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Capital

Inquilino “misterioso” ocupa casa onde polícia achou “depósito” do jogo do bicho

Imóvel onde Garras encontrou 700 máquinas para a coleta de apostas foi alugado em janeiro, segundo dono

Por Anahi Zurutuza, Viviane Oliveira e Bruna Marques | 20/10/2023 14:18
Parte da frente da residência no Bairro Monte Castelo (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Parte da frente da residência no Bairro Monte Castelo (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

O noticiário da noite de segunda-feira (16) “tirou a paz” do empresário sul-mato-grossense Rodrigo Freire Silva de Souza. Desde 2005, ele é dono da casa na Rua Gramado, no Bairro Monte Castelo, onde 700 máquinas do jogo do bicho foram encontradas pelo Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros).

Mas, antes que o problema “sobrasse”, ele foi à polícia se explicar. Em breve conversa com a reportagem, nesta sexta-feira (20), o homem, que é dono de uma transportadora, segundo cadastro na Receita Federal, conta que amigos o avisaram da “batida policial” no imóvel após ficarem sabendo do ocorrido pela imprensa.

No dia seguinte, ele foi ao Garras e entregou ao delegado Fábio Peró dados do contrato de aluguel e conversas que mantém no WhatsApp com o inquilino. “Entreguei tudo para a polícia”.

O empresário preferiu manter em segredo o nome do locatário. “Da mesma forma que vocês me encontraram, podem localizá-lo também. Na segunda fiquei sabendo do caso e na terça-feira fui à delegacia”.

Morador de outro endereço, em bairro da região central da cidade, o empresário também preferiu não dar detalhes sobre como foi feita a locação, mas revelou que não imaginava que seu imóvel poderia estar sendo usado como “depósito” do jogo do bicho e nem para “carteado”. “Para mim foi uma surpresa”, afirmou, dizendo que quase sempre está fora da Capital. “Fico mais em Aquidauana. Fico três, quatro dias [por semana] lá”, disse.

O delegado Fábio Peró também preferiu deixar o nome do inquilino em sigilo. Afinal, essa pessoa é que pode ser o elo entre as máquinas usadas na coleta de apostas da loteria ilegal e o maior beneficiário do esquema. Segundo o titular do Garras, este é “um detalhe muito importante para as investigações”.

Imóvel de médio padrão fica na Rua Gramado, próximo à Rachid Neder (Foto: Paulo Francis)
Imóvel de médio padrão fica na Rua Gramado, próximo à Rachid Neder (Foto: Paulo Francis)

A casa – O imóvel está em terreno de 426 metros quadrados – acima do padrão, que varia de 200 a 360 metros quadrados na Capital – e fica em trecho da Rua Gramado, próximo à Avenida Rachid Neder. O empresário é o quarto dono desde 1974.

A residência, de médio padrão, tem fachada bem fechada e discreta, além de estar equipada com cerca elétrica, mas nenhum aparato mais ostensivo de segurança.

Desde segunda-feira, a movimentação é mínima no local, conforme apurado pela reportagem. Mas, antes da abordagem do Garras, o entra e sai era intenso. Veículos de alto valor frequentemente eram vistos estacionados em frente ao endereço. Às vezes, até parcialmente em cima da calçada.

Máquinas do jogo do bicho foram apreendidas pelo Garras em caixas de papelão (Foto: Direto das Ruas)
Máquinas do jogo do bicho foram apreendidas pelo Garras em caixas de papelão (Foto: Direto das Ruas)

O flagra – No dia da “batida”, havia nove pessoas na residência, dentre elas, o major aposentado da PMMS (Polícia Militar de Mato Grosso do Sul), Gilberto Luiz dos Santos, que também é funcionário da Assembleia Legislativa. “Major G. Santos”, como é conhecido, está lotado no gabinete do deputado estadual Roberto Razuk Filho, mais conhecido como Neno Razuk, desde 2019.

Manoel José Ribeiro, conhecido como “Manelão”, que também está na reserva remunerada da PM, também estava no local.

Todas as pessoas negam envolvimento com o jogo clandestino, foram ouvidas no Garras e liberadas. “Ninguém assumiu a propriedade das máquinas, não souberam dizer quem era o locatário ou proprietário da casa, falaram apenas que estavam ali para jogar baralho”, explicou na terça-feira, dia 17.

A apreensão das máquinas foi feita pelo Garras, mas não se sabe ainda qual especializada da Capital tocará o inquérito. A investigação terá de esperar a volta do delegado-geral, Roberto Gurgel, dos Estados Unidos.

“Estou fora do país com a Secretaria Nacional de Segurança Pública, mas acompanhando a situação. Assim que chegar, vamos analisar de maneira técnica e jurídica, como sempre fizemos, qual a unidade com atribuição para a investigação”, destacou o chefe da Polícia Civil. Ele estará de volta na próxima semana.

Há a possibilidade de as apurações ficarem sob a responsabilidade do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), comandado pela delegada Ana Cláudia Medina.

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(*) Com a colaboração de Antonio Bispo e Alison Silva.

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