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Capital

Mesmo com mais imóveis vagos, é alto o número de gente vivendo em barracos em MS

Levantamento mostra que MS tem 224.984 domicílios não ocupados, enquanto há 1.342 moradias improvisadas

Mylena Fraiha | 07/07/2023 09:47
Barraco na comunidade Mandela, área invadida em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminame). 
Barraco na comunidade Mandela, área invadida em Campo Grande. (Foto: Henrique Kawaminame).

Mato Grosso do Sul apresentou um crescimento de 36,7% no número de domicílios nos últimos 12 anos, conforme apontam os resultados preliminares do Censo 2022, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Ao mesmo tempo em que há um crescimento nesse quesito, a quantidade de imóveis vagos também cresceu. O Censo mostra que houve um aumento de 90,6% dos domicílios não ocupados, que totalizam 224.984.

Ainda assim, Mato Grosso do Sul apresenta um número considerável de moradias classificadas como improvisadas, que abrangem habitações precárias, em barracos, prédios invadidos e construções inacabadas, com condições mínimas para moradia. Constatou-se que existem 1.342 moradias improvisadas em MS.

Duas placas na mesma construção na Avenida Mato Grosso em Campo Grande indicam: quer vender ou alugar esses imóveis (Foto: Henrique Kawaminami)
Duas placas na mesma construção na Avenida Mato Grosso em Campo Grande indicam: quer vender ou alugar esses imóveis (Foto: Henrique Kawaminami)

No caso de Campo Grande, o aumento de domicílios também foi expressivo. A pesquisa do IBGE mostra que a capital sul-mato-grossense é o 18° município com mais domicílios em todo o Brasil, com um crescimento de 38,6% de domicílios em 12 anos. No que diz respeito ao número de imóveis não ocupados, a capital sul-mato-grossense apresentou 150.202 vagos.

Em contrapartida, a cidade registrou 146 domicílios classificados como improvisados. Somado a isso, a Capital tem ao menos 39 favelas e pelo menos 21 mil chefes de famílias que vivem nestas localidades, conforme levantamento feito pela Cufa (Central Única de Favelas de Mato Grosso do Sul).

Em Campo Grande, durante a gestão Marquinhos Trad, foram apresentados projetos de adequação de hotéis fechados para moradia popular. O primeiro seria o Hotel Campo Grande, fechado há 20 anos. Mas pressão de comerciantes colocou a ideia fora de jogo, apesar de a justificativa oficial ser falta de recursos.

Política habitacional - Diante desse cenário, a arquiteta e professora de planejamento urbano da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Maria Lucia Torrecilha, faz ponderações sobre a política habitacional do município. "O local às vezes fica parado, sem uso. É preciso ter interferência do poder público nisso".

Para Maria Lucia, os dados apresentados pelo IBGE mostram que a política habitacional não deve ser focada somente na construção de novos imóveis. "Construir é diferente de garantir habitação. Isso não vai sanar o déficit habitacional. É preciso ter uma atitude para alocar pessoas sem residência. Seja por incentivo de isenção de IPTU e outros tipos de parcerias público-privadas", explica Maria Lucia.

Apesar de ser um dado recente e não ter passado por uma pesquisa comparativa, a professora destaca que o levantamento do IBGE mostra que existem espaços subutilizados que poderiam ser revitalizados e ocupados por pessoas sem moradia.

“Na França, em locais que estão caros e não conseguem locar, o governo ajuda a estipular um valor justo para locação e dar condições para o proprietário do imóvel e para quem loca. No nosso caso, se o local está em uma boa estrutura, seria interessante essas pessoas reformarem esses locais e darem um uso. São possíveis soluções".

Mais caros - De acordo com o presidente do Secovi (Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul), Geraldo Barbosa de Paiva, aponta que um dos fatores que pode influenciar o crescimento de domicílios não ocupados é o aumento dos juros na compra de propriedades.

“O preço dos imóveis residenciais em Campo Grande está alto, provavelmente devido às altas taxas de juros de mercado, o que assusta um pouco a população que costumava depender muito de financiamentos imobiliários”, aponta Geraldo.

O  presidente do Creci-MS (Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 14ª Região/MS), Eli Rodrigues, também destaca que o aumento dos custos de aluguéis também forçaram os proprietários a optar por uma habitação. "Tem casos em que a pessoa aluga dois imóveis e optou por um único. Com o aumento do custo, ele alugou um maior e transformou uma dele em escritório e outra parte era moradia. Esses dados podem ser um reflexo dessa dinâmica".

Essa dinâmica também tem se aplicado às edificações comerciais, que também foram impactadas durante a pandemia. “Desde o final de 2020, observamos também uma redução no número de imóveis destinados a serviços e comércio, o que teve um impacto significativo. Vários estabelecimentos comerciais mudaram para locais mais baratos, com custos menores, como IPTU e aluguel”, explica Geraldo.

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