Ex-servidor furou sinal e pode ir a júri popular por matar no trânsito
Para o Ministério Público, condutor do Etios que bateu em moto assumiu risco de “ceifar vidas”
O juiz da 1ª Vara do Tribunal do Júri de Campo Grande, Carlos Alberto Garcete de Almeida, recebeu denúncia contra o ex-servidor estadual comissionado Guilherme de Souza Pimentel, que pode ir a júri popular por matar no trânsito. A decisão foi publicada na última sexta-feira (dia 19).
No dia 9 de dezembro de 2023, o acidente matou a auxiliar de cozinha Belquis Maidana, 51 anos, e deixou seu esposo João Paulo Alves, 43 anos, em estado grave. O casal estava em uma motocicleta Honda Biz, que foi atingida por um Toyota Etios da frota do governo de Mato Grosso do Sul, conduzido por Guilherme. A colisão aconteceu no cruzamento das ruas Antônio Maria Coelho e Bahia, Bairro Jardim dos Estados.
De acordo com o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), Guilherme agiu com dolo eventual e assumiu o risco de matar na direção do veículo automotor. Segundo a denúncia, ele fez uso de bebida alcoólica, o carro estava com velocidade de ao menos 73 km/h (quilômetros por hora), acima do permitido, e desrespeitou o semáforo vermelho.
“Assim sendo, restou evidente que o denunciado Guilherme de Souza Pimentel agiu com dolo eventual, uma vez que estava ciente do perigo concreto de acidente com o seu veículo automotor ao dirigi-lo em alta velocidade, sob estado de embriaguez, além de postergar a sinalização semafórica de parada obrigatória, vindo a colidir com a motocicleta na qual estavam as vítimas João Paulo Alves e Belquis de Oliveira Maidana, de modo que assumiu o risco de ceifar as suas vidas”, aponta o promotor José Arturo Iunes Bobadilla Garcia.
O pedido é que ele vá a julgamento popular e pague indenização de R$ 66 mil (50 salários-mínimos do ano de 2023).
De acordo com o inquérito policial, Guilherme seguia pela Rua Antônio Maria Coelho (sentido centro-bairro), quando, no cruzamento com a Rua Bahia, não respeitou a sinalização semafórica que lhe indicava parada, bem como empregando velocidade acima da permitida, provocou a colisão frontal do veículo com lateral esquerda da motocicleta, que se deslocava pela Rua Bahia (sentido centro-bairro) quando foi atingida.
Segundo o documento, assinado pelo delegado Giulliano Carvalho Biacio, da 1ª Delegacia de Polícia Civil de Campo Grande, diante da gravidade do impacto pelo excesso de velocidade, a motocicleta foi arrastada por cerca de 25 metros e as vítimas foram arremessadas ao solo.
Na sequência, o Toyota Etios ainda colidiu com um Virtus, que estava estacionado na Rua Antônio Maria Coelho.
Ao ser interrogado, Guilherme Pimentel disse à polícia que saiu da casa de seu companheiro e teria consumido vinho antes do acidente. O condutor se recusou a fazer bafômetro, mas a PM (Polícia Militar) constatou a embriaguez (olhos vermelhos, odor etílico e sonolência). Ele foi preso em flagrante. Na audiência de custódia, pagou fiança de R$ 66 mil. Guilherme foi exonerado do governo no primeiro dia útil depois do acidente, que foi na manhã de um sábado.
A investigação derrubou a versão do condutor, que disse ter passado a noite na casa do namorado, na Vila Nhanhá. Contudo, imagens de câmera de segurança mostram que o namorado foi até a residência de Guilherme, no Bairro Tiradentes, às 3h40 e saiu sozinho às 6h30 do dia 9, quando foi comunicado sobre o acidente.
“A equipe de investigação comprovou e materializou de que a versão apresentada por GUILHERME DE SOUZA PIMENTEL no sentido de que havia passado a noite na casa do namorado não é verdadeira".
Ouvido novamente, o ex-servidor negou autoria delitivas, afirmando não ter dado causa ao acidente de trânsito, que não ingeriu bebidas alcoólicas antes de dirigir, não conduziu o automóvel em alta velocidade e não avançou o sinal vermelho, explicando não ter realizado o teste de alcoolemia ante a "falta de educação e brutalidade" do policial militar que ofereceu o teste.
No Etios, a investigação encontrou um comprovante de pagamento de cartão de crédito de um bar, localizado na Antônio Maria Coelho, a 1,2 km do acidente. O comprovante tem horário de 1h17 e valor de R$ 24. No bar, a informação foi de que o local foi fechado ao público por volta de meia-noite. Mas alguns frequentadores permanecem num espaço ao lado. A proprietária não sabia afirmar se Guilherme era um deles.
Sobrevivente, João Paulo foi ouvido durante a internação na Santa Casa de Campo Grande. Ele se recorda apenas que seguia com a esposa pela Rua Bahia, quando “viu um clarão” e somente recobrou a consciência no hospital. A moto ficou destruída, com separação do assento, quebra de parte da carenagem e lanterna e farol arrancados.
Com o recebimento da denúncia, haverá etapas de audiência e, só então, será definido se o réu vai a júri popular. A reportagem não conseguiu contato com a defesa do ex-servidor.