Há uma semana, Paulo se mudou para um dos m² mais caros da cidade
Catador de reciclável vive sem teto há 23 anos pelos Estados do Brasil desde a morte do pai
Há uma semana Paulo Costa de Jesus, de 58 anos, se mudou para um dos m² mais caros da cidade, localizada na região do Prosa, em Campo Grande. Apesar de ser conhecida pelos imóveis de alto padrão em que o metro quadrado custa R$ 8.636 pela cotação dos últimos 12 meses, no caso dele o endereço é o viaduto na Rua Ceará com a Avenida Afonso Pena.
A vida, obviamente muito diferente da vizinhança, é feita com algumas caixas, uma barraca pequena com cobertas e latinhas de refrigerantes amarradas à haste que sustenta o pano que serve de telhado sobre onde ele dorme.
A morte do pai, há 23 anos, levou Paulo à vida solitária embaixo de viadutos e nas ruas do país. Natural de Caarapó, município a 274 quilômetros da capital sul-mato-grossense, o homem passa o tempo em sua própria companhia, peregrinando entre os Estados. Para sobreviver na rua, ele coleta materiais recicláveis, como papelão e latinhas.
A ausência de animais ou familiares não preocupa Paulo, que diz gostar da rotina. Antes ele morava com o pai, que era cerqueiro de uma fazenda em Dourados. Ele explica que decidiu levar uma vida nômade após achar um livro de reciclagem em 2017. Ele preferiu não comentar sobre a família, se existe ou se foi deixada para trás por algum motivo.
“Ele falava sobre artesanato com reciclagem, métodos e desde então tenho tentado me aperfeiçoar. Por aqui, eu costumo andar nos três cantos ao redor do shopping. Pego latinha, papelão e levo lá para o Tijuca”.
Paulo faz o percurso a pé, saindo de manhã e voltando ao entardecer. Ele conta que o trajeto chega a ser, em média, 20 km por dia. Paulo não sabe escrever, mas se orgulha de saber ler e de como escolheu viver. Quanto à alimentação, o morador comenta que costuma comprar salgado e pedir comida em restaurantes.
“Eu gosto muito daqui. Tá com uma semana e pouco que estou em Campo Grande de novo. Antes eu tinha montado minhas coisas lá no viaduto do Estádio Pedrossian, mas aí peguei o trecho e quando voltei, resolvi ficar por aqui. Lá é muito estreita a calçada. Há 23 anos morando assim, cada hora um cantinho, às vezes em São paulo, no Paraná. Olha só, nos últimos 90 dias passei por todas esses Estados e percorri 1.500 km a pé e de carona”.
Conforme Paulo, assistentes sociais já ofereceram abrigo temporário a ele, porém o homem prefere não se misturar com os acolhidos. “Não gosto muito. No frio pessoal me convidou para dormir em abrigo. Lá tem todo tipo de gente com diversas vivências e que não é uma experiência muito agradável, prefiro viver sozinho. Sempre migro sozinho”.
O objetivo agora é conhecer a fronteira com a Bolívia. “Meu sonho. A idade está chegando e eu não aguento mais percorrer longas distâncias. Eu quero conhecer mais as cidades aqui do Estado”.
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