Mesmo com mais imóveis vagos, é alto o número de gente vivendo em barracos em MS
Levantamento mostra que MS tem 224.984 domicílios não ocupados, enquanto há 1.342 moradias improvisadas
Mato Grosso do Sul apresentou um crescimento de 36,7% no número de domicílios nos últimos 12 anos, conforme apontam os resultados preliminares do Censo 2022, divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Ao mesmo tempo em que há um crescimento nesse quesito, a quantidade de imóveis vagos também cresceu. O Censo mostra que houve um aumento de 90,6% dos domicílios não ocupados, que totalizam 224.984.
Ainda assim, Mato Grosso do Sul apresenta um número considerável de moradias classificadas como improvisadas, que abrangem habitações precárias, em barracos, prédios invadidos e construções inacabadas, com condições mínimas para moradia. Constatou-se que existem 1.342 moradias improvisadas em MS.
No caso de Campo Grande, o aumento de domicílios também foi expressivo. A pesquisa do IBGE mostra que a capital sul-mato-grossense é o 18° município com mais domicílios em todo o Brasil, com um crescimento de 38,6% de domicílios em 12 anos. No que diz respeito ao número de imóveis não ocupados, a capital sul-mato-grossense apresentou 150.202 vagos.
Em contrapartida, a cidade registrou 146 domicílios classificados como improvisados. Somado a isso, a Capital tem ao menos 39 favelas e pelo menos 21 mil chefes de famílias que vivem nestas localidades, conforme levantamento feito pela Cufa (Central Única de Favelas de Mato Grosso do Sul).
Em Campo Grande, durante a gestão Marquinhos Trad, foram apresentados projetos de adequação de hotéis fechados para moradia popular. O primeiro seria o Hotel Campo Grande, fechado há 20 anos. Mas pressão de comerciantes colocou a ideia fora de jogo, apesar de a justificativa oficial ser falta de recursos.
Política habitacional - Diante desse cenário, a arquiteta e professora de planejamento urbano da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Maria Lucia Torrecilha, faz ponderações sobre a política habitacional do município. "O local às vezes fica parado, sem uso. É preciso ter interferência do poder público nisso".
Para Maria Lucia, os dados apresentados pelo IBGE mostram que a política habitacional não deve ser focada somente na construção de novos imóveis. "Construir é diferente de garantir habitação. Isso não vai sanar o déficit habitacional. É preciso ter uma atitude para alocar pessoas sem residência. Seja por incentivo de isenção de IPTU e outros tipos de parcerias público-privadas", explica Maria Lucia.
Apesar de ser um dado recente e não ter passado por uma pesquisa comparativa, a professora destaca que o levantamento do IBGE mostra que existem espaços subutilizados que poderiam ser revitalizados e ocupados por pessoas sem moradia.
“Na França, em locais que estão caros e não conseguem locar, o governo ajuda a estipular um valor justo para locação e dar condições para o proprietário do imóvel e para quem loca. No nosso caso, se o local está em uma boa estrutura, seria interessante essas pessoas reformarem esses locais e darem um uso. São possíveis soluções".
Mais caros - De acordo com o presidente do Secovi (Sindicato da Habitação de Mato Grosso do Sul), Geraldo Barbosa de Paiva, aponta que um dos fatores que pode influenciar o crescimento de domicílios não ocupados é o aumento dos juros na compra de propriedades.
“O preço dos imóveis residenciais em Campo Grande está alto, provavelmente devido às altas taxas de juros de mercado, o que assusta um pouco a população que costumava depender muito de financiamentos imobiliários”, aponta Geraldo.
O presidente do Creci-MS (Conselho Regional de Corretores de Imóveis da 14ª Região/MS), Eli Rodrigues, também destaca que o aumento dos custos de aluguéis também forçaram os proprietários a optar por uma habitação. "Tem casos em que a pessoa aluga dois imóveis e optou por um único. Com o aumento do custo, ele alugou um maior e transformou uma dele em escritório e outra parte era moradia. Esses dados podem ser um reflexo dessa dinâmica".
Essa dinâmica também tem se aplicado às edificações comerciais, que também foram impactadas durante a pandemia. “Desde o final de 2020, observamos também uma redução no número de imóveis destinados a serviços e comércio, o que teve um impacto significativo. Vários estabelecimentos comerciais mudaram para locais mais baratos, com custos menores, como IPTU e aluguel”, explica Geraldo.