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Capital

Defesa da JBS alega “má-fé” em enxurrada de ações por mau cheiro

Escritório que atende os moradores diz que ações individuais são necessárias devido as suas particularidades

Por Jhefferson Gamarra | 15/05/2024 15:38
Defesa da JBS alega “má-fé” em enxurrada de ações por mau cheiro
Unidade da JBS em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Diante de uma série de ações semelhantes e individuais movidas pelo mesmo escritório de advocacia, exigindo compensação por danos morais e materiais para residentes do Bairro Nova Campo Grande, alegando danos ambientais devido à emissão de gases prejudiciais que provoca o mau cheiro na região, a defesa da JBS contestou os processos, alegando que os advogados dos moradores estão praticando litigância predatória.

Segundo o CNJ (Conselho Nacional de Justiça), algumas práticas de mover ações em grande quantidade, utilizando petições padronizadas, com teses genéricas, em nome de pessoas vulneráveis com o objetivo de obter ganhos financeiros ilícitos, são consideradas litigância predatória da advocacia.

Nas ações, o escritório Siqueira & Biava, que busca reparação financeira aos moradores, alega que a JBS, “opera atividade potencialmente poluidora que gera incomodo e aflição nos moradores da região, produzindo fumaça (poluição atmosférica) e exalando odores (cheiros) potencialmente danosos”. As petições são idênticas, mudando apenas o nome e CPF do requerente na procuração que dá direito aos advogados atuarem na defesa e na declaração de hipossuficiência.

Contestando as ações dos moradores, a defesa da JBS afirma que foram encontradas mais de 50 ações indenizatórias com a mesma causa e ajuizadas pelo mesmo escritório de advocacia “com contornos explícitos de litigância predatória” e “dispersando a discussão em inúmeros juízos, o que dificulta sobremaneira o direito de resposta”.

“Foram ajuizadas quase uma centena de ações individuais, todas absolutamente versando sobre a mesma matéria (causa de pedir), invés da propositura de uma ação coletiva. Repita-se, todas as ações indenizatórias possuem exatamente o mesmo pedido e causa de pedir, sem individualização de fatos ou da suposta relação da causa de pedir com os Autores. A bem verdade, a única alteração que pode ser encontrada entre as indenizatórias são os autores”, reforçou a defesa da JBS.

Para reforçar a tese de “má-fé” do escritório que defende que o modus operandi utilizado pela defesa dos moradores na captação de clientela é o comum nas hipóteses de litigância predatória, como a convocação em massa da população, como postagens patrocinadas em redes sociais, procurações suspeitas, preenchidas manualmente, com diversidade entre a letra do preenchimento e da assinatura.

No entanto, o print de publicação patrocinada em redes sociais anexado pela defesa da JBS na contestação, sequer pertence ao escritório que assina a petição inicial. (veja abaixo)

Defesa da JBS alega “má-fé” em enxurrada de ações por mau cheiro
Print anexado pela defesa da JBS alegando que escritório faz captação em massa de clientes, mas que não pertence aos advogados que defendem os moradores (Imagem: Reprodução)

Com base na enxurrada de ações semelhantes, os representantes da JBS pedem a extinção dos processos por litigância predatória e de má-fé. Além disso, a JBS sugeriu que a Corregedoria de Justiça seja acionada para adoção de providências quanto a suspeita de prática de litigância predatória e a OAB/MS para apuração de eventual infração ética dos advogados que defendem os moradores.

Em entrevista ao Campo Grande News, o advogado Wellington Biava, sócio do escritório Siqueira & Bava, que atua nas ações dos moradores do Nova Campo Grande, confirmou que peticionou cerca de 80 ações semelhantes cobrando indenização por danos morais e materiais aos moradores da região do entorno da planta frigorífica. Segundo ele, ainda serão distribuídas outras 300.

Sobre a acusação de praticar advocacia predatória, o advogado ressaltou que apesar das ações serem semelhantes, “cada caso é um caso” com particularidades e pedidos de indenização diferentes entre eles e que não poderia ajuizar uma ação coletiva, pois atende clientes individualmente e não a associação de moradores.

Defesa da JBS alega “má-fé” em enxurrada de ações por mau cheiro
Advogado Wellington Biava, sócio do escritório Siqueira & Bava, que atua nas ações dos moradores do Nova Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

“Tem pessoas que já estão acostumadas com cheiro, tem pessoas que se incomodam com o cheiro, outras que tiveram doença por conta do cheiro e até pessoas que ficaram invalidas em decorrência do mau cheiro. Por isso que não posso entrar com uma ação apenas, porque nesse caso todas as pessoas vão receber o mesmo valor. Isso tem que ser individualizado. Um comerciante que vende comida por exemplo, em um dia de cheiro podre perde a clientela, então tenho que individualizar ele”, explicou o advogado.

Sobre a captação em massa de clientes, o Biava diz que todos os moradores que reclamam do mau cheiro na região e entraram com ação contra o frigorifico foram captados individualmente, e que muitos são clientes antigos de outros processos. Ele reforça ainda que a página patrocinada no Facebook para angariar clientes de forma massiva não pertence ao seu escritório.

“Isso é de outro escritório de advocacia, não é nosso. Nós nunca postamos nada em redes sociais, não estamos em grupos e os posts foram feitos pelo nosso escritório. Isso está explícito, é só comparar e ver que o escritório do print não é o mesmo da petição inicial. Até mesmo os números de contato não são do nosso escritório. Não faço advocacia predatória e posso provar que todos já são meus clientes, então todos já estavam no meu banco de dados”, finalizou.


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