Coordenador da Apae recebia 4% de propina por fraude em compras para ostomizados
Paulo Henrique Muleta de Andrade é contratado da instituição desde 2015 e esquema começou em 2019
Alvo de mandado de prisão durante a operação Turn Off, na manhã desta quarta-feira (29), o coordenador técnico do CER/Apae (Centro Especializado de Reabilitação da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais), Paulo Henrique Muleta de Andrade, recebeu propina para favorecer as empresas dos também investigados Lucas Andrade Coutinho e Sérgio Duarte Coutinho.
Conforme apurou o Campo Grande News, Paulo teria iniciado a tratativa com os empresários em 2019 para favorecê-los nas compras realizadas para atender os pacientes ostomizados, com recursos provenientes dos convênios firmados com o Estado.
Paulo, que é fisioterapeuta e contratado da Apae desde 2015, receberia 4% das vendas efetuadas pelas empresas dos irmãos Lucas e Sérgio. No entanto, com receio de transferir o dinheiro para a conta bancária do coordenador, a propina foi paga em espécie no dia 16 de julho de 2019.
Toda a operação do grupo foi comprovada através de troca de mensagens interceptadas pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) que também mostraram que a conduta dos investigados continuou nos anos de 2021 e 2022. Ainda na investigação, o favorecimento para as empresas de Lucas e Sérgio foi promovido por outra funcionária da Apae, no entanto, ela não foi alvo da operação.
Em nota, a Apae informou que não sabia de quaisquer irregularidades praticadas pelos funcionários dentro da instituição e que não compactua com nenhum tipo de ação que possa ter beneficiado de forma ilícita “quem quer que seja”.
Além disso, a instituição afirma que não recebeu nenhuma notificação legal e está à disposição para auxiliar as autoridades nas investigações.
Ostomizados - Pessoas ostomizadas são as que passaram por intervenção cirúrgica para abertura ou caminho alternativo para saída de fezes ou urina, além de auxiliar na respiração ou alimentação. Muitos desses procedimentos são feitos para tratamento de câncer.
A operação - O Ministério Público de Mato Grosso do Sul investiga o desvio de R$ 68 milhões em contratos com empresas que prestam serviços e fornecem produtos para as secretarias de Educação e Saúde de Mato Grosso do Sul. As apurações começaram durante a Operação Parasita, deflagrada no dia 7 de dezembro de 2022.
Segundo o Gaeco, “Turn Off” faz referência ao "primeiro grande esquema descoberto nas investigações, relativo à aquisição de aparelhos de ar-condicionado e decorre da ideia de ‘desligar’ (fazer cessar) as atividades ilícitas da organização criminosa investigada”. No total, foram expedidos oito mandados de prisão e 35 de busca e apreensão.
Além de Paulo, outra sete pessoas foram presas: o secretário-adjunto de Educação, Édio Antônio Resende de Castro, as servidoras Simone de Oliveira Ramirez Castro e Andrea Cristina Souza Lima, e o ex-superintendente de Comunicação, Thiago Mishima. Também foram cumpridos mandados de prisão contra o empresário Sérgio e ainda contra Victor Leite de Andrade. Já Lucas não foi encontrado.
O ex-titular da Secretaria Estadual de Saúde, Flávio Brito, atual adjunto da Casa Civil, também foi alvo de busca e apreensão e intimado para depor amanhã na sede do Gaeco. As buscas foram cumpridas em Campo Grande, mas também em Maracaju, Itaporã, Rochedo e Corguinho.
Na casa de um dos alvos, foram apreendidos dólares e euros. Nesta manhã, pelo menos duas empresas foram alvo de mandados de busca e apreensão: a Maiorca Soluções em Saúde e Isomed Diagnósticos, ambas têm contratos com o Governo de Mato Grosso do Sul, firmados até 2022, para fornecimento de produtos e serviços.
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