinha e precisa de outro emprego para complementar renda (Foto: Henrique Kawaminami)

O candidato tem deficiência desde os 15 anos. Trabalhando informalmente nessa idade, ele perdeu os dedos de uma das mãos ao ser atingido por uma barra de aço. Chegou a receber benefícios por um tempo, mas logo entrou no mercado de trabalho formal para não ficar parado.

"Só nunca entrei nessa cota da pessoa com deficiência, sempre procurei empregos comuns mesmo. Esse mutirão tem empresa oferecendo salário melhor para a gente e ainda dá curso. Seria muito bom conseguir", torce Bruno.

Pouca procura - Gestor de Recursos Humanos da empresa Mega Segurança, Paulo Nunes afirma que é sempre pequena a procura de pessoas com deficiência pela vaga, mesmo durante o mutirão. Participando como recrutador, ele precisa selecionar pelo menos cinco candidatos.

Em duas horas da ação, apenas duas pessoas chegaram até o guichê onde Paulo Nunes estava, todos homens. "Conferimos os documentos, pedimos o laudo médico e falamos sobre o curso", explica sobre a triagem.

Gerente da Agência Municipal de Empregos da Funsat, Ilda Lucinda explica que o medo de perder alguns benefícios e não se encaixar nas funções pode ser uma das razões para poucas pessoas com deficiência procurarem as vagas.

"Eles falam que têm benefício social e têm medo de perder. Nós explicamos que a lei ampara para que voltem logo a receber, caso saiam do trabalho. Basta requerer. E nós estamos aqui, sempre de portas aberta, com acessibilidade e vagas disponíveis", explica Ilda.

Ainda de acordo com a gerente, as vagas nas empresas de vigilância podem ser mais atrativas que um benefício por chegarem a dois salários mínimos. Os salários oferecidos pelas empresas participantes do mutirão estão na faixa de R$ 1,6 mil e incluem adicional de periculosidade, adicional noturno, ticket alimentação e vale-transporte.

Vagas na área - Mato Grosso do Sul tem 40 empresas da área de segurança privada filiadas ao Sindesv-MS (Sindicato das Empresas de Vigilância Segurança e Transporte de Valores de Mato Grosso do Sul). Entre elas é que foram identificadas as 65 vagas disponíveis no mutirão da Funsat.

Dificuldade de contratar pessoas com deficiência é contínua, diz presidente do Sindesv-MS (Foto: Henrique Kawaminami)
Dificuldade de contratar pessoas com deficiência é contínua, diz presidente do Sindesv-MS (Foto: Henrique Kawaminami)

Presidente do sindicato, Amilton José explica que somente as empresas com mais de 100 funcionários precisam contratar pessoas com deficiência para atender às exigências legais. A dificuldade de encontrar candidatos para a área é problema contínuo.

"A maioria dessas empresas tem vagas o tempo todo para as pessoas com deficiência e é raro conseguir encaminhar alguém. Quando o grau de deficiência é compatível com a função, ela contrata, paga o curso, mas tem casos que a pessoa não se adéqua ao trabalho e pede demissão", diz Amilton.

O encaminhamento de mulheres para as vagas é pouquíssimo frequente, acrescenta o presidente do Sindesv. "E nós temos vagas para elas. As mulheres com deficiência podem também exercer essa função", reforça.


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