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Capital

Márcio entrou para estatística com vida transformada por acidente e amputação

Médico vascular estima que colisões envolvendo motos causam amputação de até 10 pessoas por semana na Capital

Por Natália Olliver | 30/01/2025 14:06
Márcio entrou para estatística com vida transformada por acidente e amputação
Márcio Daniel da Silva Nunes perdeu a perna após um acidente de moto em 2024 (Foto: Henrique Kawaminami)

Aos 20 anos, Márcio Daniel da Silva Nunes sentiu a rotina mudar. Um acidente de moto causou a amputação de uma das pernas em maio de 2024 e transformou ações que antes eram simples, em tarefas difíceis. Hoje, após 8 meses da colisão com uma picape, ele agradece por estar vivo e sonha em voltar a trabalhar. O objetivo é fazer o mesmo que já exercia antes do ocorrido, ser pintor de imóveis.

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Aos 20 anos, Márcio Daniel da Silva Nunes enfrenta uma nova realidade após ter uma perna amputada em decorrência de um acidente de moto em maio de 2024, em Campo Grande (MS). O jovem, que trabalhava como pintor de imóveis e entregador, agora recebe um salário mínimo do INSS, do qual metade é destinada ao pagamento de honorários advocatícios. Ele faz parte de uma estatística preocupante: segundo o cirurgião vascular Marcos Rogério Covre, da Santa Casa de Campo Grande, entre 240 e 480 pessoas perderam membros em acidentes com motos em 2024 na cidade. Apesar das dificuldades de locomoção e financeiras, Márcio mantém o otimismo e sonha em voltar a trabalhar após receber uma prótese, que só será possível após completar sua reabilitação. O acidente ocorreu quando ele foi atingido por uma picape, cujo motorista tentou fugir do local.

O jovem está entre as estatísticas do médico Marcos Rogério Covre, cirurgião vascular e chefe de residência médica da Santa Casa de Campo Grande. Ele estima que o número de amputados, devido aos acidentes envolvendo motocicletas, seja de 5 a 10 por semana no local. O valor é alto quando somado por 12 meses do ano. Ao todo, no mínimo, 240 pessoas perderam algum membro em 2024. O número pode ser ainda pior no cenário em que a média é 10 por semana, com 480 em um ano.

Marcio abriu as portas do pequeno apartamento onde mora com a namorada, no bairro Jardim Campo Nobre, para mostrar como tem vivido. Ali, ele passa a maior parte dos dias. Isso porque sair de casa se tornou um desafio. Sem a prótese, o jovem precisa pular para se locomover - o que ele prefere - ou usar as muletas que o auxiliam em passeios fora.

Márcio entrou para estatística com vida transformada por acidente e amputação
Jovem pula para se locomover dentro de casa e nas escadas do prédio (Foto: Henrique Kawaminami)

“Ficou meio difícil, porque quando tinha as duas pernas, saía bastante para ir ao shopping ou comer um lanche fora. Agora só fico em casa. Até para ir ao mercado, não consigo empurrar o carrinho. Quando ando com a muleta, fico muito cansado. Eu aceitei bastante, quem ficou triste foi meu pai e minha mãe. O importante é estar vivo. Pra mim, estar aqui é uma vitória”.

Ele explica que o que mudou na linha do tempo que divide o antes e depois do acidente é não poder trabalhar e, consequentemente, ficar muito tempo em casa.

“Agora fico o dia todo em casa pensando em como fazer uma renda extra e até tento. A minha maior preocupação era ficar na cama, precisar de pessoas para tudo, isso seria horrível. Como estou tendo uma vida até que normal, consigo lavar roupa, fazer comida e com muito esforço até consigo dar uma passeada. Isso não roubou tudo. Acredito que quando pegar as próteses, vai ficar melhor”.

Por não conseguir trabalhar e ainda não ter a prótese, o jovem precisou entrar com pedido de aposentadoria no INSS. Ele explica que carregar o status, aos 20 anos, pesa. “Para mim é ruim, ganhava muito bem. Também trabalhava como entregador com a moto e como pintor, tirava um dinheiro bom. Hoje recebo ajuda dos meus pais também”.

Márcio entrou para estatística com vida transformada por acidente e amputação
Rotina de Márcio mudou do dia para noite após colisão com picape (Foto: Henrique Kawaminami)

A situação financeira é motivo de preocupação. Ainda em 2024, ano do acidente, ele precisou abrir uma vaquinha para conseguir comprar medicamentos e ajudar na alimentação. Na época, o recurso do INSS não havia saído.

“Recebo um salário mínimo para viver, mas metade é do advogado que precisei contratar para me aposentar. Está complicado. Estamos nos mantendo assim e com o que a minha família e minha namorada consegue com os trabalhos de design de sobrancelhas”.

Márcio foi atingido por uma picape no cruzamento das ruas José Pedrossian com Lourenzo Torres Cintas, no Jardim Paulo Coelho Machado. De acordo com ele, o motorista tentou fugir e foi impedido por moradores. Ele ressalta que não recebeu ajuda financeira e precisou levar o caso à Justiça. Parte do valor que recebe da aposentadoria é destinada aos honorários do advogado.

“Antes do acidente, eu estava trabalhando como pintor, já fui carpinteiro, trabalhei em bar e já fiz um pouco de tudo. O acidente foi no dia 27 de maio. Eu estava indo visitar meu pai. Fiquei de 10 a 11 dias no hospital. Eles tentaram recuperar a perna, colocaram ferro, pino, tentaram mesmo, mas não deu certo. Viram que estava morta e tiveram que amputar".

Márcio entrou para estatística com vida transformada por acidente e amputação
Jogar é passatempo de jovem que teve perna amputada em Cmapo Grande(Foto: Henrique Kawaminami)

Consolo - Enquanto aguarda a prótese - que, segundo o fisioterapeuta, deve demorar, pois o jovem precisa terminar a reabilitação antes - o consolo de Márcio é o videogame e o tereré com os amigos do condomínio. Para se encontrar com eles, o rapaz desce e sobe os dois lances de escadas pulando.

“Eu era ativo, gostava de ir à academia e jogava bola. O médico disse que isso vai me ajudar na reabilitação e a receber a peça. É me esforçar ao máximo para pegar. Meu serviço era bom, não era pesado. Quero ver se consigo pegar e voltar a trabalhar, porque ganhar um salário mínimo não dá para viver. Só de aluguel é R$ 600, fora água, energia e alimentação. Mas eu me sinto bem, tenho bastante amizade aqui, desço para tomar tereré. Me senti acolhido porque o pessoal vem aqui e me visitou na Santa Casa”.

Márcio entrou para estatística com vida transformada por acidente e amputação
Márcio usa um banco para conseguir lavar a louça da casa (Foto: Henrique Kawaminami)

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