Comunidade é pega de surpresa com desmonte e fechamento de projeto assistencial
Unidade do programa Rede Solidária foi inaugurado em 2015, com presença do ex-presidente Fernando Henrique

Os moradores do Bairro Dom Antônio Barbosa foram pegos de surpresa com o desmonte e fechamento da Rede Solidária Unidade Ruth Cardoso, que oferecia aulas às crianças e serviços assistenciais à comunidade em geral. Inaugurado em 2015, com a presença do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, a entidade chegou a atender 300 crianças, mas viu o serviço minguar no decorrer dos anos, chegando ao auxílio diário de 30 jovens.
O programa Rede Solidária foi montado dentro do espaço comunitário da Fraternidade Despertar, desenvolvido no bairro.
Moradora do Dom Antônio, Diana Perez, 36 anos, trabalha há 7 anos na unidade, sendo uma das coordenadoras e vizinha da unidade. Na sexta-feira, por volta das 9h, um caminhão estacionou e o desmonte começou. “Chegou pessoal da secretaria e retirou tudo”, disse, referindo-se à Sead-MS (Secretaria Estadual de Assistência Social e Direitos Humanos), responsável pelo programa social.
Diana também diz que os 17 servidores também não estão mais lá. No quadro de pessoal estavam psicólogos, educadores, assistente social, além do setor administrativo e atendentes. “Todo mundo saiu”, diz.
Já foram levados móveis, geladeira, freezer e cadeiras. Na brinquedoteca, o que havia sido
deixado pela secretaria, também foi levado, ficando para trás itens doados por outros parceiros e entidades. Há outros objetos que foram separados e serão retirados hoje, como os violões da orquestra da unidade, que atende 35 crianças. "Tudo que estava organizado eles desencaixotaram e deixaram tudo ali, na sala".
Diana diz que não houve qualquer aviso prévio da retirada ou possível mudança da unidade.
Hoje, recebeu uma folha de papel com a informação que alguns itens levados vão ser devolvidos à unidade: uma pia inox, um fogão industrial, uma mesa escolar de madeira, 12 cadeiras pretas e 5 cadeiras brancas. Mas sobre o atendimento, nenhuma atualização.
“Não sei o que vai ser das crianças sem as aulas”, lamentou. Atualmente, segundo Diana, o programa atendia 30 crianças, de segunda a sexta, com aulas de reforço. Aos domingos, 70 crianças eram atendidas com atividades, e a comunidade em geral recebia cesta de verduras, arrecadas do Ceasa, e alimentos em geral. A unidade também mantinha orquestra com 35 integrantes que usavam instrumentos musicais doados no programa.
Diana cita, ainda, o projeto destinado às gestantes, que frequentavam a sala de costura. Ao longo da gestação, elas aprendem a fazer roupinhas para os bebês e, na fase final, recebiam kit com 45 peças, contendo fralda, sabonete e as roupinhas confeccionadas no projeto.
A diarista Silvia Chavez, 49 anos, foi até a unidade hoje cedo para buscar informações. Ela frequenta o espaço da sala de costura e, à tarde, deixa o menino na unidade, o que lhe dá tempo de trabalhar. “Com ele aqui fico despreocupada, mas, agora, vou ter que deixar de pegar diárias para ficar com ele”, lamentou.

Proposta – A unidade foi inaugurada no dia 13 de novembro de 2015, em evento com a presença do ex-presidente FHC, viúvo da antropóloga Ruth Cardoso, e do então governador Reinaldo Azambuja.
Naquele dia, a informação prestada é que o programa Rede Solidária atenderia “pelo menos 850 pessoas na Capital, sendo que até 2018 os serviços serão instalados também no interior”. Seriam 38 projetos em sete áreas: Educação, Cultura e Esporte; Esporte Cidadão; Escola da Família; Saúde e Prevenção; Segurança Cidadã; Voluntariado; e Horta Orgânica e Trabalho e Renda.

A reportagem entrou em contato com assessoria da secretaria. A informação é que o programa Rede Solidária está passando por reformulação, com novas propostas de atuação. “Questões físicas e pedagógicas estão sendo resolvidas para que esse atendimento seja colocado de forma contínua”, informou.
Em nota, acrescenta que o bairro tem um Cras (Centro de Referência de Assistência Social) para atender a demanda.
A reportagem questionou se a unidade vai ficar fechada e sem atender as crianças até a reformulação e aguarda retorno para atualização do texto.