Em júri, guardador de carro nega que matou estudante: “não tirei a vida do guri”
Resultado do julgamento, presidido pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, será divulgado no período da tarde
Durante julgamento, na manhã desta quarta-feira (20), na 2ª Vara do Tribunal do Júri, acusado pela morte do estudante Danilo Cezar de Jesus Santos, o guardador de carros Railson de Melo Ponte, de 28 anos, o “Maranhão”, negou o crime.
“Não tirei a vida do guri. Eu sinto muito pelo falecimento dele e que Deus conforte o coração da família”, disse. Relatou ainda que confessou o crime, à época, porque foi ameaçado pelos policiais ao ser preso.
Danilo foi encontrado morto no dia 8 de março do ano passado, após dois dias que havia desaparecido, por equipe da DHPP (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes de Homicídios e Proteção à Pessoa). Na ocasião, Railson confessou o crime e em depoimento alegou ter assassinado o estudante de mestrado por ele ter tentado manter relação sexual com o autor.
O julgamento, presidido pelo juiz Aluízio Pereira dos Santos, acontece 381 dias depois de a vítima ser assassinada com um golpe na cabeça e ter o corpo deixado no terreno baldio na Rua Marechal Rondon, no Centro de Campo Grande.
"Não matei" - Conforme Railson, mora em Campo Grande, desde 2014, mas sempre viajava para o Maranhão, sua terra natal. Contou que não conhecia a vítima e cuidava de carro em frente da boate, onde Danilo havia passado a noite, quando foi abordado pelo rapaz perguntando onde vendia droga. “Não combinei programa sexual”, relatou.
Na versão dele, os dois então saíram em busca de entorpecente, mas em razão do horário não encontraram nenhum traficante próximo à boate. Eles seguiram para uma conveniência na Rua Antônio Maria Coelho, mas também não localizaram ninguém vendendo droga. Então, desceram para o terreno, onde a vítima foi encontrada morta, e lá conseguiram comprar pasta base de cocaína de homem conhecido como "Corumbá".
Após usarem o entorpecente, os dois queriam mais, mas como não tinham dinheiro, tentaram trocar o celular de Danilo, um iPhone, numa boca de fumo. O traficante não aceitou o aparelho porque tinha rastreador, conforme Railson. “Este celular no mundo do crime não tem valor”.
Mesmo assim, conforme depoimento de Railson, Danilo entregou o celular e a senha para ele tentar trocar por mais droga, enquanto o estudante o aguardava no terreno. O acusado afirmou que conseguiu trocar o aparelho, mas não voltou ao local e usou a droga sozinho. Dois dias depois, na terça-feira, foi preso pelos policiais. “Eu nego ter matado ele. Não fiz programa sexual com o cara. Isso é invenção dele [do delegado]. É fácil ele como autoridade, que tem fé pública, jogar a culpa em mim”, afirma.
Indagado pelo juiz e pela promotora Luciana do Amaral Rabelo sobre Danilo ter entregado o celular por livre e espontânea vontade, respondeu que “quando a pessoa está louca [por droga], entrega tudo, carro, moto, celular, o que tiver”. Railson negou ser homossexual, afirmando não ter preconceito.
Depoimentos - Conforme a mãe Maria Lúcia de Jesus, de 50 anos, a primeira pessoa a ser ouvida no júri, o filho era prestativo e muito amoroso. Ela contou que morava em Cassilândia e havia se mudado há pouco tempo para Campo Grande, onde vivia com o filho. “Ele nunca foi de sumir, quando não apareceu em casa fiquei preocupada e fui à delegacia registar boletim de ocorrência”, disse.
À reportagem, o professor Álvaro Banducci Júnior, orientador de Danilo no mestrado em Antropologia, lembrou com carinho do aluno. “Ele foi quase um filho pra mim. Era uma pessoa prestativa e muito doce, mas sobretudo era um pesquisador. Inclusive, o único prêmio que eu ganhei na carreira acadêmica foi com um trabalho de Danilo, sob minha orientação”.
Segundo o professor, foi uma grande perda, Danilo realizava pesquisa sobre estudantes de Medicina brasileiros em Pedro Juan Caballero. “Eu tenho toda uma pesquisa na fronteira, projetos de pesquisa e isso foi interrompido. É algo que vai ter que ser reconstruído em algum momento. É uma perda pessoal e uma perda acadêmica considerável”, lamentou.
Ontem, os amigos informaram que iriam protestar na frente do prédio pedindo por Justiça, mas a manifestação não aconteceu. Os amigos começaram a chegar no fórum, por volta das 7h30.
Caso - Na ocasião, quando foi preso em flagrante, o autor relatou que foi com a vítima em busca de droga e quando chegaram ao terreno baldio eles ficaram no local usando entorpecente. No depoimento, o acusado afirmou que o estudante estava com R$ 50 que pertenciam a ele. "Fiquei fumando lá e ele queria ter relação sexual, queria fazer programa".
Railson alegou não ter gostado das investidas de Danilo e que ninguém havia combinado de fazer programa. "Eu agarrei assim no pescoço dele, afastei ele para lá", mostrou ao delegado José Roberto de Oliveira. "Nisso a gente já tinha discutido, porque ele não achou meus R$ 50 e não queria dar o celular. Pensei, vou desmaiar ele para pegar meu dinheiro, não queria matar. Nem sabia que esse cara tinha morrido", completou.
O guardador de carro foi denunciado pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) por homicídio qualificado por motivo torpe, já que o crime foi cometido em razão de “divergência quanto à forma como seria realizado o pagamento pelo programa sexual”, por meio cruel e recurso que dificultou a defesa da vítima. Além da ocultação de cadáver e por roubar a vítima.
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