Hospitais incentivam e fazem crescer a exploração de estacionamentos
Santa Casa e Hospital do Câncer concederam o serviço a empresas terceirizadas
Ainda que o SUS (Sistema Único de Saúde) assegure atendimento gratuito à população, quem vai aos hospitais de Campo Grande precisa estar preparado para por a mão no bolso. Estacionar no entorno da Santa Casa e Hospital do Câncer é um privilégio para poucos, o que representa renda garantida às empresas terceirizadas que exploram o serviço nos próprios hospitais.
É na Santa Casa e no Hospital do Câncer que os pacientes encontram maior dificuldades. A localização central torna impossível encontrar uma vaga fora dos hospitais e o estacionamento disponível é cobrado por hora.
Na Santa Casa, o estacionamento é administrado há quatro anos pela Brasil Park, uma empresa terceirizada, com sede em São Paulo. De acordo com o hospital, são cerca de 300 vagas de estacionamento, que custam cinco reais por hora: R$ 2 pelos primeiros 15 minutos e mais R$ 1 a cada 15 minutos. A tolerância para embarque e desembarque, é de 10 minutos.
De acordo com a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), o período de espera por atendimento, de acordo com as classificações de risco – pode chegar a quatro horas, o que custaria R$ 20 de estacionamento ao paciente, o mesmo valor cobrado pela diária, de 12h.
Em frente a Santa Casa, na Rui Barbosa, a falha pública foi determinante para o sucesso de Adriano Peixoto, de 42 anos. Ele abriu um estacionamento no local e, há um ano e meio, tem clientela garantida. Com capacidade para 35 carros, ele cobra os mesmos R$ 5 por hora.
“Meus clientes são principalmente funcionários da Santa Casa e das clínicas no entorno e pacientes que circulam por aqui”, comenta.
Do outro lado da rua, na calçada do próprio hospital, Pedro Gomes, de 21 anos, toma conta das dezenas de motos aglomeradas. “Cabem 120 motos, mas não obstrui a passagem de pedestres. Aqui não tem preço porque está num lugar público, mas o pessoal deixa um agrado”. A renda, segundo ele, é suficiente para custear dois turnos de serviço, que divide com o irmão, de dia e de noite.
A Santa Casa frisa que as áreas de recebimento de pacientes do Sistema Único de Saúde são o Ambulatório (13 de maio) e Urgência e Emergência (Rui Barbosa), ambas com atendimento voltados às vias públicas e sem estacionamento pago. As vagas cobertas pela concessão à Brasil Park são as referentes a atendimentos particulares, Prontomed e área comercial e funcional do prédio.
Em contrapartida, as obrigações da concessionária são as comumente cobradas neste tipo de serviço em contratos entre particulares. A Brasil Park tem a responsabilidade pela demarcação de vagas e ciclos viários; manutenção adequada do piso do estacionamento interno com pintura dos corredores, vagas e escadas; ampliação da iluminação atual com incremento de lâmpadas; instalação de circuito de filmagem com gravação digital e número de câmeras adequado à cobertura da área; execução de sala de monitoramento e locais para pagamento nas saídas; instalação de sistema automatizado de cancelas nas entradas; ampliação do número de vagas, serviço de manobrista, cobertura de passarela, entre outros, além do pagamento de um percentual de 14,25% ao hospital.
O hospital não informou a receita proveniente do estacionamento. A Brasil Park também não respondeu aos questionamentos da reportagem, nem tampouco sobre a arrecadação mensal com a exploração do serviço.
No Hospital do Câncer Alfredo Abraão a situação não é muito diferente. O local é frequentado, especialmente, por pessoas que realizam sessões de quimioterapia, periodicamente. Desde abril, o hospital firmou contrato com o Estacionamento Freitas, terceirizado para administrar o serviço que custa R$ 6 por hora.
Ao todo, são 50 vagas para pacientes, cinco para diretoria e 20 exclusivas para médicos, mas todos pagam. A proprietária do Estacionamento Freitas, Elizângela Freitas, disse que atua no ramo há quatro anos. Ela também é proprietária de outro Estacionamento, na Marechal Rondon
De acordo com a Elizângela, entre as obrigações contratuais do estacionamento, está o convênio para funcionários. O valor mensal para pacientes, que seria R$ 150, é reduzido para R$ 60.
Para quem necessite de muito tempo para atendimento, 12 horas custam R$25 para pacientes eventuais e R$ 20 para internados.
Elizângela explica ainda que realizou melhorias no local, como guaritas e investimento em segurança, ao custo de R$ 25 mil, que contratualmente configuram “doação ao hospital”. Esta cláusula e o convênio para funcionários, segundo ela, isentam o Estacionamento Freitas de dividir os lucros com o hospital.
Em valores, a proprietária informa que o movimento é fraco. São R$ 130 por dia em vagas rotativas (pacientes e médicos residentes, por exemplo), mas o grosso do orçamento é garantido pelos mensalistas 58 funcionários e cerca de 50 médios (R$ 60/mês), um total de R$ 10.380 por mês.
Em nota, o Hospital de Câncer Alfredo Abrão informa que o Estacionamento Freitas vem administrando o estacionamento, realizando a gestão das vagas disponíveis em suas dependências. Diante do déficit de vagas, o HCAA reservou parte das mesmas para seu Corpo Clínico (médicos) para evitar/minimizar possíveis atrasos nos procedimentos realizados na instituição.
Questionada, a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito) informou em nota que obedece a Resolução n. 302, de 18 de dezembro de 2008, do Conselho Nacional de Trânsito, que define e regulamenta as áreas de segurança e de estacionamentos específicos de veículos. “A agência realiza análise técnica para implantação de vagas especiais em locais solicitados (por entidades, por exemplo) ou onde haja necessidade devido ao grande fluxo, mas não há solicitação oficial desses hospitais para análise para o SER (Serviço de Estacionamento Regulamentado)”, o que favorece o serviço privado.
O Campo Grande News foi aos quatro principais hospitais da Capital. Entre eles, o Hospital Regional e o Universitário, que são os únicos que não cobram para que os pacientes que buscam atendimento estacionem.
No Regional, o acesso é livre, a Luger – empresa de segurança – administra desde dezembro de 2016 o fluxo de quem entra e sai do hospital, contudo, não há cobrança pelo serviço. Cancelas e guarita chegaram a ser instalados, mas ainda não estão em operação. A assessoria de imprensa do hospital disse que, por enquanto, não há planejamento para tarifação do espaço, mas até o fechamento desta reportagem, não informou mais detalhes.
No Hospital Universitário, apenas médicos, enfermeiros e demais funcionários podem estacionar. O local é fechado por cancelas e a entrada só é permitida para quem possui o selo do hospital. De acordo com o funcionário da guarita, apenas embarques e desembarques são autorizados. Depois disso, os veículos precisam ser retirados do estacionamento.