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Há 35 dias internada, Kauanny viu a vida mudar e espera alta da ala pediátrica

Menina de 10 anos enfrenta os desafios de quem aguarda a recuperação em CTIs ou quartos de hospitais

Natália Olliver | 03/09/2023 14:44
Kauanny está internada no HU, em Campo Grande, há mais de um mês (Foto: Juliano Almeida)
Kauanny está internada no HU, em Campo Grande, há mais de um mês (Foto: Juliano Almeida)

Apesar dos olhos simpáticos e semblante esforçado, que tenta manter a felicidade irradiante de uma criança de 10 anos, a dor pela fisioterapia e o incômodo de quem vive em uma ala pediátrica aparece em forma de choro tímido. O dia não foi o melhor para Kauanny Gabrielly, que está internada no HU (Hospital Universitário Maria Aparecida Pedrossian) há exatos 35 dias.

O motivo da hospitalização foi uma osteomielite, infecção óssea geralmente causada por bactérias, microbactérias ou fungos. Do dia pra noite, a menina viu a vida mudar drasticamente. Pega de surpresa e acreditando ser apenas uma dor muscular, a família procurou atendimento médico em Terrenos, município onde moram, a 22 quilômetros de Campo Grande. Entretanto, o estado de saúde da menina era mais grave do que os pais imaginaram e ela foi transferida com urgência para a Capital.

Duas cirurgias foram feitas na perna da garota e a parte mais dolorosa começou: a recuperação. Foi após a primeira sessão de fisioterapia que a reportagem chegou. Apesar de animada, Kauanny chorava antes da entrevista. Esperamos para que se recuperasse e então ela concordou em falar com Campo Grande News sobre como é a vivência no hospital.

“Estou bem, a sessão é difícil porque mexe mais com joelho. Tem sido difícil. Me sinto presa aqui. No começo, senti medo porque tenho medo de fantasma, aqui bastante gente morre”, ri Kauanny.

Agora, após operações, o que resta é esperar. A menina ainda tem que enfrentar mais 20 dias até que os antibióticos acabem. “Tô esperando sair só”. Enquanto isso, ela se distrai com os brinquedos da brinquedoteca da unidade e atividades lúdicas no quarto. “Eu gosto dos brinquedos que tem aqui, dos livros, bonecas, tudo. Gosto de ler qualquer livro. Não precisa ter figuras. Gosto de desenhar também”.

Mãe e filha andam pelo hospital para se distrair durante o dia (Foto: Juliano Almeida)
Mãe e filha andam pelo hospital para se distrair durante o dia (Foto: Juliano Almeida)

A mãe, Dirce Adriano, de 40 anos, não quis aparecer nas fotos. Ela largou tudo para conseguir ficar com a filha. À reportagem a mulher explica que há um mês também virou refém da situação médica de Kauanny e que passar o tempo é tarefa difícil no quarto 114, da ala pediátrica.

“Não está sendo fácil, passam os dias e parece que não vai acabar. Ainda que tenha bastante acompanhamento, tem psicóloga e tudo. Eu saio pra tomar sol na sacadinha ali. A gente só sabe que é dia porque o sol bate bem na janela do lado da cama dela”.

Dirce veio sozinha para Campo Grande. A família mora em uma fazenda próxima de Terenos. Os outros dois filhos, um de 16 e um de 3 anos, ficaram. Aos finais de semana, a mulher troca de lugar com marido e fica com o filho mais novo.

“Como mãe, esse processo foi rápido e doloroso. Tenho que me dividir, final de semana o pai fica aqui com ela e eu vejo o bebê. Já passei por isso com ela quando era pequena. Kauanny teve pneumonia, chegou a ficar entubada no CTI. Eu falo que ela chama Kauanny mas poderia ser Vitória, porque os médicos falaram que o estado dela era grave dessa vez também. Se eu tivesse demorado mais para buscar ajuda, ela poderia ter morrido em duas semanas”.

Menina terá que aguardar mais 20 dias no hopital (Foto: Juliano Almeida)
Menina terá que aguardar mais 20 dias no hopital (Foto: Juliano Almeida)

Passatempo - Para suportar a espera, a menina usa o que o hospital dispõe. Alguns brinquedos, lápis de cor, giz de cera e canetinhas. Antes do incidente, Kauanny gostava de brincar com os amigos na fazenda. “Gosto de brincar de correr e estudar português. Tenho muitos amigos lá”, pontua.

Para não ficar atrasada no conteúdo escolar, a professora manda para o celular da mãe as atividades. “Ela vai fazer fisioterapia aqui, aí depois voltar, vamos ver. Como furou o osso da perna, vai fazer acompanhamento e não pode pisar no chão tão cedo. Quando sair daqui, vai ter que usar muleta, aí depois quando cicatrizar está curada. Enquanto isso, esperamos."

Psicológico - Francyelle Marques de Lima é psicóloga e há dois anos atua no CTI pediátrico. O trabalho consiste em além de cuidar das crianças, das famílias que vivem à espera.

“As internações prolongadas são um desafio enorme para todos e o meu papel nesse momento é buscar saídas criativas para proporcionar à criança e sua família formas mais saudáveis de vivenciar essa internação. Com certeza a brincadeira é imprescindível, já que o mundo da criança é lúdico e a brincadeira é a melhor forma dela comunicar seu estado mental, suas dores e sofrimentos.”

Acompanhamento psicológico é oferecido tanto a crianças quanto aos pais dos internos (Foto: Juliano Almeida)
Acompanhamento psicológico é oferecido tanto a crianças quanto aos pais dos internos (Foto: Juliano Almeida)

Para a profissional, quando a criança brinca, ela volta a ser protagonista de sua história. “Muitas vezes na brincadeira ela passa a ser a médica, a que aplica a injeção, faz o curativo. Assim, a brincadeira vai se tornando terapêutica para a criança. Brincar auxilia também no controle da dor”, finalizou.

Doença -  A descoberta da doença veio como uma dor muscular banal. Kauanny começou a sentir incômodo na perna esquerda, reclamou à mãe e foi ao médico. No primeiro momento, não deram atenção ao caso. “Falaram que era um desvio, algum nervo, passaram anti-inflamatório e foi embora. Na outra semana, ela piorou, aí deram mais atenção fizeram Raio X e foi para o ortopedista. Ele disse que era gravíssimo e que deveria vir para Campo Grande. Viemos aqui e estamos até agora. Chegando aqui fez tomografia e foi direto pro centro cirúrgico”.

Brinquedoteca - O HU realiza a “Campanha de Doação Pediatria”. O objetivo é arrecadar o máximo possível de brinquedos para as crianças internadas no CTI (Centro de Terapia Intensiva) da unidade. O hospital é filiado à Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares)

A brinquedoteca voltou à ativa depois de ficar desativada durante a pandemia de covid-19. Os brinquedos que estavam no lugar foram doados. O hospital explicou ao Campo Grande News que precisou desativar a sala e doar os itens porque as crianças não podiam brincar com eles e os objetos precisavam de uma higienização adequada no período.

Briquedos no setor pediátrico do Hospital Universitário, em Campo Grande (Foto: Juliano Almeida)
Briquedos no setor pediátrico do Hospital Universitário, em Campo Grande (Foto: Juliano Almeida)

Podem ser doados bonecas, carrinhos, jogos, lápis de cor, giz de cera, livros infantis, canetinhas, entre outros. Entretanto, é necessário que os brinquedos sejam fáceis de limpar, ou seja, que não necessitem de higienização específica. Ursos de pelúcia e objetos com partes pequenas não são uma boa opção para as crianças. Os brinquedos podem ser deixados na recepção principal, Unidade de Comunicação e Enfermaria Pediátrica.

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