Em teste de volta às aulas, passageiros reclamam de ônibus lotados “como sempre”
Segundo passageiros, lotação é problema antigo e grande maioria dos usuários são trabalhadores
A volta parcial às aulas com dias de acolhimentos da REE (Rede Estadual de Educação), não impactaram a lotação no transporte coletivo, mas usuários dizem isso não significa que tudo anda bem. As reclamações são de veículos lotados "como sempre", sem esperança de redução nas aglomerações dentro dos veículos.
Por volta das 7h30, em frente à uma das maiores escolas estaduais de Campo Grande, a E.E Joaquim Murtinho, a movimentação no transporte coletivo era praticamente só de trabalhadores (veja o vídeo acima). De acordo com João Henrique de Souza, vendedor ambulante de 62 anos, ontem e hoje não tiveram estudantes descendo dos ônibus que param em frente à escola.
"Chego aqui entre 4h e 5h da madrugada e fico a manhã toda, o que percebo é que só tem o pessoal que trabalha mesmo, vejo domésticas, diaristas, pessoas que trabalham, mas estudantes, ainda não vi nenhum saindo dos ônibus. Acho que é por conta das mortes da covid, o pessoal tá com medo", disse o vendedor.
Essa também é a opinião do contabilista Valfredo Oliveira Silva, de 38 anos, que contou à reportagem que pega três ônibus para ir ao trabalho e ainda não viu nenhum aluno dentro do transporte coletivo. "O pessoal está com medo de mandar os filhos pra escola, por causa da pandemia", disse Valfredo.
Na Rua Rui Barbosa, outro ponto movimentado de ônibus, os usuários também não sentiram aumento na lotação por conta da volta às aulas. "Acho que os pais estão com medo e segurando os filhos em casa, ou então estão levando os filhos por conta própria, de carro, moto, pagando motorista de aplicativo. Se eu vi 10 alunos entre ontem e hoje, foi muito", disse o vigilante Alan Bruno de Paula, de 29 anos, que também pega três ônibus todas as manhãs.
Já na Avenida Manoel da Costa Lima, por volta das 7h, no ponto de ônibus em frente a E.E Amando de Oliveira, na Vila Piratininga, a babá Rose Ferreira, de 59 anos, reclamou que a lotação é antiga e que, independente da volta às aulas, é preciso ter mais ônibus circulando para os trabalhadores, já que o transporte coletivo está sempre lotado nos horários de pico.
"Tá um caos! Com esse negócio do coronavírus não deveria tá assim. Os ônibus já saem lotados do terminal, as pessoas não podem perder o ônibus e acabam se sujeitando a ir com ele cheio. Tinha que ter ônibus extra nos horários de pico. Já cheguei a ficar uma hora esperando, porque os dois ônibus que passaram estavam lotados e não pararam", disse a babá, que ainda completou dizendo que nesta segunda-feira (1º) não viu muitos alunos utilizando o transporte coletivo.
Para a doméstica Renata Vera Quintana, de 38 anos, o problema também é antigo e ela teme que piore ainda mais com a volta às aulas. "Esse negócio de distanciamento não existe, é uma superlotação. Enquanto tá cabendo gente, tá entrando. Quero ver agora, com as aulas voltando, se eles vão liberar mais ônibus por conta dos estudantes", reclamou a doméstica.
Na próxima segunda-feira (8) voltam também as aulas presenciais nas universidades, que foram autorizadas a retornar com até 50% da ocupação das salas. De acordo com João Rezende, presidente do Consórcio Guaicurus, que representa as empresas que operam no transporte urbano da Capital, até o momento não há previsão de aumentar o número de veículos.
"A frota tem que ser disponibilizada de acordo com a demanda, se houver aumento de clientes, temos que aumentar os ônibus", disse João nesta terça-feira (2) ao Campo Grande News. Questionado sobre as reclamações dos entrevistados, Rezende apenas comentou que em outros horários não existe lotação.
Na última semana o consórcio Guaicurus se reuniu com a Agetran (Agência Municipal de Transporte) para programar o retorno das aulas, mas por enquanto a decisão foi de acompanhar a movimentação e ver se a frota que está nas ruas vai atender a demanda ou se será preciso complementar o número de veículos.