CCZ tira das ruas, mas entrega animais doentes para adoção
Cães e gatos para adoção saem do centro sem qualquer triagem ou tratamento de doenças
Chegamos às 17h e pegamos a senha número 4 com o intuito de ver os cães para adoção. Enquanto aguardávamos, conversamos com o casal que tinha a senha número 3 e queria adotar um cachorrinho. Eles contaram que já haviam adotado um gatinho no mesmo lugar. Na ocasião, o felino estava infestado com pulgas e vermes e, após ser levado para casa, foi necessário o uso de medicamentos e produtos para restabelecer a saúde do animal.
O local em questão é o CCZ (Centro de Controle de Zoonozes) de Campo Grande. O órgão responsável por conter as doenças transmitidas por animais, distribui cães e gatos recolhidos na rua sem nenhum tratamento, orientando apenas que os tutores levem os bichinhos no veterinário, sem a garantia de que eles realmente vão fazer isso.
A enfermeira Michelle Pinho Echeverria, de 36 anos, também esteve no CCZ para adotar um cachorro há alguns dias. "Meus filhos estavam pedindo um cachorro há um tempinho e partiu deles a adoção", conta ela. Mas ela estranhou algumas coisas quando esteve no local e depois que levou o animalzinho para casa. A escolhida foi uma cadelinha preta, à qual colocaram o nome de Jurema.
"Nunca fui muito chegada a cachorro, mas me impressionei com a situação. Eles ficam todos juntos, não tem diferenciação, não tem triagem, ficam separados só por idade. Todos os cachorros que chegam ficam juntos, com pulga, carrapato. São cachorrinhos magros, debilitados. Alguns bem novinhos chegam e eles não dão ração própria para a idade. Se não tem uma cadela amamentando, não dão leite", descreve Michelle.
Ainda, Michelle reclama que ao final do processo de adoção, o órgão emite entrega um papel que diz que o animal adotado é vacinado e vermifugado, entretanto, depois de tudo, "eles simplesmente falam para procurar um veterinário porque o cachorro não é vacinado e vermifugado", destaca.
No CCZ - A reportagem tentou agendar uma visita ao CCZ para verificar os procedimentos com os animais, assim que chegam até o momento da adoção. Como não recebemos resposta sobre esta visita, solicitamos então uma entrevista por telefone com algum responsável do órgão, que foi negada "devido a indisponibilidade do pessoal para a entrevista", conforme comunicado da Sesau (Secretaria Municipal de Saúde Pública), à qual o CCZ é ligado.
Pela visita que fizemos com a possibilidade de escolher um cão para adoção, verificamos realmente que não há triagem ou qualquer tipo de tratamento com os animais. Há duas baias para cães adultos, sendo uma para machos e outra para fêmeas. Em outro local há outras duas divisões para filhotes menores e maiores.
Em conversa com o funcionário que guiou a visita, ele disse que os tratamentos não são realizados devido à grande rotatividade. "A gente orienta a pessoa que adotar a fazer o vermífugo aguardar de 10 a 15 dias e fazer as vacinas", explicou.
Realmente, a legislação não obriga os CCZs dos municípios a protegerem e tratarem os animais recolhidos, entretanto os municípios carecem de políticas públicas neste sentido, já que cães e gatos apreendidos nas ruas estão sendo apenas direcionados às casas, com a possibilidade de continuar transmitindo as doenças que são portadores, pois não há garantia que seus tutores realmente vão levá-los a clínicas veterinárias e aplicar tratamentos.
"Levamos na clínica e a consulta foi R$ 100,00. O exame, mais R$ 100,00. Ela estava anêmica, com as plaquetas super baixas. Cheia de vermes. Com os medicamentos, tudo deu quase R$ 400,00. A gente pode pagar, mas tem muitas pessoas que vão adotar e não podem. Como que fica?", questiona Michelle.
Um bom exemplo da criação de políticas públicas para os animais de estimação é o Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal ligado à Secretaria Municipal do Verde, Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Prefeitura de Campinas. De acordo com entidades de proteção aos animais, o órgão está se tornando referência no Brasil no que diz respeito ao cuidado de animais domésticos.