Na favela, chegada de chuva e frio é sinônimo de dias ainda mais difíceis
Chuva da madrugada não causou estragos, mas frio previsto já deixa moradores da Cidade de Deus em alerta
O tempinho chuvoso e a queda na temperatura, esperado e comemorado por quem gosta do clima de inverno, é preocupante para quem mora na Cidade de Deus, favela localizada na região do Bairro Dom Antônio Barbosa, região sul de Campo Grande. Para "driblar" o frio, cada família se vira como pode.
Depois da noite e madrugada chuvosa, que trouxe junto a queda na temperatura, o cenário encontrado na manhã desta quinta-feira (20) na Cidade de Deus foi de lama para todo o lado, mas sem estragos. A preocupação, agora, é com o frio "recorde" previsto para os próximos dias, com mínimas podendo ficar abaixo dos 5°C na Capital.
Alexandre Cândido Rosa tem 46 anos, é autônomo e vive na favela há quatro anos com a esposa e os dois filhos, de cinco e seis anos, num barraco com um quarto, cozinha e banheiro. O último cômodo fica do lado de fora.
No único quarto da casa dormem todos os moradores. Nos dias mais gelados, a família toda na mesma cama. "No frio, dormimos com os pequenos. Usamos cobertas que ganhamos, mas não são muitas. Isso dá uma amenizada", contou Alexandre.
Outra "técnica" usada pelo autônomo é colocar panos nas frestas das telhas e entre as tábuas do barraco, na tentativa de barrar a entrada do vento. "Aqui é muito frio e as crianças não têm muitos agasalhos", disse.
No barraco da dona de casa Jéssica Arce, 25 anos, a única renda é do marido, que trabalha na coleta de lixo e recebe, mensalmente, um salário mínimo. Sem muitos cobertores e agasalhos, a solução nos dias frios também é dormir todos juntos: mãe, pai e as duas filhas, uma bebê de 1 ano e 8 meses e uma menina de 8 anos.
"Eu tenho medo mesmo é da chuva, porque parece que vai levar o barraco. Ontem, não destruiu nada, mas a enchente veio forte e tivemos que colocar tábuas na porta", explicou.
Mesmo diante das dificuldades, Jéssica não perde a esperança de ter uma moradia melhor. "Não vejo a hora de fazerem as casas que ficaram de construir pra gente. Com esse tempo, uma de tijolo seria melhor", disse.
A catadora de reciclagem Maria Aparecida dos Santos Silva, 60 anos, mora num barraco com um quarto, sala, cozinha e banheiro. Ela contou que toda vez que o clima muda, a preocupação é com que pode vir pela frente.
"Aqui é como você está vendo, tudo é imprevisível. Falta agasalho, coberta, mas temos que nos conformar", disse. Com o marido e o filho, a catadora divide um cobertor grosso e três mantinhas nos dias frios.
Sem poder trabalhar por pertencer ao grupo de risco da covid-19, Maria Aparecida gasta quase todo o auxílio emergencial que recebe do governo comprando remédios. "Alguns consigo pegar no posto de saúde. Outros, tiro comida da mesa para comprar porque não posso ficar sem", desabafou.
Friaca - Para amanhã (21), a previsão do Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia) é de mínima de 9°C em Campo Grande. No sábado (22), cai para 5°C.
Segundo a meteorologia, podem ocorrer geadas em vários municípios de Mato Grosso do Sul. De sexta, para sábado, a mínima em Amambai, na região sul do Estado, pode chegar a -1°C.