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Capital

Dois são presos suspeitos de lucrar R$ 4 milhões com golpe do falso consórcio

Frederico Nardson e Vitória Chaparro foram presos nesta manhã (5) pela Decon

Bruna Marques e Mariely Barros | 05/07/2023 10:45
Frederico e Vitória foram presos pela Decon. (Foto: Henrique Kawaminami)
Frederico e Vitória foram presos pela Decon. (Foto: Henrique Kawaminami)

Aplicando golpe do falso consórcio desde 2019, Frederico Nardson, 38 anos, e Vitória Chaparro, 23, foram presos na manhã desta quarta-feira (5), em Campo Grande. Em 4 anos, 800 pessoas foram enganadas. Só em 2022, os estelionatários lucraram R$ 4 milhões. A meta para este ano era R$ 5 milhões.

A Decon (Delegacia Especializada do Consumidor) e o Procon Estadual investigam o grupo criminoso desde 2019. O golpe começou a ser aplicado em Mato Grosso do Sul por dois homens, que vieram do Paraná e Mato Grosso. Em Campo Grande, o homem e a mulher tinham escritórios em mais de três endereços, na região central.

Contra a dupla havia mandados de prisões preventivas em aberto. Durante diligências, os policiais encontraram a mulher na Vila Marcos Roberto e o homem no Conjunto Residencial Mata do Jacinto.

De acordo com o delegado titular da Decon, Reginaldo Salomão, o perfil das vítimas eram pessoas pobres que sofreram os impactos da pandemia, perdendo emprego e bens. Eles aplicavam o golpe para comprar carros de luxo.

“Foi uma investigação que marcou a gente no Procon e na Decon, justamente por conta dessas pessoas que foram lesadas. As vítimas eram pedreiros, piscineiros, que perderam tudo que tinham achando que estava fazendo um negócio. Eles tiravam de pessoas menos assistidas e menos providas para comprar Land Rover e ficarem em hotéis de luxo no Rio de Janeiro”, disse Salomão.

Uma das vítimas, mulher de 20 anos, perdeu R$ 1,5 mil, quantia que demorou dois anos para juntar. “Ela trabalha descarregando caminhão e levou dois anos para juntar o valor. Ela descarrega por dia oito caminhões e perdeu tudo no golpe”.

Durante a prisão desta manhã, uma Land Rover foi apreendida. Neste ano, uma Toyota Hilux 2023 já havia sido confiscada.

Dinâmica do golpe – Salomão explica que o homem e a mulher induziam jovens a anunciarem nas redes sociais veículos e imóveis. Eles vendiam os bens com o preço abaixo do mercado e quando a vítima demostrava interesse no produto, o anunciante dizia que já havia sido vendido, mas que o cliente poderia conseguir uma carta de crédito, ofertando qualquer valor, sem consulta do SPC e Serasa.

“As pessoas davam o montante que tinham para eles esperando receber a carta de crédito e a promessa era que em sete dias já estaria com o bem, mas isso não acontecia”, afirmou o delegado.

O grupo era composto por 30 pessoas. “Alguns desses jovens que anunciavam os produtos serão indiciados. Alguns deles sabiam que era prática criminosa e continuaram. Outros não tinha conhecimento, esses só foram ouvidos”, disse.

Cerca de 800 pessoas já caíram no golpe, segundo Salomão, 130 não quiseram representar contra os criminosos e alguns desistiram do processo. “Mais de 200 estão sendo assistidas e continuaram com o processo. Além de vítimas não identificadas. Quando as vítimas procuraram o Procon, foram informadas de que se tratava de um golpe”, revelou.

Os estelionatários usavam chips de celulares com o DDD 011, dizendo ser número da matriz da empresa. Além disso, produziam conteúdos que não eram verídicos e divulgavam nas redes sociais “vídeos com pessoas fingindo terem sido contempladas, para que as vítimas acreditassem que receberiam o bem”.

Os criminosos tinham muitas empresas abertas, sendo um deles “dono” de 28 CNPJs (Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica). “Eles colocavam nomes internacionais nas empresas para passar credibilidade”, declarou o delegado.

Quando as vítimas procuravam o Procon para denunciar as empresas, o órgão ia até o estabelecimento e fechava. “Eles mostravam o CNPJ, só que eles não tinham autorização do banco central para fazer o serviço, então o Procon lacrava o local para pararem de dar o golpe”, explicou.

“Desde que começaram as investigações, algumas pessoas desse grupo desistiram e estão colaborando com a Justiça, assistidos por advogados, outros fugiram”.

Um homem, que atualmente reside em Sergipe, está com mandado de prisão em aberto pelos crimes praticados em Mato Grosso do Sul.

No começo deste ano, a mulher presa nesta manhã já havia sido detida pela Polícia Civil. “Ela foi presa em uma dessas empresas que eles abriram, com quatro notebooks. Em questão de 15 minutos que foi solta, descobrimos que ela voltou com os computadores para a empresa e arrebentou o cadeado que o Procon tinha colocado”, finalizou o delegado.

 Land Rover apreendida durante prisão dos suspeitos. (Foto: Henrique Kawaminami)
 Land Rover apreendida durante prisão dos suspeitos. (Foto: Henrique Kawaminami)

Defesa – De acordo com a advogada do estelionatário, Gisele Bompard, a pressão do homem foi um equívoco, uma vez que no inquérito policial não existem contratos no nome do cliente.

“Ele é proprietário de uma representação de consórcio. Em 2021 e 2022, a Decon recebeu reclamações em relação a vendas de consórcio, mas não é especificamente sobre o meu cliente. Lá onde ele locava, ele acabou sublocando para outras representações também, onde acabou acontecendo essas denúncias. Envolveu ele porque as pessoas que iam até o local viam ele por lá”.

Segundo Gisele, todos os funcionários foram indiciados no processo. “Se você pegar o inquérito, você vê que o delegado indiciou todo mundo, desde a recepcionista até as vendedoras. As pessoas não falavam diretamente com meu cliente, falavam diretamente com as vendedoras. Cada representante tinha o seu CNPJ e o dele não estava vinculado a nenhum”.

Gisele Bompard, advogada do Frederico, durante entrevista em frente à Decon. (Foto: Henrique Kawaminami)
Gisele Bompard, advogada do Frederico, durante entrevista em frente à Decon. (Foto: Henrique Kawaminami)

O dinheiro que era depositado pelos clientes, conforme explica a defesa, tinha como destino a cooperativa que era responsável pelo consórcio. “Depois, a cooperativa pagava o percentual de cada consórcio para os representantes. A delegacia está achando que meu cliente é o chefão e ele não é nada disso. Ele infelizmente só locou o espaço e acabou acontecendo isso”.

O mandado de prisão foi expedido na última sexta-feira. O homem havia acabado de chegar em casa e foi preso na porta de casa. “Já entramos com o pedido de habeas corpus para soltar ele, porque a alegação é infundada, no inquérito não há prova de que o dinheiro caiu na conta de nenhum dos três que foi expedido o mandado de prisão”, afirmou a advogada.

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