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Capital

Depoimento de ex-PM que furtou corpo é confuso e contraditório, diz delegada

Ex-PM disse que primo furtou corpo sozinho, mas depois deu detalhes do que aconteceu e “inventou” a participação de um terceiro

Mirian Machado | 21/02/2019 08:23
José Gomes aguardando para entrar na audiência de custódia nesta terça-feira (19) (Foto: Guilherme Henri)
José Gomes aguardando para entrar na audiência de custódia nesta terça-feira (19) (Foto: Guilherme Henri)

O primeiro depoimento do ex-PM José Gomes Rodrigues de 57 anos, suspeito de furtar o cadáver da ex-namorada Rosilei Potronieli, de 37 anos, foi marcado por contradições. Ele foi ouvido na tarde de quarta-feira (20) no Centro de Triagem em Campo Grande, onde o ex-tenente está preso, e resumiu que furtou o corpo por amor.

Conforme a delegada de Dois Irmãos do Buriti, Nelly Gomes, José estava aparentemente muito atormentado. Ele ficava alternando entre os momentos de aparente surto e lucidez. “Ele disse que ouvia vozes que falavam para ele praticar o crime e depois ouviu a voz da Rosilei dizendo que não queria ficar enterrada na cidade”, detalha.

A todo momento ele se contradizia, ainda segundo a delegada. Primeiro, havia informado que a ideia do furto do cadáver foi do primo, Edson Maciel Gomes, e que ele teria ficado dentro do carro, mas depois detalhou como o furto ocorreu. “Como ele soube detalhar o exato momento do furto se estava dentro do carro?”, questiona a delegada.

Nelly conta que em outro momento, Rodrigues “inventou” que uma terceira pessoa que teria participado do crime, um andarilho, mas não soube informar se esse envolvido era “real”.

A delegada disse que o ex-PM chorou muito durante o depoimento. “Ele disse que fez isso por amor. Disse também que os familiares dela não sofreram porque não gostavam dela. Só ele a amava, só ele se importava, então furtou o corpo para ficar perto dele”, conta.

Em relação ao histórico doentio de violência doméstica - Rosilei tinha contra José pelo menos 11 boletins de ocorrência -, ele afirma que a namorada gostava de “provocá-lo”. 

Delegada Nelly Gomes, de Dois Irmãos do Buriti, durante coletiva de imprensa (Foto: Henrique Kawaminami)
Delegada Nelly Gomes, de Dois Irmãos do Buriti, durante coletiva de imprensa (Foto: Henrique Kawaminami)

A defesa alega que o ex-tenente é esquizofrênico, mas a delegada disse que não ter sido informada sobre a doença psiquiátrica formalmente. “A defesa não me entregou nenhum laudo ainda, mas o fato de ele ser esquizofrênico não prova que ele não tinha consciência do que estava fazendo. Tem que ser periciado e comprovado que no momento da conduta ele não tinha discernimento”.

O próximo passo agora, segundo Nelly é ouvir as filhas de José. Ambas moram com ele numa casa em Terenos e estavam no local no momento em que o corpo foi enterrado.

O caso - Rosilei foi esfaqueada no sábado, dia 9 de fevereiro, e morreu no dia 10. O velório e o enterro acontecerem na segunda-feira (11) pela manhã, mas no dia seguinte, após chamado do coveiro do cemitério, a Polícia Civil descobriu que o corpo havia sido furtado.

Após investigação e duas prisões, a polícia descobriu que o ex-tenente da PM, que tinha relacionamento marcado por idas e vindas com Rosilei, foi quem furtou o corpo. Segundo Edson, primo de José que ajudou na operação para levar o corpo do cemitério, o ex-PM e a mulher teriam um “pacto de amoro eterno”.

O cadáver foi localizado no dia 13, enterrado na chácara de Rodrigues, que fica em Campo Grande, na saída para Três Lagoas.

Edson chegou a ser preso, mas foi ouvido e liberado. José está preso desde domingo (17), porque foi flagrado dirigindo bêbado em Campo Grande. O ex-PM também é investigado por homicídio em Terenos e a namorada seria testemunha-chave.

Pelo crime de subtração de cadáver, ele e o primo podem pegar pena máxima de três anos de prisão.

O assassino da Rosilei, Adailso Couto, 38, que a princípio não tem qualquer ligação com José ou com o furto do corpo, está preso desde o dia 14, quando se entregou na Delegacia de Polícia de Terenos.

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