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Capital

Homem que furtou corpo disse que tinha pacto de amor eterno com vítima

José Gomes Rodrigues abriu uma cova rasa perto da entrada da casa dele, em chácara de Campo Grande.

Angela Kempfer e Mirian Machado | 15/02/2019 10:34
Rosilei e José, que durante 20 anos tiveram relação conturbada. (Reprodução/Foto: Gazeta Aquidauana)
Rosilei e José, que durante 20 anos tiveram relação conturbada. (Reprodução/Foto: Gazeta Aquidauana)

Sob uma árvore, na chácara onde mora em Campo Grande, José Gomes Rodrigues abriu uma cova rasa perto da entrada da casa, forrou o buraco com tapete e cercou de travesseiros o corpo da mulher que perseguiu durante a vida. A obsessão  o fez pensar em enterrá-la sob a janela do quarto dele, mas não deu certo. Rosilei Potronieli foi sepultada pela segunda vez com roupas escolhidas por José, depois de ter o corpo furtado pelo homem com o qual conviveu por mais de 20 anos.

A versão romantizada da história surreal, com episódios de violência em vida e morte, é contada pelo primo dele, que ajudou a polícia a desvendar o mistério iniciado com a violação na última terça-feira, em Dois Irmãos do Buriti, a 83 quilômetros de Campo Grande.

Edson Maciel Gomes prestou depoimento e foi liberado. José é ex-tenente, excluído da Polícia Militar, mas ainda não foi encontrado. Por isso, só o primo acompanhou a polícia até a chácara na tarde de ontem e ali revelou a localização do corpo, para alívio da família e fim de uma tragédia que começou com facadas em um bar, no sábado passado.

Ele participou da elaboração e execução do plano de “resgatar” a amada do cemitério, para cumprir "pacto de amor eterno", conforme relato de José. “Segundo o primo, ele alegou que os dois tinham feito um pacto. Que quem morresse primeiro, buscaria o outro para ficar junto para sempre. Depois do furto, abraçou, chorou e no caminho até aqui ficou o tempo todo conversando com o corpo dela, dizendo que ia amar pela vida toda. Antes de enterrar, ainda lavou os cabelos dela com shampoo”, detalha a delegada Nelly Macedo, de Dois Irmãos do Buriti.

Para ela, o caso revela muito sobre violência doméstica. "Mostra o que é o sentimento de propriedade, típico de violência doméstica contra as mulheres. É o pensamento de todo agressor", reforça.

Vala aberta pelo tenente-coronel em chácara onde vive com a família.
Vala aberta pelo tenente-coronel em chácara onde vive com a família.
Delegado Márcio Obara e Nelly Macedo falaram com a imprensa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Delegado Márcio Obara e Nelly Macedo falaram com a imprensa. (Foto: Henrique Kawaminami)
Edson, o primo que participou do plano, foi preso, mas depois ouvido e liberado. (Foto: Henrique Kawaminami)
Edson, o primo que participou do plano, foi preso, mas depois ouvido e liberado. (Foto: Henrique Kawaminami)

Rosilei foi esfaqueada em bar de Terenos no dia 9 de fevereiro, depois de discussão com o trabalhador rural Adailton Couto. O autor foi preso e ela morreu no hospital, no domingo passado, em Campo Grande. Os últimos episódios de vida e sepultamento, revelam uma mulher morta várias vezes pelos homens.

José estava preso naqueles dias, por ameaçar a ex-namorada como já era rotina na relação do casal. Saiu da cadeia horas depois do 1º enterro e não teve dúvidas: bebeu com primo em Terenos e ali, na mesa de bar, os dois decidiram furtar o corpo.

Viajaram em um Ford Focus até Dois Irmãos do Buriti, e na madrugada de terça-feira, por volta de 2h, com um carrinho de mão do próprio cemitério e algumas cordas, os dois retiraram Rosilei do tumulo, 17 horas após o primeiro sepultamento.

Ainda embriagados, seguiram até a chácara de José, na região do Aeroporto Santa Maria, na Capital. O homem chegou a confessar o que havia feito às duas filhas que moram com ele na propriedade. “Mas elas se negaram a participar. Parece que todo mundo tem muito medo dele”, comenta a delegada.

Coube ao primo ajudar na preparação do novo sepultamento, com cuidados para que ninguém percebesse a cova no lugar. “José queria que ela fosse enterrada pertinho da janela dele, para ficarem juntos, mas não deu certo. Eles então fizeram o buraco sob a árvore", diz a delegada. "Depois cobriram de uma forma que não dava para ver de cara”, relata o delegado Márcio Obara, da Delegacia de Homicídios de Campo Grande, que apoiou as investigações.

O caso começou a ser desvendado graças as imagens de segurança que revelaram a entrada do carro no cemitério. Depois, Edson resolveu se entregar porque estava recebendo ameaças.

Até agora a delegada só conversou com José por telefone, e ele ainda tentou convencer a polícia a desistir das buscas. Mas ele mesmo acabou se entregando. “Em uma das conversas ele disse: 'retalharam o corpo do meu amor’. Ai eu questionei como ele sabia, se nem havia ido ao enterro porque estava preso”, conta Nelly Macedo.

A versão de amor incondicional de José também cai por terra diante de vários boletins de ocorrência, inclusive de estupro, registrados por Rosilei contra o ex-namorado nos últimos anos. O homem é descrito pela família como alguém obcecado.

Hoje, 36 horas depois do furto, a polícia ainda aguarda autorização da Justiça para dar à vítima o 3º sepultamento, processo necessário já que a 1ª vala foi violada. Além disso, a delegada responsável pelo caso, não acredita que José irá se apresentar, por isso vai pedir sua prisão preventiva. Ele pode responder por subtração de cadáver, crime com pena de 1 a 3 anos. 

Veja o local onde o corpo foi encontrado e, na sequência, a integra da entrevista em Dois Irmãos do Buriti.

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