Criminalidade dispara e Campo Grande tem mais de 51 registros de furtos por dia
Moradores da Mata do Jacinto contam como é conviver com furtos diários, sem solução
Em 10 anos, Campo Grande nunca havia registrado um índice tão alto de furtos em único mês. Em abril, deste ano, foram 1.733 casos, conforme dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), de Mato Grosso do Sul, que retrata a série histórica desse tipo de delito na Capital.
No estado, até agora, foram lançados 24.537 boletins de ocorrências por furtos, a Capital concentra praticamente a metade deles: 12.348, mais de 51 por dia. Os índices atuais já se assemelham ao total praticado em todo ano de 2020, com 12.551, quando foi decretado oficialmente o período pandêmico.
Depois das regras de isolamento, a escalada nos índices de furtos, recomeça a partir de 2021, quando o ano fechou com 15.325 registros. No topo do ranking anual, até o momento, 2018 é o que registrou o maior índice da última década ao atingir 16.798 furtos, média de 46 ao dia, inferior a atual.
Veja os meses com menores e maiores índices de furto desde 2012:
Cansados dos furtos
Comerciantes, moradores e nem mesmo igrejas, estão ‘imunes' aos frequentes furtos que acometem Campo Grande.
O empresário João Camargo Filho, 51 anos, prepara o novo empreendimento onde será instalada uma fábrica de móveis planejados, no Bairro Mata do Jacinto, região norte da Capital. Mas antes mesmo do lançamento já acumula prejuízos. “Há cerca de 15 dias levaram toda a fiação e tive que gastar cerca de R$ 1,5 mil para consertar e reforçar a caixa do relógio de medição com grades. Quem furta não tem medo, mesmo com a energia ligada levaram os fios”, lamentou Camargo.
Na última quinta-feira (25), a residência da advogada, Luciane Ribas. 47 anos, foi o mais recente alvo dos furtos no mesmo bairro. Em decorrência de uma obra na calçada de casa a fiação ficou exposta, o suficiente para chamar atenção dos ladrões.
Na manhã desta quarta-feira (31), no chão ainda era possível ver os vestígios do que sobrou de material para reparar os danos que custaram R$ 320,00 à moradora. Segundo Luciane, o prejuízo só não foi maior porque um de seus cachorros espantou o bandido. “Acho que, conforme ele [ladrão] puxou, a fiação arrebentou fazendo barulho. Foi quando o cachorro latiu e ele saiu do local”, relatou a consultora jurídica.
Cercados
Devido à sensação de insegurança, comerciantes e moradores se dizem de ‘mãos atadas' e se defendem trocando informações por telefone, em grupo de conversas, para monitorar o que ocorre de suspeito na vizinhança. Principalmente pela presença de usuários de drogas na redondeza.
Em uma região onde empresas e residências ocupam o mesmo espaço, o que chama atenção são as medidas de segurança adotas pelos proprietários dos imóveis. São muros altos, cerca elétrica, câmeras, concertina e até arame farpado. Em alguns casos, tudo em um mesmo espaço.
É assim na casa da moradora, Maria Socorro Rizendo Matinez, 57 anos, uma das mais antigas da Mata do Jacinto. Ela diz que quando chegou era tudo mato e há 28 anos acompanha o desenvolvimento no lugar e sabe bem os transtornos dos furtos.
Depois do primeiro furto, tudo mudou na rotina, diz ela. “Os ladrões fizeram um limpa” levando quatro televisores, joias, dinheiro, entre outros pertences”. Traumatizada, após o ocorrido, hoje vive trancafiada com receio do que possa ocorrer. “A gente vive presa dentro de casa porque não temos segurança. Aqui os furtos ocorrem à luz dia”, relata a auxiliar de cozinha.
Segundo a moradora, todo esse aparato não evitou que a obra da casa da filha, Gislaine, construída em terreno anexo oo seu, fosse saqueada. Mais uma vez, o produto do furto foi a fiação. “Levaram todos os fios da construção, mesmo sabendo que temos monitoramento. Minha filha gastou uns R$1,5 mil para repor o material”.
Quem combate
Desde o início deste ano está em andamento uma operação conjunta da Polícia Civil, prefeitura e GCM (Guarda Civil Metropolitana), denominada Lata Velha, para para coibir aumento do furto de fiação e grelhas de bueiro. Bem como descobrir quem são os receptadores do material furtado.
As ações de fiscalização, que ocorrem geralmente em comércio de compras de sucatas, contam com equipe da GCM, Defurv (Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos), Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) e Vigilância Sanitária Municipal. Calcula-se que até o momento o prejuízo à Prefeitura de Campo Grande, devido aos furtos desses metais na cidade, ultrapasse R$ 1 milhão.