"Ela não era tão frágil e eu não sou tão forte", diz Luiz Afonso sobre arquiteta
Empresário tenta convencer júri a não aceitar qualificadoras de crime
“Ela não era uma pessoa tão frágil. E eu não sou tão forte”. Com essa frase, o assassino confesso da arquiteta Eliane Nogueira, o empresário Luiz Afonso dos Santos de Andrade, 43 anos, se defendeu hoje perante o júri, no Fórum de Campo Grande, ao receber a palavra para se manifestar sobre o caso do juiz Aluizio Pereira dos Santos, ao fim do interrogatório.
Em seu depoimento, Luiz Afonso reafirmou a confissão, tentou atenuar a gravidade do crime impondo à esposa morta a pecha de ciumenta e admitiu que no dia do assassinato pensou em forjar um acidente e cometer suicídio, mas acabou desistindo. Indagado sobre porque deixou o carro incendiado disse que o instinto de proteção falou mais alto ao ver as chamas. “Não tem jeito, a gente sai".
Depois de ser interrogado, por 25 minutos, Luiz Afonso foi questionado sobre o juiz se teria algo mais a falar. Disse que “falaria horas”. A partir daí, afirmou que discorda de duas das três qualificadoras constantes da peça de acusação contra ele, que, se acatadas pelos jurados, podem aumentar a pena.
O empresário está sendo julgado por homicídio doloso triplamente qualificado, por meio cruel, motivo torpe e recurso que dificultou a defesa da vítima.
Sobre o meio cruel, o fato de ter colocado fogo no corpo de Eliane, Luiz Afonso se calou. Sobre as outras duas qualificadoras é que ele disse discordar, afirmando que a mulher não era tão frágil e que ele também não é um homem tão forte.
Luiz Afonso reclamou que “não estão considerando tudo o que aconteceu nos dois, três anos de relacionamento entre ele e Eliane”.
O empresário se mostrou ciente de que não há recurso jurídico que possa colacá-lo em liberdade, mas insistiu que qualificar o crime por motivo torpe e recurso que dificultou a defesa de Eliane é exagero.
Para a defesa, o motivo torpe foram os ciúmes que Luiz Afonso sentia de Eliane, agravados pelo fato de que ela estava em ascenção profissional e financeira, enquanto ele estava na direção contrária.
No interrogatório e em sua fala quando recebeu a palavra, Luiz Afonso procurou o tempo todo dizer que na verdade, era Eliane que tinha ciúmes dele.
Relação conturbada- Ao detalhar a noite do crime - quando, mesmo separados 3 dias antes - haviam ido juntos a um evento social, disse que por três vezes tentou deixar a companhia de Eliane e houve insistência da parte dela para que continuasse com ela.
Nesse dia, relatou, Eliane manifestou uma preocupação que segundo ele durou todo o namoro e casamento, de que ele tivesse outra pessoa, uma forma indireta de ilustrar o ciúme atribuído à esposa morta.
Em duas das discussões a respeito, segundo o empresário, a mulher o feriu no lábio. Em outra, ele bateu o joelho.
Questionado pelo juiz sobre ser ciumento, Luiz Afonso disse que seu histórico de vida indica o contrário, mas declarou que “ciúmes, desde que dosado não se torna prejudicial”.
Uma declaração dele ao juiz que chamou a atenção foi ao ser perguntado se gostava de Eliane. “Eu amo”, respondeu.
Ao argumentar que nem a esposa era tão fraca nem ele é tão forte, contou que uma lesão na mão direita sofrida há alguns anos tirou força dos movimentos.
Sobre o relacionamento com Eliane, disse que era conturbado e que a esposa se “prevalecia da condição de mulher”. Segundo ele, em várias ocasiões foi “agredido e humilhado”.
Luiz Afonso disse que a relação dos dois, iniciada, segundo ele, em meados de 2007, teve mais de 10 términos e voltas.
O réu citou relacionamentos anteriores para convencer o júri de quem não é problemático. A ex-mulher com quem viveu antes de Eliane, Kely Gruber, chegou a gravar um depoimento, exibido no plenário, no qual nega que Luiz Afonso fosse ciumento com ela.
No vídeo, que teve de ser exibido duas vezes por causa da qualidade baixa, Kelly diz não ter conhecido Eliane, mas que o filho dela com Luiz Afonso, de 12 anos, comentava que os dois tinham uma relação conturbada.
Luiz Afonso citou ainda uma outra mulher com quem, segundo ele, viveu por 10 anos, chamada Jussara. De acordo com ele, as duas se dispuseram a falar sobre ele sem problemas.
O empresário está sendo julgado por 4 homens 3 mulheres, 8 meses após o corpo da mulher ser achado, carbonizado, no veículo dela, no dia 2 de julho do ano passado. Ele só confessou o crime no dia 7 de janeiro deste ano, em juízo. Hoje, disse que esperou tanto tempo porque teve medo.