Em carta para juiz, Nando diz que foi torturado para confessar assassinatos
Luiz Alves Martins Filho é apontado como líder de grupo de extermínio que matou 16 pessoas em Campo Grande
Apontado pela Polícia Civil como dono de um “cemitério particular” em Campo Grande, Luiz Alves Martins Filho, o “Nando”, alega que sofreu tortura física e psicológica para confessar os 16 assassinatos atribuídos a ele. Ele ainda acusa outro homem, que segundo a Polícia Civil, seria um dos integrantes do grupo de extermínio que atuava na região bairro Danúbio Azul.
Na carta, escrita com a ajuda de um companheiro de cela, Nando relata que quando foi preso, no dia 10 de novembro do ano passado, policiais usaram uma sacola plástica para asfixiá-lo e lhe deram choque para fazer com que ele falasse sobre os homicídios que estava sob investigação.
O acusado dos assassinatos em série conta que depois da suposta sessão de tortura na delegacia, ele foi levado para um local deserto, onde continuou apanhando e sofrendo ameaças.
“Manuziarão (sic) a pistola na minha cabeça, o tempo todo me batendo e me ameaçando de morte”, diz um trecho da carta. Ele completa: “mandarão (sic) eu correr com objetivo (sic) de me matar”.
‘Foi o Vasco’ – Nando acusa Jeová Ferreira Lima, conhecido como “Vasco” e que chegou ter a prisão temporária decretada por ser suspeito de integrar o grupo de extermínio, de ser o dono do cemitério clandestino no Jardim Veraneio, onde a polícia encontrou 13 ossadas.
Ele argumenta ainda que soube mostrar onde as vítimas dos homicídios foram enterradas porque Vasco teria mostrado a ele.
Gravação – Na carta, Luiz Alves Martins alega ainda ter uma gravação de uma conversa com um policial civil que investigava outros crimes no Danúbio Azul. O áudio de uma câmera que ficou ligada e no bolso da calça dele serviria de prova da tentativa de Nando de denunciar o desaparecimento de pessoas e assassinatos no bairro.
Saúde – A carta foi escrita por um detento que não se identifica, mas diz que Nando não sabe escrever. O interno relata ainda os problemas de saúde do companheiro de cela, que ele precisa de atendimento médico e que está em depressão.
Nando tem uma cistostomia – abertura na bexiga para introdução de catéter para coleta da urina. Por conta do problema, a Defensoria Pública pediu no dia 7 de julho que a prisão preventiva do acusado seja substituída pela prisão domiciliar.
Nos relatos para justificar o pedido, o defensor informa que, ao invés de dormir no colchão e com cobertores – no caso das noites frias –, Nando está dormindo sobre pedaços de papelão, já que há secreção vazando pela abertura de cistostomia feita na bexiga dele, onde é introduzido catéter para coleta de urina.
A urina e pus faz com que o mau cheiro seja constante e que ele tenha de limpar a cela onde está três vezes ao dia, além de lavar mais de seis peças de roupa diariamente.
Primeira denúncia – Na audiência de custódia, em novembro do ano passado, Nando já havia dito à juíza Liliana de Oliveira Monteiro que tortura. Na ocasião, ele disse que “os policiais colocaram um saco plástico em sua cabeça e ameaçaram colocar droga em sua casa”, constou na ata da sessão.
Na época, a magistrada pediu que a denúncia fosse investigada.
A reportagem tentou contato com o defensor de Nando para saber se ele pediu providências com base no conteúdo da carta, mas ele estava em audiência e por isso, só poderia atender no fim da tarde.
O delegado-geral Marcelo Vargas informou não saber sobre a carta, mas que falaria com a Corregedoria da Polícia Civil.
O Campo Grande News também pediu uma posição do juiz que recebeu a carta e da Corregedoria, via assessoria de imprensa, mas até o fechamento da matéria não havia recebido retorno.