Defesa promove bate-boca com promotoria em júri
Estratégia é desqualificar indícios da investigação sobre a execução do estudante Matheus Coutinho
Foram duas horas de depoimento da delegada Daniela Kades, a primeira testemunha do julgamento dos réus pela morte de Matheus Coutinho Xavier. Bate-boca entre defesa e promotoria e a intenção de colocar em dúvida os indícios levantados pela investigação marcaram o depoimento.
Na fase dos questionamentos feitos pelos promotores, Daniela Kades falou sobre o início da força-tarefa, quando os crimes foram levados para grupo especial de investigação. “Em 2018 e 2019, começaram a ocorrer assassinatos com elementos em comum. Até então, não tínhamos mortes de fuzis, armas de grosso calibre e veículos incendiados”.
Na morte de Matheus Coutinho, nada levava a crer que o acadêmico de Direito de 19 anos fosse o alvo original. “Até pela brutalidade do crime: fuzil 762, incêndio do carro usado no dia seguinte”, contou. A força-tarefa passou a investigar se o pai do rapaz, Paulo Roberto Teixeira Xavier, era a vítima em potencial.
Daniella falou sobre a ligação de Xavier com o advogado Antônio Augusto Souza Coelho, residente em São Paulo, mas que teria negociações com os Name, entre elas, a venda de fazendas da Associação das Famílias para Unificação da Paz Mundial.
Coelho teria procuração da associação para negociar as fazendas Invernadinha e Figueira, terras de interesse de Jamil Name Filho. As propriedades teriam sido comercializadas com terceiros, o que causou revolta de “Jamilzinho”. Além disso, Xavier teria passado a trabalhar para o advogado, deixando de oferecer os serviços para a família Name.
“Isso para família Name significa traição”, afirmou a delegada. Ela citou que havia receio do advogado em travar uma disputa direta com os Name, citando o depoimento do desembargador do TJ/MS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul), Joenildo de Souza Chaves, que participou de turbulento jantar na casa de Jamil Name.
Chaves diz que foi até a casa dos Names acompanhar Coelho para tentar resolver o impasse sobre a fazenda. Durante o encontro, o advogado não concordou com os termos apresentados para “Jamilzinho”, que reivindicava as fazendas. “A janta acaba, Jamilzinho passa a se descontrolar, diz que vai matar Antônio Augusto, vai e volta do quarto algumas vezes”, contou a delegada, acrescentando que o desembargador se colocou na frente do advogado e atrás de pilastra, com receio da situação.
A delegada relata os indícios apontados na investigação que demonstrariam a ligação dos réus. O hacker que foi contratado por Juanil Miranda para mapear Paulo Xavier; os extratos bancários de repasse de dinheiro de José Moreira Freixe, o “Zezinho”, para Marcelo Rios comprar armas para os Name em Ponta Porã; o depoimento da filha de Juanil, dizendo que, dias antes do crime, o pai testou gravar por telefone, no painel do carro, trecho da rua onde Matheus morava com o pai; o depoimento de advogada que foi procurada por Vladenilson Daniel Olmedo, dias antes do crime para saber do paradeiro de Paulo Xavier; a prisão de Marcelo Rios com arsenal que seria da milícia comandada pelos Names, no dia 19 de maio de 2019. Com Rios, também havia pen drives e 17 folhas impressas com pesquisas sobre Antônio Augusto Coelho.
A defesa dos réus procurou desconstruir a narrativa, centrando força no que considera fragilidade nos indícios apontados. Entre os fatos, a inexistência de rastreamento dos celulares dos réus, não comprovando a proximidade entre eles ou no local do crime. Daniela Kades disse que isso seria impossível se de mapear, já que havia indícios de que os integrantes da milícia dos Name trocavam até 15 vezes de chips em um único dia. Também citou o uso de bloqueadores pela quadrilha para esse intento. “Nem sempre a não indicação de presença quer dizer que não estiveram ali”.
Alexandre Padilhas, que representa Vladenilson Olmedo, tentou demonstrar que não há indícios de que o policial civil tenha se encontrado com advogada para falar sobre Paulo Xavier. “Vocês entrevistaram porteiro? Foi verificado se Vlad marcou encontro?”. A delegada respondeu que não, voltando a falar da dificuldade de se mapear os telefones, pela troca de celulares.
O debate mais acalorado aconteceu com Márcio Widal, que representa o ex-policial Marcelo Rios. A defesa queria demonstrar que o cliente não esteve presente na casa de Jamil Name quando Paulo Xavier foi chamado por “Jamilzinho”, um dia depois da morte de Matheus, para deixar a cidade.
A delegada citou um depoimento de Paulo Xavier, que Marcelo Rios estaria presente. “Mas isso está nos autos, eu não tenho que indicar”, disse Daniela. Widal pediu a página nos autos onde consta essa fala e, com a negativa, pediu que constasse a falta da informação. O bate-boca começou envolvendo o promotor Moisés Casarotto e até o juiz Aluizio Pereira dos Santos que pediu para que se desse prosseguimento.
A estratégia de desqualificar os indícios continua e Widal pediu provas de que Marcelo Rios deu a arma para Juanil Miranda e Zezinho executarem a vítima. “Quem deu?”. A delegada respondeu: “O núcleo criminoso”. Ele rebateu: “Não, nomes, qual elemento de prova que apoia essa informação?”. Novamente, o juiz interrompeu e fala que a investigação trabalhou com indícios e material circunstancial. “Essa prova que o senhor quer ela não tem, pronto, vamos prosseguir”.
O advogado Nefi Cordeiro, que representa Jamil Name Filho, questionou trecho do depoimento da delegada que tratou do receio de Antônio Augusto Coelho. “Onde consta esse medo?”. A delegada respondeu, depois de novamente questionada, que foi conclusão da investigação, já que o advogado não externou o receio, sendo citando no interrogatório do desembargador.
Depois de 2 horas, a sessão foi interrompida para o almoço.
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