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Nutricionista vai pagar R$ 35 mil para retirar preenchedor sintético dos lábios

Cliente pagou R$ 500 em enganosa aplicação de ácido hialurônico

Por Lucia Morel | 28/03/2024 18:20
Boca de Lorena está frequentemente inflamada. (Foto: Arquivo pessoal)
Boca de Lorena está frequentemente inflamada. (Foto: Arquivo pessoal)

Para se livrar de inflamações recorrentes nos lábios depois de receber aplicação, de forma enganosa, de PMMA (polimetilmetacrilato), a nutricionista Lorena Pereira de Sena, 30 anos, recorreu à polícia e vai acionar a Justiça contra esteticista que vendeu o procedimento prometendo aplicar ácido hialurônico. Ela terá que pagar R$ 35 mil em cirurgia para se livrar do produto sintético que pode necrosar sua pele. Em promoção, ela pagou R$ 500,00 na intervenção.

Lorena conta que em 30 de novembro do ano passado foi até a casa da esteticista, por volta das 10h, onde passou pela aplicação. Ela lembra que o produto a ser aplicado era sempre buscado em seringas em outro cômodo da casa e assim que sentiu a primeira “agulhada” já sentiu o lábio inchar e pediu para que a esteticista parasse de aplicar o produto.

Ela tirou uma foto do inchaço e continuou a aplicação depois que a profissional disse que “era assim mesmo” e que estaria tudo bem. Acostumada a fazer aplicação de ácido hialurônico, mas com outra pessoa que se mudou da Capital, Lorena disse que estranhou o inchaço, mas que a esteticista a tranquilizava e ela terminou as aplicações que foram, além de nos lábios, também no nariz, no queixo e no chamado bigode chinês.

No outro dia foi piorando, o lábio ficando roxo e entrei em contato direto com ela (esteticista) e ela dando respaldo, dizendo pra tomar remédio tal, que era assim mesmo e por fim falou pra eu fazer hialuronidase, para dissolver o ácido hialurônico. Fui em outra profissional para fazer isso, e ela usou três vidros e nada de desinchar. Foi ela que disse pra mim que isso estava estranho, porque geralmente um vidro só resolve. Aí, acendi o alerta”, contou a nutricionista.

Entre a primeira sessão de hialuronidase e a última, foram uns dois meses e no começo de fevereiro ela passou por exame, a pedido de dermatologista, para identificar o produto que havia sido aplicado sob sua pele. O laudo indicou algum tipo de preenchedor sintético, que pode ser o PMMA, mas não ácido hialurônico.

Em 26 de fevereiro, ela registrou o boletim de ocorrência contra a esteticista, que a atendeu em casa na Vila Margarida, mas hoje estaria realizando atendimentos em outra moradia, na Vila Jacy. Lorena descobriu outra vítima da mesma profissional e juntas vão abrir ação. A outra mulher fez aplicação de ácido hialurônico nos glúteos e o caso é ainda mais grave, porque houve necrose.

Segundo Lorena, como o corpo não absorve o PMMA, ele se torna uma cápsula de plástico no local aplicado e só pode ser retirado com cirurgia. Em consultas com médicos de Campo Grande e de São Paulo (SP), ela soube que sua pele ficará deformada, mas prefere correr o risco e manter na pele produto que pode necrosá-la. Ela acredita que ainda não teve maiores problemas devido à quantidade de anti-inflamatórios e antibióticos que tomou nos últimos meses.

Laudo de exame indicando não ser ácido hialurônico o preenchimento no rosto de Lorena. (Foto: Arquivo pessoal)
Laudo de exame indicando não ser ácido hialurônico o preenchimento no rosto de Lorena. (Foto: Arquivo pessoal)

“Os médicos disseram que eu corri muito risco com a hialuronidase, de romper a cápsula do PMMA e o produto chegar ao músculo, porque aí sim complica e não tem nem como tirar”, contou. A nutricionista disse ainda que quando fizer a remoção do produto sintético, nunca mais poderá fazer aplicação de ácido hialurônico.

Ela ainda não marcou a cirurgia, mas médico daqui de Campo Grande lhe deu primeiro orçamento ao custo de R$ 35 mil. “Eu paguei R$ 500,00 para aplicar, e para tirar vai ser R$ 35 mil”. Em depressão depois de toda a situação e 10 kg acima do peso devido à ansiedade, Lorena diz que não está trabalhando para poder cuidar da saúde.

Em fevereiro deste ano, a Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes Contra as Relações de Consumo) abriu quatro inquéritos contra clínicas de estética depois de clientes terem sofrido choque anafilático em pacientes que se submeteram a procedimentos no rosto.

Página de esteticista que teria feito aplicação de PMMA mostrando suposto resultado de uso de ácido hialurônico em lábio de cliente. (Foto: Redes sociais)
Página de esteticista que teria feito aplicação de PMMA mostrando suposto resultado de uso de ácido hialurônico em lábio de cliente. (Foto: Redes sociais)

Na ocasião, o delegado Reginaldo Salomão explicou que houve uso de anestésicos nessas pessoas e agora é preciso saber se os profissionais responsáveis estavam habilitados ou não. “O que sabemos é que não foram médicos ou dentistas”, sinalizou.

Na página da esteticista que não terá o nome divulgado, não há menção de aplicação de ácido hialurônico na tabela de preços, mas nas postagens da página sim.

O que é o PMMA? - O PMMA é o polimetilmetacrilato (plástico, acrílico). Segundo sites de saúde nacionais, o produto é uma substância plástica na forma de microesferas que normalmente é indicada para corrigir pequenas deformidades ou a perda da gordura facial em pessoas com HIV, não sendo recomendada para tratamentos estéticos pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.

Quando usada em grandes quantidades ou de forma mais profunda na pele, pode causar complicações graves, como enrijecimento ou até necrose.

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