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Capital

Jovens protestam como voz do amigo que morreu sem ver réu por abusos ser preso

Mestre de capoeira acusado de crimes sexuais em série começou a ser julgado nesta quarta-feira

Por Anahi Zurutuza e Geniffer Valeriano | 20/03/2024 19:24

Voz do amigo que morreu sem ver o mestre de capoeira acusado de cometer série de abusos sexuais preso, jovens foram para a frente da DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), que investigou denúncias, e do Fórum de Campo Grande protestar para que Leandro Busanello de Araújo não fique impune. Ao som do berimbau, o coro, reforçado por familiares de Raul Pablo Antunes Brum, que morreu aos 18 anos, e de outras pessoas que dizem ter sido vítimas do professor, o grupo entoava palavras de ordem e cantou: “Impunidade não”.

Leandro já foi condenado, em 2020, por estupro de vulnerável – crime que teria sido cometido contra uma criança de 9 anos. A partir daí, outros alunos do mestre de capoeira, que comandava projetos sociais, passaram a “perceber” que também haviam sido vítimas. Raul foi um dos que foi à polícia, mas em outubro de 2021, cerca de um ano depois, ele foi encontrado morto em área de mata no Parque das Nações Indígenas.

A morte do colega fez com que mais jovens fossem à DEPCA denunciar o capoeirista. Conforme apurado pelo Campo Grande News, em 2022, Leandro já respondia a mais de um processo criminal relacionado às denúncias, todos em sigilo. Uma das ações é resultante das informações oferecidas por Raul.

O mestre de capoeira também chegou a ter a prisão preventiva requisitada, mas o pedido foi negado, em agosto de 2022.

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Instrução e julgamento - Nesta quarta-feira (20), foi iniciada a fase de audiências de instrução de um dos processos contra Leandro Busanello. Até o início desta noite, três pessoas haviam sido ouvidas no Fórum de Campo Grande.

Nesta etapa, vítimas e testemunhas, de acusação e defesa, depõem em juízo. Depois, o réu é interrogado. Terminadas as oitivas e apresentação de evidências, é a vez de o juiz decidir se há provas ou não provas para condenar o acusado.

O segredo de Justiça impede que a reportagem acompanhe os depoimentos, mas a equipe apurou que o réu acompanha tudo por videoconferência, já que se mudou de Mato Grosso do Sul, e através de seu advogado, que participa presencialmente e informou que se manifestaria em nome do cliente após o encerramento dos trabalhos de hoje. Leandro ainda recorre da condenação de 2020.

Leandro Busanello em foto de 2015 (Foto: Divulgação)
Leandro Busanello em foto de 2015 (Foto: Divulgação)

O protesto - Na frente do Fórum, Yasmin Soares Lescano, de 19 anos, amiga de Raul, disse querer a justiça que o rapaz não teve. “A impunidade levou o Raul e pode levar mais vítimas. A gente precisa que a justiça seja feita para que outros jovens, crianças e adolescentes não sejam vítimas dele”, afirmou.

Primo de Raul, Leandro Bartziki, de 24 anos, afirma que os abusos que o jovem enfrentou abriram ferida que jamais cicatrizou. “Nós da família ainda estamos muito abalados por uma perda que dói muito. Na semana do suicídio, o Raul começou a se abrir com a gente, os primos. Ele dizia que estava triste, inseguro, com medo e no último dia, disse que enquanto fazia as aulas se lembrava dos abusos. Ele era uma pessoa boa e querida, estamos muito tristes por ter perdido ele”.

A profissional de Educação Física, Ariana Centurião, de 36 anos, que acompanhou todo o desenrolar das denúncias, explica que já faz dois anos que os casos vieram à tona. “Estamos aqui pelas vítimas e pelo Raul. O sentimento que temos é de injustiça, de impunidade, é uma revolta muito grande”.

Quem também engrossou o protesto foi a vendedora de 51 anos, mãe de um dos ex-alunos do mestre de capoeira. Sob a condição de anonimato, ela contou que o filho começou a praticar o esporte ainda criança. Hoje, ele tem 26 anos. “Meu filho tinha só 9 anos quando começou a fazer aula com ele [Leandro], mas só depois da morte do Raul que ele entendeu ter sido vítima de abusos e denunciou”.

A mãe diz que o filho é dependente químico e acredita que o vício seja consequência da convivência do garoto com o professor. “Acho que era até uma forma de ele conseguir realizar os abusos [suposto oferecimento de drogas para os meninos e meninas]. Tenho uma revolta muito grande, porque o discurso dele era totalmente diferente das atitudes dele. Só depois da morte do Raul que descobrimos que ele já tinha sido condenado pelo mesmo crime [estupro] cometido em uma instituição, mas que nunca foi preso. Ele é um lobo disfarçado”.

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