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Capital

Greve na coleta de lixo pode proliferar pragas urbanas e várias doenças

Flávia Lima | 16/09/2015 15:38
Sacos espalhados pelas ruas atraem insetos e produzem chorume, líquido tóxico ao meio ambiente. (Foto:Gerson Walber)
Sacos espalhados pelas ruas atraem insetos e produzem chorume, líquido tóxico ao meio ambiente. (Foto:Gerson Walber)

A queda de braço entre a prefeitura da Capital e a Solurb, empresa responsável pela coleta de lixo parece estar longe de acabar. Apesar de liminar da Justiça obrigar a empresa a retomar os serviços em um prazo de 12 horas, a concessionária afirma que irá recorrer da decisão e manter a greve.

O resultado, são lixeiras e depósitos de condomínios lotados há uma semana. Sem alternativa, os moradores e síndicos buscam medidas alternativas, que vão desde o aluguel de caçambas para depositar os sacos até a estocagem dentro das próprias residências.

E é justamente essa última alternativa, considerada por profissionais da saúde, a mais nociva para a população. Segundo ambientalistas, o lixo pode causar diversas doenças, pois oferece água, abrigo e principalmente alimento para o desenvolvimento de insetos e animais considerados pragas urbanas, caso de ratos, pombos, baratas e moscas.

De acordo com o médico infectologista Rivaldo Venâncio, esses animais se transformam em agentes transmissores de doenças, que podem causar infecções através de vermes, vírus, bactérias e fungos.

Isso sem mencionar que, exposto ao ar, como vem ocorrendo na maioria das ruas que estão abarrotadas de sacos, o lixo exala um mau cheiro, originário da decomposição e que acaba atraindo urubus e, no caso das residências, baratas. Além de se nutrirem a partir dos restos da matéria orgânica, eles acabam se proliferando.

Por isso, segundo explica o médico, não adianta os depósitos dos condomínios estarem localizados distantes dos apartamentos, pois esses insetos acabam chegando até eles.

Entre as pragas urbanas que mais causam preocupação, na visão do infectologista, estão os ratos, que transmitem a peste bubônica através de sua urina.

Mas a maior preocupação, segundo ele, deve ser com a formação de ambiente propício para a proliferação do mosquito transmissor da dengue e da leishmaniose. “Semana passada tivemos chuvas intensas. Imagine quantos criadouros não surgiram com o lixo que foi espalhado na rua ou mal armazenado”, questiona.

Até o momento, a Capital teve 5,7 mil casos de dengue, segundo levantamento da Secretaria Estadual de Saúde. A doença já causou duas mortes na Capital, que corre o risco de enfrentar nova epidemia. A última foi em 2013, também sob  o comando de Alcides Bernal.

Outro ponto destacado por Rivaldo Venâncio é quanto ao chorume, líquido produzido pelo lixo acumulado e que é dez vezes mais poluente que o esgoto.

O chorume se origina a partir da decomposição do material orgânico por bactérias. Seu grau de risco pode ser medido pela sua capacidade de dissolver substâncias como tintas e produtos químicos.

Esse cenário foi constatado nesta terça-feira (15), pela equipe do Campo Grande News, em um residencial no Bairro Rita Vieira. Mesmo depositando grande parte do material na calçada, o depósito do condomínio permanece lotado e o piso já apresentava sinais do chorume, além da formação de vermes.

"A preocupação com a saúde pública é gigantesca. Todo esse problema coloca em xeque a dimensão da cidadania. Até quando vamos suportar uma situação dessas? É uma consternação para os cidadãos que pagam seus impostos", ressalta Rivaldo.

Na opinião do infectologista, não adianta vedar ou colocar os restos orgânicos em compartimentos resistentes, pois o odor continuaria atraindo os insetos, sem falar nas chuvas, que podem contribuir com a propagação do lixo. Além dos restos de comida, Rivaldo alerta para o perigo de materiais pontiagudos e enferrujados estarem armazenados nos sacos e ferir algum funcionário de condomínio ou até mesmo os que compõem a força tarefa da prefeitura, que estão recolhendo o lixo na região central.

O perigo, nesse caso, é o tétano, infecção aguda e grave, causada pela toxina do bacilo tetânico, que penetra no organismo através de ferimentos na pele.

O risco se torna maior, segundo ele, se esse material estiver estocado no quintal de uma família que tenha crianças. "Não dá para fiscalizar o tempo todo. Esse lixo guardado em casa se torna mais perigoso próximo dos filhos pequenos", alerta.

Sobre a atitude de algumas pessoas que estão contratando catadores, ele alerta para o que chama de "transferência de risco", já que muitos catadores não possuem equipamento de segurança, como luvas, para separar o material reciclável do orgânico.

A incineração do material para a redução do volume também é condenada por Rivaldo, já que a queima libera gás carbônico, que é tóxico, na atmosfera. Após a incineração ainda é necessário destinar adequadamente o que sobrou desta queima, como as cinzas, que oferecem risco ao ambiente.

"Os riscos são conhecidos das autoridades e não há alternativas seguras para contornar o problema. A Justiça precisa ser mais severa, pois estamos dando um péssimo exemplo para o país", diz.

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