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Capital

Idosa de 74 anos é encontrada em condições insalubres, abandonada em casa

Água da residência foi cortada há 4 meses

Liana Feitosa e Ana Beatriz Rodrigues | 17/08/2022 13:58
Geladeira da casa está tomada por bichos e alimentos podres. (Foto: Paulo Francis)
Geladeira da casa está tomada por bichos e alimentos podres. (Foto: Paulo Francis)

Idosa de 74 anos foi encontrada em situação de abandono e condições de moradia insalubres na Vila Nathália, região do bairro Portal Caiobá, no início da tarde desta quarta-feira (17) em Campo Grande. A polícia foi ao local após receber denúncia de abandono de incapaz pelo Disque 100. Com dificuldades de locomoção, a mulher teve o abastecimento de água da residência cortado há 4 meses e vive em meio a fezes, roupas e panelas sujas.

Ao comparecer ao endereço, esta reportagem verificou que o mau cheiro oriundo da residência pode ser notado a metros de distância. A idosa, que tem como renda uma pensão no valor de um salário-mínimo, mora em uma casa popular que ganhou em sorteio da Prefeitura há 7 anos.

No quarto, há urina e fezes no colchão onde ela dorme e no chão. Segundo ela, tem diabetes grau 3, o que prejudicou sua visão, não toma banho há mais de 3 dias e só consegue ter acesso a isso com ajuda de vizinhos. O cabelo dela está tomado de piolhos. Na casa, tomada por sujeira, não há roupas limpas e a pia da cozinha está cheia de louças com restos de comida, servindo de criadouro para bichos; mesma situação da geladeira, onde há alimentos podres.

Ela contou à polícia que não aguenta ir ao mercado por conta de um problema no joelho, que dificulta sua locomoção e, por isso, quando consegue, pede para que mantimentos sejam entregues na casa. No entanto, sem água, não consegue lavar os utensílios, nem cozinhar.

Sem água na casa, idosa não tem condições de lavar roupas e fazer a limpeza do local. (Foto: Paulo Francis)
Sem água na casa, idosa não tem condições de lavar roupas e fazer a limpeza do local. (Foto: Paulo Francis)

Família - A mulher também não tem telefone, por isso não consegue ter contato com os filhos, que são três. De acordo com ela, dois são casados e moram nas Moreninhas e, o mais novo, está internado em uma clínica de reabilitação há 1 ano. A polícia verifica se o caçula está de fato internado ou preso, já que é dependente químico.

“Meus filhos trabalham muito e não tem tempo de vir aqui, por isso faz tempo que não vejo eles”, relata a idosa. A última vez que ela falou com um dos filhos foi há 5 meses, por telefone emprestado por um vizinho.

Três meses atrás um agente de saúde notificou a residência pelas condições precárias há 3 meses. Nada foi feito até então.

Polícia - De acordo com o delegado Camilo Kettenhuber, da 6ª DP (Delegacia de Polícia), foi registrado boletim de ocorrência por causa da situação e pela mulher se tratar de uma idosa, o que pode configurar abandono de vulnerável. “Alguém terá que ser acionado e responsabilizado, do poder público até a família”, afirmou o delegado.

"Os investigadores vieram na segunda, mas não encontraram ela. Quando me repassaram (a situação) eu disse que queria ver com os meus próprios olhos. Os filhos vão ser chamados para prestar esclarecimentos e poderão ser enquadrados no artigo 99 do Estatuto do Idoso", detalhou Kettenhuber.

Equipe de UBS foi até o local verificar condições de saúde da idosa. (Foto: Paulo Francis)
Equipe de UBS foi até o local verificar condições de saúde da idosa. (Foto: Paulo Francis)

Uma equipe de perícia foi acionada para investigar a fundo as condições de moradia da idosa. “Eu colocar no relatório que essa idosa está em uma casa inabitável, em situação inóspita, é uma coisa. Mas a situação exige a precisão da perícia para evidenciar que a situação é totalmente insalubre”, completou o delegado.

Uma equipe da UBS (Unidade Básica de Saúde) da região está no endereço para checar as condições da idosa. Desde 2020 a idosa não vai até um posto de saúde para pegar remédios que ela deveria estar usando continuamente para tratar diabetes e hipertensão. O titular acionou a SAS (Secretaria Municipal de Assistência Social) para que a idosa seja retirada da casa ainda hoje.

O artigo 99 define que “expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado”, pode ser considerado crime, com pena de detenção de 2 meses a 1 ano e multa. Se do caso resultar em lesão corporal de natureza grave, a pena pode ser de reclusão de 1 a 4 anos.

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