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Capital

Do presídio, líder do PCC comanda tortura e lista 27 condenados à morte em MS

Áudios da Operação Flashback II mostram liderança do PCC em MS, no Presídio de Segurança Máxima, no comando de ações da facção

Silvia Frias | 31/07/2020 14:59
Operação foi comandada em Alagoas e desencadeada e mais dez estados, entre eles, MS (Foto/Divulgação: MPAL)
Operação foi comandada em Alagoas e desencadeada e mais dez estados, entre eles, MS (Foto/Divulgação: MPAL)

Áudios interceptados na Operação Flashback II, desencadeada em 11 estados do País, evidenciam a importância de Mato Grosso do Sul na cadeia de lideranças do PCC (Primeiro Comando da Capital). De dentro do Presídio de Segurança Máxima, um deles, integrantes da "Linha Vermelha", a segunda escala em poder na hierarquia da facção criminosa, comanda torturas e divulga decreto de sentença de morte aos infratores do grupo, 27 somente aqui no Estado.

O Campo Grande News teve acesso aos áudios interceptados. Neles, o preso "graduado" do PCC lista 212 condenados à morte em 24 Estados. Em outra gravação, comanda o castigo a um dos infratores em outro estabelecimento penal, sendo possível ouvir gemidos de dor. “Enquanto não cair, pode dar continuidade”, diz o criminoso, sobre a sessão de tortura.

A Operação Flashback II foi desencadeada na última terça-feira (28), sob o comando das polícias e do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) de Alagoas, na captura de integrantes do PCC naquele estado, MS e mais nove estados do país (Sergipe, Pernambuco, Ceará, Bahia, Paraíba, Piauí, Paraná, São Paulo e Minas Gerais), com cumprimento de 216 mandados de prisão e de busca e apreensão.

Maioria dos mandados foram cumpridos na Máxima (Foto/Arquivo: Henrique Kawaminami)
Maioria dos mandados foram cumpridos na Máxima (Foto/Arquivo: Henrique Kawaminami)

“As maiores lideranças do PCC, em nível nacional, são geralmente os que têm mais tempo de facção e estão nos presídios de São Paulo, Paraná e, principalmente, Mato Grosso do Sul”, disse o diretor da Deic (Divisão de Especial de Investigação e Captura), delegado Gustavo Henrique, da Polícia Civil de Alagoas, que comandou parte da operação.

Foram três meses de investigação e interceptações telefônicas que captaram conversas das lideranças em diversos estados, entre eles, Mato Grosso do Sul. O delegado diz que ainda é necessário identificar como essas lideranças conseguem ficar próximas e o motivo da preferência, nesta ordem, dos presídios de MS, SP e PR.

“De alguma forma, eles conseguem ficar no mesmo presídio, às vezes, no mesmo módulo ou até na mesma cela; e isso é importante para eles estrategicamente, facilita a comunicação e a tomada de decisões da facção”,

disse Gustavo Henrique. Dos 23 mandados de prisão expedidos em MS, somente um é de investigado que não está detido em algum estabelecimento penal do Estado e, aliás, continua foragido.

A Polícia Civil não divulgou os nomes dos presos. A reportagem apurou que integram a lista os faccionados conhecidos como Revoltado, Daleste, Dimas, Lenda Viva, Mormai, Celestino, Carroça, Parma, Pesadelo, Tranca Rua, Paraguai, Malta/Alemão, Igner e Jeba.

Material apreendido durante a Operação Flashback (Foto/Divulgação: MPAL)
Material apreendido durante a Operação Flashback (Foto/Divulgação: MPAL)

Fora e dentro dos presídios, os “Linha Vermelha” estão em pontos estratégicos de Mato Grosso do Sul. O promotor Hamilton Carneiro, do Gaeco de Alagoas, explica que estão neste nível hierárquico os “gerais” dos estados, que trabalham na organização do PCC, com batismo, cadastro e cumprimento das normas da facção.

Um destes presos é Junior César Figueiredo Santos, 22 anos, o Antony Maciel, que estava no Presídio de Segurança Máxima Jair Ferreira de Carvalho, em Campo Grande e teve mandado de prisão expedido na Operação Flashback II. Ele ocupa a função de “apoio do resumo” espécie de adjunto ou Secretário do Geral de MS, com elevada função na “Linha Vermelha”.

O Campo Grande News teve acesso a alguns áudios interceptados. Em gravações no dia 13 de junho, Antony Maciel conversa com a esposa (Lívia) e comenta que recebeu mensagem com atualização dos “decretados”, ou seja, os condenados à morte pelo PCC em 24 estados.


Ele se espanta com o número total, “212!” e passa a listar por estado. Segundo o Gaeco, alguns não entram na conta, pois têm autonomia de decisão. Quando chega aos sentenciados de Mato Grosso do Sul, comenta: “Quero nem olhar, meu Deus!”. A esposa tenta adivinhar e ele fala 17, ao que ela responde: “Aí só tem lixo!”. Em seguida, ele corrige para 27. Depois, em outra conversa, Antony fala a outros membros do PCC, inclusive a esposa "de parceiro", que estão todos cientes do que precisa ser feito.

Em outra gravação, de 3 de julho, Antony e diversos líderes do PCC promovem “julgamento disciplinar”, que termina com castigo físico imposto a um preso de estabelecimento penal não identificado. Pelo áudio, percebe-se que o homem deve apanhar enquanto se aguentar em pé. Ele tenta evitar alguns golpes e é advertido. “Não protege da cobrança não, que vai ser pior”.

A todo momento, o preso consulta Antony sobre o castigo imposto. “Enquanto não cair, pode dar continuidade”, ele responde. Em certo momento, o preso pede arrego. “Deu uma sentada aqui, diz que não aguenta mais”. O outro ordena: “fala para ele levantar aí” . O preso que está na cela diz que “já está posicionado aqui”. Antony responde: “Pode meter mais, bichão”.

O promotor Humberto Carneiro diz que as informações interceptadas serão remetidas aos Estados para continuidade das investigações.

A primeira fase da Operação Flashback teve investigação iniciada em abril de 2019, culminando no cumprimento de mandados de busca e apreensão e de prisão em novembro daquele ano.


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