Lorena veio a MS para salvar da fome os 5 filhos que ficaram na Venezuela
Cadastrada na Operação Acolhida, imigrante chegou a Campo Grande acompanhada do marido e mais 97 venezuelanos
“Se Deus nos der oportunidade de ficar aqui com nossa família, ficaremos”. Com poucas malas nas mãos, a fé dos venezuelanos recém chegados a Mato Grosso do Sul é de inspirar. Feliz pela oportunidade de trabalho, mas com o coração apertado, Lorena Patricia Hernandez, de 39 anos, é uma das beneficiadas pela Operação Acolhida e só pensa em resgatar os cinco filhos que ficaram na Venezuela.
Após quase quatro horas de voo, ela desembarcou em Campo Grande às 23h50, de ontem (2) acompanhada do marido, Jose Angel Rodriguez Sanchez, de 23 anos, e mais 97 conterrâneos. A previsão era de que 101 pessoas viessem ao Estado, mas dois não completaram o ciclo de vacinas.
Os imigrantes estavam em Roraima e foram cadastrados pela Operação Acolhida, que garante emprego e os 30 primeiros dias de moradia a quem fugiu do colapso econômico instalado na Venezuela. O país, que já foi um dos mais ricos da América Latina, enfrenta hoje uma crise sem precedentes. A situação caótica no país se instalou após 20 anos de medidas adotadas pelos grupos de Hugo Cháves e, agora, Nicolás Maduro.
Apesar do cansaço, todos os acolhidos chegaram sorridentes ao Aeroporto Internacional de Campo Grande. Com poucas malas, a lembrança da família foi trazida para o Estado no peito e em fotos. Lorena e o marido chegaram a Roraima há quatro meses e, desde então, tentavam trabalho e moradia no Estado nortista.
“Estou muito feliz e agora vamos trabalhar bastante para ajudar a família. Meu esposo deixou a irmã e eu deixei cinco filhos, de 20, 19, 17, 15 e 14 anos”, disse Lorena. “Estamos fazendo isso, para que os outros seres humanos como nós tenham a mesma oportunidade”, completou Sanchez.
Em meio ao clima de saudade e medo do “novo”, Lorena garante que a força do recomeço vem da fé em Deus.
“Tudo dependerá da vontade de Deus. Se Deus nos der oportunidade de estar aqui com nossa família, faremos. Mas se for para voltar, voltaremos. Porém, eu gostaria de ficar aqui com a família. Primeiro quero me acomodar aqui, para depois trazer meus filhos”, disse Lorena.
O grupo dormiu no 9º Grupamento Logístico e, nesta manhã, segue em três ônibus do CMO (Comando Militar do Oeste) rumo a Dourados.
As cidades dos venezuelanos acolhidos não são divulgadas, para evitar qualquer tipo de interpretação, seja ela preconceituosa ou de interesse político.
Em princípio, os imigrantes ficarão alojados no distrito de Indápolis, em um abrigo patrocinado pela Acão Social Acolhida, conduzida por entidades –entre elas A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, instituição que, antes mesmo da operação, já havia recebido 33 venezuelanos, membros da igreja, nas cidades de Dourados e Ponta Porã.
“Algumas empresas contrataram esses primeiros imigrantes e gostaram da honestidade dos trabalhadores e me ligaram perguntando como poderiam entrar em contato com Roraima e eu passei o contato de Carlos Martins em Boa Vista, que acionou o Exército Brasileiro para informar sobre a oportunidade de emprego em Dourados “, explicou o Bispo Maykon Ferreira, da Ala Dourados II.
O abrigo será o lar temporário do grupo por 30 dias, até que eles possam alugar e mobiliar suas casas. Alimentação, roupas, utensílios domésticos, móveis, colchões e outros itens de primeira necessidade serão disponibilizados pelas entidades participantes da Ação Social Acolhida.
O chefe do Centro de Coordenação de Operações, General Teche, explicou que a primeira acolhida será feita pelo exército, mas que o trabalho continua pela sociedade civil.
“Tivemos a oportunidade de recebe-los e eles estão um pouco cansados depois de três horas e meia, quatro horas de viagem. Mas vimos no olhar uma esperança muito grande e acredito que estão confiando que serão felizes no Brasil, particularmente, no Mato Grosso do Sul. O exército fará a alimentação e alojamento hoje e a comunidade civil, conjunto de igrejas, disponibiliza a partir de amanhã o abrigo na região de Dourados”, explicou.
Os 99 venezuelanos já chegaram com emprego garantido em um frigorífico, pois foram selecionados pela empresa por meio de entrevista de emprego. Os participantes foram cadastrados na operação com vaga sinalizada, documentação pessoal completa, cartão de vacinas obrigatórias em dia e check-up de equipe de saúde, antes do embarque na aeronave.
Cada imigrante conta com um recurso a título de auxílio social financeiro para fazer frente à despesa do primeiro mês de aluguel, fornecido pela Acnur (Agência da ONU para Refugiados). O transporte aéreo Boa Vista-Campo Grande foi fretado junto à Azul Linhas Aéreas pelo OIM (Agência da ONU para Migrações).
A ação foi criada para contribuir e melhorar a situação de vulnerabilidade de diversas famílias, pensando em buscar melhores condições de vida em outros Estados. Os envolvidos participam do programa de forma voluntária. Entre os apoiadores da ação estão a Acnur, OIM, UNFPA (Fundo de População das Nações Unidas) e Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento).
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