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Capital

Em condições duvidosas, veículos circulam limitados à periferia da Capital

Pátio do Detran-MS possui mais de 21 mil veículos apreendidos somente na Capital

Cleber Gellio | 28/02/2022 12:23
Veículo sem itens obrigatórios para rodagem circula no Centro da cidade. (Foto: Cleber Gellio)
Veículo sem itens obrigatórios para rodagem circula no Centro da cidade. (Foto: Cleber Gellio)

Em recente enquete realizada pelo Campo Grande News, sobre trânsito, maioria dos leitores disseram que não se sentem seguros ao dirigir na Capital. Os motivos foram diversos, desde intolerância ao volante, volume exagerado de carros na rua e, principalmente, desrespeito às regras de trânsito. Um fator que chama atenção e levanta dúvidas entre os motoristas é sobre a quantidade de veículos que rodam pela cidade em mau estado de conservação ou até mesmo em estado deplorável.

Segundo dados do Detran-MS (Departamento Estadual de Trânsito de Mato Grosso do Sul), Campo Grande possui 451.379 condutores, que no ano passado, foram responsáveis por 375.302 infrações, sendo 41,73% consideradas de classificação média e 14,39% como gravíssima, passíveis de cassação da CNH (Carteira Nacional de Habilitação). Atualmente, o pátio do órgão conta com 52.792 veículos, sendo 21.088 apreendidos somente na Capital. O órgão não especifica o motivo das irregularidades.

Em um giro pela cidade, a reportagem conversou com condutores e proprietários de veículos com estas características. Muitas vezes, eles passam despercebidos pela fiscalização, talvez porque, em sua maioria, são utilizados para trabalhos mais pesados, como transporte de ferramentas e outros tipos de equipamentos, e não saem de seus redutos: os bairros mais afastados do centro.

Caminhonete 1974 utilizada para frete na região do Santa Emília. (Foto: Henrique Kawaminami)
Caminhonete 1974 utilizada para frete na região do Santa Emília. (Foto: Henrique Kawaminami)

Por motivos óbvios, a maioria dos entrevistados não quis se identificar, mas topou falar com o Campo Grande News sobre as gambiarras para manter o carango ou a motoca rodando. É o caso de C.F, de 47 anos, que realiza fretes na região do Santa Emília, com sua caminhonete Chevrolet C10, ano 1974. Ele explica como construiu a ‘geringonça’. “O conjunto é composto com um pouco de cada veículo. A roda é de Ranger, motor e câmbio são de Chevette e o resto é dele mesmo. E assim vai para todo canto.”

Devem pensar: tem freio, tem pisca, tem motor… vai embora”, C.F, fretista.

Embora tenha consciência sobre as irregularidades no transporte, o fretista afirma nunca ter se envolvido em acidentes e que roda apenas no bairro, por isso, nunca foi pego em nenhuma blitz. “Só trabalho aqui na vila mesmo e estou sempre carregado. Acredito que eles [agentes de trânsito] ao notar que é um trabalhador, relevam a situação. Devem pensar: tem freio, tem pisca, tem motor… vai embora”. Além da C10, ele confessa que possui outro veículo em bom estado, uma Parati, ano 1984, para uso da família. “Esse também é antigo, mas é bem mais conservado. Viajo com ele direto.”

Fiat Uno, fabricação 1996. (Foto: Henrique Kawaminami)
Fiat Uno, fabricação 1996. (Foto: Henrique Kawaminami)

Instalador de cercas elétricas, D. D, de 37 anos, trabalhava no Bairro União no momento em que nossa equipe o abordou. O Fiat Uno, fabricação 1996, que utiliza em suas visitas aos clientes, embora precise de alguns reparos, como uma boa pintura e troca da lanterna traseira, a documentação está em dia, segundo ele. Há oito anos na lida, o veículo estava prestes a ser aposentado, porém, quando o proprietário foi adquirir um veículo mais novo, caiu em um golpe. “Era para ser um outro carro do mesmo modelo, só que mais novo, 2013, mas no ano passado, caí em uma falácia na internet que me custou R$ 12 mil de prejuízo. Minha vontade, se eu tivesse comprado o outro, era de fazer uma rifa desse antigo e doar o valor arrecadado para alguma instituição de caridade. Agora, vou continuar com ele mesmo até as coisas melhorarem”, disse o trabalhador, que também admitiu possuir outro veículo mais novo.

Saveiro, ano 2000, utilizada para entregas. (Henrique Kawaminami)
Saveiro, ano 2000, utilizada para entregas. (Henrique Kawaminami)

Já o comerciante D. Albino, 49 anos, usa uma Saveiro, ano 2000, para fazer entregas de materiais de construção no Bairro São Conrado. Segundo ele, todos os dispositivos de segurança e documentação estão regulares. Com a lataria e pintura meio remendadas, sem para-choque traseiro e tampa da carroceria danificada, o proprietário disse que o único empecilho mesmo ainda é a documentação em nome de terceiro. Já sobre o estado de conservação, ele afirma estar arrumando aos poucos. “Vou arrumando de pouquinho em pouquinho. Como preciso dele para trabalhar, todo final semana vai para a oficina”, disse o comerciante, que também possui outro carro, este com ano de fabricação 2019.

Saco plástico para vedar vazamento de combustível em moto. (Foto: Henrique Kawaminami)
Saco plástico para vedar vazamento de combustível em moto. (Foto: Henrique Kawaminami)

E os arranjos não se restringem aos veículos de quatro rodas, as motocicletas também compõem esse quadro. Na região do Jardim Los Angeles, nossa equipe conversou com L.E. Ugeda, de 33 anos. Diferentemente dos outros condutores, ele não tem nenhum veículo extra, pelo contrário. Há dois meses, utiliza uma motocicleta para fazer a coleta de material reciclado pela empresa em que trabalha. A ‘carretinha’ onde a carga fica alocada não tem placa de identificação e a moto, cedida pelo patrão, é cheia de gambiarras, como a sacola plástica fixada na tampa do tanque de combustíveis para evitar vazamentos. Além de falta de velocímetro e outros itens de segurança, como setas e pneus carecas. “Risco a gente sabe que tem, mas a gente tem que trabalhar. Esse período de pandemia complicou ainda mais a situação”, desabafou Ugeda, pai de três crianças.

Veículo com remendo no retrovisor. (Foto: Henrique Kawaminami)
Veículo com remendo no retrovisor. (Foto: Henrique Kawaminami)

No Centro - Não é somente nos bairros mais afastados que os veículos remendados são notados, vira e mexe, o motorista do Campo Grande News, Erick Josimar, chama atenção para carros novos ou com algum tipo de adaptação inusitada circulando pela região central da cidade.

Critérios de rodagem - De acordo com o chefe do setor de Fiscalização de Trânsito do Detran-MS, Otílio Ruben Ajala Junior, os veículos em estado deplorável, se caírem em uma blitz ou patrulhamento e não estiver atendendo as condições de rodagem com todos os equipamentos obrigatórios e documentação em dia, será removido ao pátio do Detran.

Curiosidade – Engana-se quem acha que os campeões de apreensões estão na lista dos mais antigos. Entre os removidos no pátio do Detran, o maior número de veículos na Capital são do ano de fabricação 2008. O órgão não especifica o motivo da autuação.

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